Chile: a solidariedade antifascista arde em Santiago

imagemAndrés Figueroa Cornejo
Resumen Latinoamericano

Em 15 de novembro, às 19.30 horas, cerca de cinco mil personas se reuniram na Praça Itália, em Santiago do Chile, ponto nevrálgico da capital deste país andino, para protestar tanto contra o vil assassinato do membro da comunidade mapuche Camilo Catrillanca por agentes do Comando Jungla em Ercilla no dia anterior, assim como pelas demandas das comunidades de Quintero-Puchuncaví que sofrem os estragos tóxicos e mortais provocados pelo cordão industrial desta área, que já causou a morte do dirigente dos pescadores Alejandro Castro. As marchas e concentrações se realizaram em várias cidades do Chile e em Wallmapu.

Na capital chilena, muitas horas antes de iniciada a caminhada, o centro da cidade já estava sitiada por numerosos contingentes das Forças Especiais de Carabineiros.  A passeata, da qual participavan jovens, crianças e idosos, mal havia começado quando os carros lançadores de jatos d’água entraram em ação, lançando jorros de líquido com químicos de origem indeterminada e bombas de gá lacrimogêneo antimotins. A debandada de gente foi imediata. Tal qual na ditadura pinochetista, moradores do lugar abriram solidariamente suas portas aos manifestantes intoxicados e feridos. Crianças pequenas tiveram de receber atendimento com respiração boca a boca, enquanto os adultos levantavam suas mãos implorando que se detivesse a repressão, que não foi interrompida.

Dia de ira antifascista

Boa parte da manifestação, originalmente pacífica, teve de correr pelo Parque Baquedano, até o sul, sendo perseguida por carros blindados e verdadeiras tropas das Forças Especiais. Os ativistas ambientalistas e pró resistência mapuche, diante das prisões indiscriminadas e a artilharia policial a queima roupa de bombas lacrimogêneas antimotins, recorreram à autodefesa histórica que se empregou durante os protestos dos tempos da ditadura.

Desta forma, de maneira praticamente espontânea, se improvisaram barricadas em vários pontos do setor, interrompendo o trânsito de veículos, inclusive na Alameda, avenida principal do Chile. A consciência antifascista e popular, encoberta por tanto tempo, explodiu com a raiva dos manifestantes não apenas por causa dos crimes em Wallmapu e nas zonas sacrificadas, mas também pela soma de sofrimentos provenientes dos direitos sociais básicos inexistentes sob o regime capitalista de vanguarda chileno. A luta eclode contra a privatização de tudo; contra a criminalização dos estudantes mediante a recente aprovação do projeto “Aula Segura”; contra os salários e pensões de fome que geram dívida doméstica; contra a desigualdade social vertiginosa, o desemprego e o trabalho informal.

Em um dos momentos de auge do protesto, agentes de carabineiros desceram do furgão policial que conduziam e abandonaram o carro com suas armas de serviço apontando para o céu nublado pelos gases tóxicos. Imediatamente depois de sua fuga, o furgão foi queimado pelos manifestantes.

A jornada marcou uma inflexão nas formas de enfrentar as mortes e ataques contra os Direitos Humanos e Sociais provocadas pelas forças coercitivas do Estado capitalista. Pelo menos uma minoria ativa já se cansou de somente “contabilizar os mortos” na luta social.

O medo se quebra e retorna a legítima autodefesa popular.

Até o fim da presente nota, se contavam 36 pessoas feridas, mas se desconhecia o número de gente presa pela polícia.

Nação Mapuche: mais repressão policial no funeral do weichafe assassinado

 

Ocorreram incidentes após a passagem do cortejo fúnebre de Camilo Catrillanca

O funeral do comunero assassinado pelos carabineiros na quarta-feira, dia 15/11, em Ercilla, ocorrerá no fim de semana, após os dois dias de velório que contempla a tradição mapuche.

