Governo socorre os capitalistas

imagemEline Luz – Militante do PCB da Bahia

Diante da crise do coronavírus, o governo Bolsonaro tem apresentado uma série de medidas que demonstram mais preocupação com os empresários do país do que com a superação da epidemia.

A saúde pública, desde 2017, enfrenta perdas com a aprovação da Emenda Constitucional do Teto de Gastos (EC 95), que congela os investimentos nos serviços públicos. Apenas no ano passado R$ 9 bilhões deixaram de ser recebidos pela saúde.

Em contrapartida, no dia 23 de março, o Banco Central anunciou a liberação de R$ 68 bilhões para os bancos, em depósitos compulsórios, além dos R$ 135 bilhões já liberados em fevereiro.

Quem realmente o governo Bolsonaro quer salvar?

Ainda que seja injustificável a priorização dos investimentos nos bancos, enquanto vidas são perdidas, é preciso distinguir o papel dos bancos privados e públicos neste momento.

Bancos como a Caixa Econômica, Banco do Nordeste e Banco de Desenvolvimento Social (BNDES) ainda são públicos, apesar dos esforços dos últimos governos em abrir o capital para o setor privado. Desenvolvem atividades financeiras no país e o lucro produzido ainda possui algum compromisso com o desenvolvimento social, atendendo demandas de investimentos em habitação popular, saneamento básico, crédito para pequeno agricultores, eletrificação rural e infraestrutura. Serviços estes que os bancos privados não se comprometem em assumir, pois seu objetivo principal é sempre obter o máximo de lucro possível.

Em um momento como o que vivemos, os bancos públicos se tornam fundamentais para auxiliar a classe trabalhadora a enfrentar a recessão com a disponibilização de crédito, flexibilização de financiamentos e dívidas.

Os abutres dos bancos privados, com sede de lucro que independe da conjuntura, buscam de todas as formas retirar ainda mais da carne da classe trabalhadora e aumentar o endividamento no país. Mesmo os investimentos públicos neles empregados são revertidos aos clientes em elevação dos juros, ampliação das dívidas e restrição do acesso ao crédito.

Representantes de entidades do setor privado, altos executivos de grandes empresas, proprietários de médios e pequenos negócios contaram à Folha, muitos na condição de não terem o nome revelado, que os maiores bancos elevaram os juros em todas as operações.

Capital de giro, antecipação de recebíveis e até de empréstimo de longo prazo, que já estavam em negociação havia tempos e prestes a serem liberados, tiveram as taxas de juros elevadas de uma semana para outra. Há casos em que as taxas dobraram e até triplicaram.

Para o Governo, vale mais a vida dos empresários.

Mais um pacote de crédito para os patrões foi anunciado no dia 27 de março pelo Banco Central. A medida irá atender aos empresários que arrecadam entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano e custará aos cofres públicos R$ 115 bilhões. Não bastasse o alto valor empregado, o projeto permite o achatamento das remunerações dos trabalhadores das empresas participantes, impondo o limite salarial de R$ 2.090.

A decisão do governo se ancora no desespero do patronato, que deseja retornar com as atividades comerciais, ainda que isso signifique o agravamento dos casos de coronavírus e submeta mais brasileiras e brasileiros ao risco de vida.

No pacote do Governo de Bolsonaro, Mourão e Guedes, não há nenhuma medida que obrigue ou ao menos estimule o empregador a complementar o salário de quem ganha mais do que 2 salários mínimos; não alcança as microempresas, que são as mais atingidas pela queda da atividade econômica. O governo anunciou que haverá medidas para elas, mas não disse quando nem como.

Tudo isso demonstra que a política de gestão de crise do governo Bolsonaro não abre mão de encher o bolso dos capitalistas mesmo à custa das vidas de trabalhadoras e trabalhadores.

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