A pandemia não afeta a todos igualmente
O jornal Camino Socialista, do Partido Guatemalteco do Trabalho, traz interessante reflexão sobre a situação do país diante da pandemia, em matéria assinada por Miguel Soto.
A pandemia de COVID-19 também chegou à Guatemala. Segundo dados oficiais, ainda existe relativamente pouca gente infectada e poucas mortes. Há quem diga que esses números não mostram a verdadeira face do problema, que há muita subnotificação. Isto é provável. Sabemos que o sistema público de saúde nacional, pobre ao longo da história, com as políticas neoliberais implementadas pelos últimos governos desde a chegada desta caricatura chamada “democracia”, foi saqueado, reduzido em cobertura e deteriorado em sua qualidade. Hoje, serviços essenciais para a população, como saúde e educação, estão totalmente dizimados.
Se a epidemia for desencadeada de forma alarmante, além das declarações demagógicas do governo pela boca do presidente Alejandro Giammattei, carregadas de invocações religiosas que de forma alguma impedirão a pandemia, a realidade pode ser muito dura. Sabemos que a Guatemala, com um dos piores índices socioeconômicos da América Latina, tem uma população desnutrida e com excesso de peso que consome alimentos de baixa qualidade e ameaça suas vidas, com doenças crônicas como diabetes, câncer, problemas cardíacos, com pouco acesso à água potável, com sérios déficits habitacionais, com muito pouca escolaridade em seu território. O capitalismo é imundo.
Na Guatemala, aproveitando a crise – da qual realmente não sabemos sua magnitude exata, porque não há meios de monitorá-la com base em informações confiáveis – a comunidade empresarial promoveu um projeto de lei, posteriormente apresentado por partidos e vice-presidentes, estar livre de pagar impostos por 100 anos. A oportuna mobilização popular a impediu, mas isso mostra o que é capaz de fazer essa cobra venenosa do capital: a CACIF (Comitê Coordenador das Associações Agrícolas, Comerciais, Industriais e Financeiras) e sua casta política corrupta e desprezível.
A pandemia vai passar, mas deixará mortos e grandes perdas econômicas para a grande maioria popular. Isso abre a oportunidade de tornar a luta pela mudança do sistema ainda mais intensa. O capitalismo não pode oferecer saídas. Cuba, com sua atitude de apoio ao medicamento Interferon Alfa 2b, e a China, com seu estado bem organizado, ambas experiências socialistas, mostram outro caminho. A luta continua, e a atual crise nos mostra que com esse sistema não há saída. Somente o socialismo continua sendo a alternativa para os povos, para as classes trabalhadoras.
Se a doença se espalhar como aconteceu em outros países, a situação da saúde pode se tornar extremamente complicada, com um grande número de mortes, uma vez que o Estado possui poucos hospitais, médicos, equipamentos, suprimentos e medicamentos, enquanto o governo não os administra, conforme necessário no momento. No momento, pelo menos de acordo com os números dados pelas autoridades, a situação devido à pandemia ainda é administrável. No entanto, os níveis alarmantes esperados serão terrivelmente graves para a grande maioria dos guatemaltecos. Essas consequências serão vistas, basicamente, na situação econômica. O país tem 60% da população abaixo dos níveis de pobreza, o que certamente aumentará. Os salários, já muito baixos (que mal cobrem um terço da cesta básica vital), serão perdidos aos milhares. Muitas empresas já estão entrando em recessão e, como sempre, quem pagará o preço será a classe trabalhadora, a grande massa de populações urbanas e rurais empobrecidas.
O governo se manifestou, supostamente preocupado com a “saúde” do povo guatemalteco, mas as medidas, preparadas apressadamente e em segredo, são apenas remendos para evitar problemas, e quem mais se beneficiou foi o Pacto Corrompido, que continua a fazer seus negócios nojentos. As grandes maiorias populares, como sempre, receberão uma escassa ajuda de emergência, enquanto os grandes capitais privados se beneficiarão de isenções fiscais e apoio de crédito para sua reativação. Além da crise da saúde – esperando que seja o mais leve possível – o pior será a crise do desemprego, falta de renda e más condições de trabalho que aumentarão ainda mais. Na realidade, isso mostra claramente o que é o sistema capitalista: o que menos importa é o ser humano concreto. Somente interessam o lucro corporativo, o dinheiro e os ganhos dos capitalistas.