Com forte esquema policial, o corpo do comunero mapuche Camilo Catrillanca é transferido na manhã desta quinta-feira até a comunidade de Ercilla, onde na tarde da véspera faleceu em resultado de um tiro em sua cabeça em meio a uma operação do “Comando Jungla”.

Um novo ataque incendiário na zona do conflito mapuche ocorreu na manhã da quinta-feira, poucas horas depois da morte do comunero Camilo Catrillanca em Ercilla. Além disso, durante a passagem do cortejo fúnebre, foram registrados incidentes com Carabineiros.

Enquanto o cortejo fúnebre com os restos de Catrillanca circulava pela rota entre Collico e Ercilla, ocorreram incidentes entre encapuzados e efetivos das Forças Especiais dos Carabineiros, que custodiavam a casa de um carabineiro da zona.

De acordo com informações preliminares, sujeitos que participavam do cortejo fúnebre começaram a atirar pedras na casa e nos funcionários policiais, ao que estes responderam disparando balas de borracha. Até o momento, não foram informados sobre lesionados.

Os restos de Camilo Catrillanca foram entregues a seus familiares depois da autopsia efetuada na Serviço Médico Legal de Angol.

 

 

Comunero mapuche Catrillanca: Recebeu o impacto por trás, o que não acontece em um fogo cruzado

O advogado especialista em casos de Direitos Humanos, José Aylwin, analisou em La Prueba de ADN [A Prova de DNA] a morte do comunero Camilo Catrillanca por parte do Comando Jungla de Carabineiros nesta quarta-feira, assinalando que “é preciso repensar a política do Estado para o povo mapuche”.

Segundo o conselheiro do Instituto Nacional de Direitos Humanos, o dirigente mapuche “estava na comunidade. Conduzia um trator com um menor de idade. Ao ver-se interceptado pelo Comando Jungla retrocedeu, e ao retroceder recebeu o impacto de um projétil em sua cabeça, por trás, o que não acontece em um fogo cruzado”

O diretor do Observatorio Ciudadano [Observatório Cidadão] comentou que “o governo tem que reconhecer que esta dualidade do garrote e a cenoura não funciona”, explicando que “o que ocorreu demonstra que a contradição é muito evidente, que não se pode apostar na força e também no diálogo. O Comando Jungla é um comando de guerra” apontando que foi “uma decisão política do Presidente Piñera”.

Do mesmo modo, Aylwin afirma que “o responsável último das forças da ordem e segurança é o ministro do Interior, e caso seja corroborada a versão da família, existe uma responsabilidade política”.

 

Quem era Camilo Catrillanca

O Weichafe Camilo Catrillanca tinha uma filha de 6 anos e sua esposa está grávida. Encontrava-se construindo sua casa e, quando voltava em um trator, deparou-se de frente com o Comando Jungla, que disparou-lhe pelas costas, sem mediar provocação alguma. Aos 15 anos, liderava juntos a outros peñis e Lagmienes as mobilizações mapuche pela recuperação dos direitos e autonomia. Em 2011, estes adolescentes ocuparam a Municipalidade de Ercilla e a organização Anide Pichiqueche deixou registrado o testemunho de Camilo, que foi publicado na Revista NATs:

“Camilo Catrillanca (15 anos), porta-voz da tomada da Municipalidade de Ercilla, denunciou o racismo e a discriminação que afeta os e as adolescentes nos estabelecimentos educacionais, o controle policial que lhes impede de mover-se livremente em suas comunidades e a impossibilidade de apelar a um Estado que os reprime”, diz a revista.

