O sinistro lobby sionista
Outras Palavras
por Berenice Bento e Sayid Marcos Tenório
Cancelamento da comemoração do “Dia Mundial de Jerusalém” na Câmara dos Deputados, revela: forma-se uma perigosa “bancada do quipá” em defesa de intolerantes grupos pró-Israel. Uma ameaça aos interesses nacionais?
Sábado, 08 de junho. Uma nota no jornal O Globo avisa que o Presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia, decidiu, unilateralmente, cancelar a Sessão Solene para homenagear a cidade de Jerusalém (Al Quds, em árabe), que se realizaria na quarta-feira, dia 12 de junho. É a primeira vez que isso acontece na história da Câmara. O que é o Dia Mundial de Jerusalém?
O Dia Mundial de Al-Quds foi instituído, em 1979, pelo líder político e espiritual da revolução patriótica, popular e islâmica do Irã, o Ayatollah Khomeini, como uma data para que a Ummah (Nação) islâmica mundial demonstre que as violações contra o povo palestino e à cidade de Jerusalém – sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos – é uma questão internacional, de soberania e de direitos humanos. O dia de Jerusalém não é um dia exclusivamente voltado para a causa palestina, mas, sim, um dia simbólico em que todo oprimido enfrenta seu opressor. Ele considerava que a ocupação, o desrespeito e as violações à Jerusalém Histórica equivaleriam ao desrespeito à diversidade e à tolerância religiosa em todo o mundo.
É também o dia para denunciar perante o mundo que o ocupante israelense não cumpre as resoluções que os obriga a respeitar o Direito Internacional. Desde a infame Resolução nº 181, de 1947, que dividiu a Palestina em dois Estados, Israel já desrespeitou mais de 35 resoluções das Nações Unidas apenas sobre a questão original de tornar Jerusalém uma cidade internacional. E isso acontece porque, tradicionalmente, os Estados Unidos protegem o Estado criminoso de Israel de decisões condenatórias, já tendo vetado mais de 40 resoluções do Conselho de Segurança da ONU críticas às políticas israelenses, algumas das quais redigidas por seus próprios aliados europeus.
A aprovação da Sessão Solene seguiu todos os ritos previstos no Regimento Interno da Câmara. O deputado Evandro Roman (PSD-PR) protocolou o requerimento solicitando a realização da Sessão que, ato contínuo, foi aprovado pela Presidência da Casa e determinou data para sua realização. Todo o processo de organização do evento foi desencadeado, tendo a Presidência da Câmara enviado convites aos deputados e autoridades baseadas no Distrito Federal. E assim, a apenas quatro dias do evento, o autor do requerimento foi surpreendido com a decisão do Presidente da Câmara em cancelar a Sessão. O argumento? A sessão estava gerando muito discordância.
Discordância de quem e a que respeito? Para bom entendedor meia palavra basta. A pressão veio dos sionistas intolerantes, que agora contam com representantes de prontidão na Câmara dos Deputados: Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores, o PSL do Presidente da República e a bancada de evangélicos pró-sionistas.
As Sessões Solenes não são voltadas para agradar a totalidade da sociedade, ou seja, elas não acontecem em função da existência de um consenso total da importância ou do tema ou personagem que será homenageado/lembrado. Foi o espírito de respeito às diferenças que garantiu que a mesma Sessão Solene acontecesse nos outros anos.
E foi no espírito de respeito à diversidade de opinião que a Câmara realizou a Sessão Solene em homenagem a Israel, um Estado reconhecido por suas práticas genocidas, por ser um Estado colonial e segregacionista e que tem como objetivo eliminar o povo palestino. Por infinitos minutos, tivemos que escutar discursos após discursos cometendo fraude histórica, exaltando políticos conhecidos como criminosos de guerra. A convicção de que a Câmara, naquela manhã, estava sendo usando para fazer propaganda de um regime racista, comparável ao nazismo, não foi motivo suficiente para que defensores dos direitos humanos do povo palestino solicitassem o cancelamento da Sessão.
Estamos vivendo outro momento em nossas lutas, onde o mínimo, como a realização de uma Sessão Solene, torna-se o máximo. No entanto, a solidariedade internacional à luta pela autodeterminação do povo palestino e o reconhecimento de Jerusalém como sua capital não estão condicionadas à esfera formal. Seguiremos denunciando os crimes da base militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, Israel.
Palestina Livre, do Rio ao Mar. Jerusalém, capital da Palestina!
Sionistas, não passarão!