Uma reflexão sobre os 90 anos do PCB

Os 90 anos do PCB, além das celebrações pelo extenso caminho marcado ao longo dos anos, me obrigam a pensar e realizar uma longa reflexão política sobre a manutenção da original proposta de querer construir a revolução socialista no Brasil e no mundo. Palavras que tem uma profunda visão estratégica e uma lógica ideológica em um momento em que os fatores objetivos que compõem a atual conjuntura política empurram os partidos do dito centro esquerda e também da esquerda para um “combate” dentro dos limites fixados pelo próprio liberalismo. Isto é, para certa esquerda se deve lutar, apenas para tornar o capital mais eficiente, mais moderno, mais produtivo. Enfim alguém inventou a mentira de quer um “capitalismo democratizado!!!”

A verdade é que a luta de classe, a luta contra a exploração capitalista e, sobretudo a luta contra a perversão da financerização que hoje está destruindo, inclusive, sociedades de capitalismo avançado como a Itália, Espanha, desapareceram do glossário político dos novos partidos “democráticos” que, hoje, são o verdadeiro trunfo do capitalismo, uma vez que eles que gerenciam o controle social garantindo, assim, ao capital uma tranqüila reprodução apesar da mesma ter conseqüências cada vez mais críticas e problemáticas.

Por isso saudar os 90 anos do PCB significa saudar a resistência política e ideológica às tendências destruidoras dos Freires da vida que, na passada década de noventa, tentaram seqüestrar a trajetória política do partido e do movimento popular para serem os modernos “técnicos em paz social” e assim negociar com os estrategistas do capital sua entrada nas salas do poder, seja ele municipal, estadual ou até federal. Uma experiência nociva para os lutadores sociais, porém altamente referenciada para a manutenção de aparelhos partidários que, nos últimos dez nos, fez reverenciar o PCdoB diante de multinacionais e empreiteiras tornando-se o “menino simpático na Avenida Paulista”.

De fato, ser “simpático” à Coca Cola, à FIAT ou a Eike Batista, não é um produto original brasileiro, mas é sim um subproduto dos centros de inteligência estadunidenses e europeus que criaram uma nova concepção ideológica, fácil a ser introduzida lá onde multinacionais e conglomerados financeiros sofrem com o avanço da luta de classe e com a formação de um movimento popular organizado e, sobretudo, anticapitalista e antiimperialista.

Na Itália, por exemplo, os últimos teóricos do “compromisso histórico”, hoje sentam, quietos e servis, nos bancos do governo Monti ao lado dos homens do PDL de Berlusconi e da UCD de Casini. De fato, depois de 35 anos de longas atividades para desmantelar a esquerda, desqualificar no movimento sindical todas as componentes da luta de classe e isolar os intelectuais orgânicos, eles, finalmente são “simpáticos” ao poder. E para demonstrar isso, os teóricos do PD (Partido Democrático) não pensaram duas vezes em declarar publicamente que seus dirigentes não estariam na manifestação contra o governo Monti, organizada pela Federação dos Metalúrgicos (FIOM) em Roma no dia 09 de Março.

O Partido Comunista Brasileiro deve orgulhar-se por ter sabido enfrentar e combater as diferentes tendências que queriam romper com a lógica e a práxis revolucionária do marxismo e do leninismo. Porém deve, também, orgulhar-se por ter sabido adaptar esse combate histórico à lógica da luta dos nossos dias contra o ditame do liberalismo e as práticas de seus serventes social-neoliberais.

Para os lutadores sociais e sobretudo para os comunistas, esta é uma década de resistência no momento em que o processo de desagregação do capitalismo está triplicando seus efeitos, definindo os parâmetros de um processo de lenta autodestruição que, sobretudo na velha Europa, mobiliza as gerações de jovens que estão adquirindo uma nova consciência política, do momento que o sistema já não identifica mais os jovens como exército de reserva do mercado de trabalho porque já não há mais trabalho e o dito mercado está completamente saturado. É portanto neste contexto de crise sócio-econômica que ressurge e se desenvolve a lógica revolucionária dos comunistas.

Parabéns ao PCB pelo seus 90 anos de luta. Parabéns pela firme consolidação dos ideais de luta pelo socialismo. Parabéns por ter mantido vivo e organizado um partido comunista que é comunista em todos os sentidos.

Achille Lollo é correspondente de Brasil de Fato em Roma e editor TV do programa Quadrante Informativo.

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