Brasil é cúmplice das ações criminosas de Israel contra palestinos
A visita de Bolsonaro a Israel mudou os rumos da política externa brasileira das últimas décadas. Mesmo recuando da intenção anunciada de transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém, substituindo-a pela instalação de um escritório de negócios naquela cidade, Bolsonaro não superou o mal-estar que o anúncio anterior havia gerado. O fato foi ainda agravado pela postagem de Flávio Bolsonaro, em uma rede social, que, ao responder a uma crítica feita pelo movimento Hamas à visita do presidente brasileiro, escreveu que queria que eles “se explodissem”, num gesto grosseiro e preconceituoso, inadequado do ponto de vista das relações internacionais e revelador da atual postura do governo, na contramão da tradição diplomática do Brasil.
Vale lembrar que Tel-Aviv fica a uma hora de carro de Jerusalém e que a política externa brasileira vinha se caracterizando ao longo de décadas pela predominância do pragmatismo. Muitos exemplos podem ser citados, desde o rompimento dos acordos de cooperação militar com os Estados Unidos e o reconhecimento do governo do MPLA -Movimento pela Libertação de Angola, de orientação marxista -, nos anos 1970, em plena vigência da ditadura empresarial-militar, os repetidos votos na ONU em favor da causa palestina, como na condenação da ocupação militar israelense na Cisjordânia e outras áreas da região e aos ataques aos moradores da faixa de Gaza e outros temas, que repudiavam Israel por crimes contra a humanidade e ao povo palestino, política esta mantida ao longo dos governos do PSDB nos anos 1990 e do PT, nos anos 2000.
Ao recente voto brasileiro contra a causa palestina na ONU e à outorga da medalha Cruzeiro do Sul ao Primeiro Ministro israelense Benjamim Netanyahu, somaram-se os gestos de Bolsonaro na visita a Israel, que geraram mal-estar no campo diplomático e contribuíram para aumentar o desgaste de sua imagem, de seu governo e do país no exterior e também em parte de suas próprias bases de apoio interno.
Como consequência, a Autoridade Palestina chamou de volta seu embaixador em Brasília “para consultas” e propôs que seja criado, também, um escritório de negócios na parte oriental de Jerusalém, controlada pela organização palestina. Entre os exportadores brasileiros – são 21 bilhões de dólares de comércio do Brasil com os países árabes contra 400 milhões com Israel – a visita provocou reações críticas e preocupações com possíveis retaliações comerciais por parte dos árabes. Todos os setores democráticos da sociedade brasileira repudiaram as ações e pronunciamentos proferidos na visita.
Estes eventos apontam para uma associação do governo brasileiro com a política sionista e belicista de Israel, em consonância com a postura subserviente de Bolsonaro ao governo dos EUA e seu presidente, ao imperialismo norte-americano e israelense, à política anti-classe trabalhadora dos EUA e de Israel, postura sem precedentes na história republicana brasileira. Via Bolsonaro, o Brasil assume a condição de cúmplice das ações criminosas de Israel contra os palestinos.
O momento exige a unidade de ação de todos os segmentos democráticos da sociedade brasileira, de todos os que defendem e lutam pelo direito dos povos à autodeterminação, à paz, à justiça e ao pleno desenvolvimento social, contra a política subserviente ao imperialismo e de repúdio à postura belicista do governo Bolsonaro nas relações internacionais.
Ilustração: Visita de Bolsonaro a Israel ignorou os palestinos e aumentou o desgaste do governo brasileiro