Chile: mulheres comunistas e luta indígena

imagemPartido Comunista do Chile

Uma conversa sobre o feminismo mapuche e sobre o andamento do debate em torno de uma nova Constituição, que vem sendo liderado pelas equipes dos partidos chilenos que assinaram o acordo com o governo. O Programa de Rádio “Mulheres Comunistas – por ti e por todas companheiras”, dirigentes do PC Chileno entrevistaram Patricia Coñoman, assistente social e líder sindical, primeira pessoa encarregada da Secretaria de Mulheres da CUT em 1988, que apresentou uma visão geral da situação atual que afeta as mulheres indígenas no Chile e como elas enfrentam a repressão policial na região, por rejeitar o modelo neoliberal imposto ao País.

Bem sabemos que em La Araucanía vive-se dia a dia a criminalização, repressão e violência com a presença permanente da PDI e dos Carabineros das Forças Especiais, instituições que constantemente reprimem as comunidades mapuches. Por esse motivo, os grupos Mapuche e Huilliches divulgaram uma declaração de apoio às manifestações atuais dos cidadãos: “Damos todo o nosso apoio à luta que está ocorrendo na futxa warria (Santiago) e a todas as pessoas que lutam por sua justa libertação”. Coñoman, que também foi candidata a senadora na região de La Araucanía, valorizou essa afirmação e o uso da bandeira Mapuche (azul, com lua e estrela) presente nas marchas, representando um símbolo de rebelião. Nas mobilizações, as desigualdades que afetam as mulheres mapuches também são expressas, porque “ser mulher, mapuche e trabalhadora é uma tríade maquiavélica”, assinalou a dirigente.

Explicou que no Chile há discriminação cultural no local de trabalho. Por exemplo, aquelas que trabalham como empregadas domésticas, camareiras ou nos serviços de limpeza de empresas, bancos e lojas são mulheres indígenas. Nestes locais ficam invisíveis, assim como nas casas de “topless”, onde sofrem exploração sexual em alguns casos, juntamente com outros grupos étnicos como Aymara e Rapa Nui. As mulheres que conseguiram sair desses ambientes foram para as fábricas, acrescentou. A segregação das mulheres indígenas também está na saúde, causada pelo tipo de trabalho que realizam e também por problemas de adaptação ao local onde moram. Muitas das doenças adquiridas pelas mulheres surgem após a migração do campo para a cidade, onde os espaços são muito menores e superlotados.

No que se refere ao reconhecimento constitucional dos povos originários, ela afirmou que uma nova Constituição deve “levar a sério as pessoas” que estão se mobilizando e lutando para uma Assembleia Constituinte. Ressaltou o fato de que os povos nativos “não votam” porque “eles não acreditam no que se passa”. Nesse sentido, afirmou que os assentos reservados nos parlamentos podem contribuir para uma maior participação da população indígena na política chilena, e é uma aspiração ter assentos reservados e paritários para mulheres indígenas, tanto nas casas do Congresso quanto no espaço constituinte atualmente em discussão. Trata-se de garantir que a visão de mundo mapuche seja representada, porque não é a mesma que o mundo ocidental tem sobre gênero e todas as coisas. Por exemplo, a figura das machis, que são as curandeiras e as que fazem as petições.

Destacou que a visão dos povos ancestrais ajuda a visualizar a mudança de paradigma que surge, em direção a um novo modelo de desenvolvimento e organização do país. Ela nos relatou que está sendo organizados os “trawum”, pequena assembleia onde todos falam e pensam, que são realizadas em conjunto com comunidades de outras comunas. Recentemente, se reuniram nas comunidades de La Reina, El Bosque, entre outras, e prepararam documentos com propostas. Somente na comuna de El Bosque existem 17 mil indígenas e uma das propostas estabelece redes de apoio em casos de emergência de qualquer natureza, compostas por mulheres mapuches. Está sendo construído para ajudar as próprias mulheres e produzir um intercâmbio como uma prática cultural.

O feminismo mapuche

Consultada Coñoman sobre como o movimento feminista se expressa no mundo e na cultura mapuche, ela afirmou que entre as mulheres mapuches há um debate sobre como o feminismo deve ser entendido, porque, para a mulher mapuche, existe uma visão diferente dos corpos, dos elementos da terra e do conceito de bem viver. Ela disse que as mulheres mapuche desejam que sua cultura e sua visão de mundo sejam reconhecidas, e também que não haja abusos e violência por parte dos homens mapuches. Lembrou que, em termos de posse da terra, as mulheres mapuches promovem uma luta importante, porque “não há mulher que não aspire a ter seu lar” e é por isso que agora elas podem ser titulares dos direitos à terra, que costumavam ser apenas dos homens.

Outro tema em que também as demandas não são iguais às das mulheres chilenas, é o aborto. É diferente porque as mulheres mapuches levam em consideração a relação dos corpos com a natureza, com as ervas, e nessa relação de cada mulher com seu corpo não se intromete o restante da comunidade indígena. Deste ângulo, as mulheres mapuches “são muito feministas”, concluiu.

Nova Constituição

A ex-Ministra das Mulheres também se referiu ao “cabo de guerra” que está ocorrendo entre os partidos que assinaram o Acordo de Paz e o projeto de uma Nova Constituição. Assinalou que “custa dar corpo ao acordo”, basicamente porque eles se recusam a atender as demandas das pessoas que se manifestaram livremente nas ruas durante esse período. Nos temas sobre a paridade, assentos reservados para os povos indígenas, forma de eleição desses assentos, os requisitos, entre outros, não concordam e são “pegos de surpresa”, enquanto o povo do Chile segue desacreditado desta política. Criticou que este acordo tenha sido “assinado muito rapidamente” e, portanto, é débil por causa de muitas omissões. No entanto, ela reiterou a necessidade de estar presente nesta discussão para conquistar os pontos que interessam aos cidadãos.

Ouça o programa em: https://youtu.be/rt9IKs8zCBA

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte: http://pcchile.cl/2019/12/09/mujeres-comunistas-capitulo-11-como-aportan-las-mujeres-indigenas-al-feminismo/

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