“Na comunidade de Temucuicui, a qual pertenço, estamos tendo muitas invasões, já não somos livres, já não podemos caminhar nos cerros e cuidar de nossos animais, a repressão é muito forte. O Estado é o principal repressor, é quem manda os carabineiros para assassinar, porque estamos expostos, estão nos atirando balas a queima-roupa”. (Anide Pichikeche, 2011)

Neto do histórico lonco Juan Catrillanca e filho do presidente da comunidade mapuche “Ignacio Queipul Millanao”, Marcelo Catrillanca, Camilo Catrillanca, o jovem de 24 anos que faleceu nesta quarta-feira ao receber uma bala na cabeça, registra uma serie de participações como ativista da causa mapuche em sua zona.

A mais relevante foi a tomada da municipalidade de Ercilla, em agosto de 2011, no marco do movimento estudantil que se deu nesse ano. Segundo consta no informe sobre esse ano da Comissão Ética contra a Tortura, dita mobilização foi protagonizada por 30 jovens mapuche e se estendeu por duas semanas.

O mesmo informe apresentou que Catrillanca destacava em suas intervenções que o movimento apoiava as demandas de educação gratuita e de qualidade, porém também apresentava a necessidade de uma educação intercultural e pedia o fim da “violência policial” na zona”. (Com informação de Karima Donoso)

 

Conselho de Todas as Terras repudia morte de comunero em operação do “Comando Jungla”

O Conselho de Todas as Terras repudiou a ação da polícia.

Depois de ter ciência da morte de Camilo Catrillanca, o Conselho de Todas as Terras qualificou a ação do “Comando Jungla” de Carabineiros como “covarde”.

Através de uma declaração, o Conselho explicou que Catrillanca, neto do lonco Juan Catrillanca “se deslocava do lugar onde construía sua casa com destino a seu domicílio e foi interceptado e executado por carabineiro em plena via pública”.

O comunicado, assinado por Aucán Huilcaman, chama a solidariedade com a família do comunero, e a desenvolver “um processo de luta decidida frente a todas as novas formas de opressão, repressão, colonialismo e domesticação que propicia o Estado chileno”.

 

Santiago amanheceu com barricada em diferentes pontos por Catrillanca e Quintero

Em paralelo, se registraram barricadas na cidade de Viña del Mar, na Região de Valparaíso.

Nesta quinta-feira pela manhã, depois das 6:00 horas, a cidade de Santiao despertou com a presença de barricadas em diferentes setores da capital.

Um dos focos se registrou na interseção da avenida Departamental com Club Hípico, em Pedro Aguirre Cerda.

De acordo com informações preliminares, um número indeterminado de sujeitos incendiou as barricadas, impedindo o trânsito em direção ao poente. Foi apagada pelo pessoal dos Carabineiros.

No setor foram encontrados panfletos pertencentes ao Movimento Juvenil Lautaro (MJL) no qual se lê a consigna “27 de novembro. Protesto popular contra os ricos e suas migalhas”.

Também foram armadas barricadas nos arredores do Estádio da Universidade de Santiago do Chile (USACh), na interseção de Padre Hurtado com El Belloto, pela calçada de General Velásquez, na comuna da Estação Central.

Os sujeitos jogaram panfletos alusivos ao capitalismo e à devastação da Terra, com relação às denominadas “zonas de sacrifício”, como Quintero, Ventanas e Puchuncaví.

Uma das pistas afetadas é a dos ônibus Transantiago enquanto se retiravam os pneus destruídos na rua.

Voluntários dos Bombeiros e pessoal dos Carabineiros trabalharam para apagar as barricadas registradas no setor da ponte Suiza, na comunda de Cerrillos, chegando a Autopista del Sol a partir da avenida Las Rejas Sur.

No lugar também foram encontrados panfletos “contra a devastação e exploração capitalista”.

Em nenhum dos casos se reportaram detidos.

Em paralelo, se registraram barricadas na cidade de Viña del Mar, na Região de Valparaíso.

Os incidentes se localizaram na Rota Las Palmas, que une a Cidade Jardín com Concón.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2018/11/15/nacion-mapuche-hubo-mas-represion-policial-en-el-funeral-del-weichafe-asesinado/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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