Seminário debate os 90 anos de PCB

A terça-feira dia 20 será sempre inesquecível para a luta do proletariado: iniciou-se a comemoração dos 90 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), numa série de eventos que marcam a reconstrução revolucionária do PCB na luta antiimperialista e anti-capitalista.

A programação completa das comemorações pode ser acessada AQUI. A primeira apresentação ocorreu na tarde desta terça-feira (20), com as palestras dos professores Marly Vianna e Milton Pinheiro: “1922-1945: Dos Anos de Formação às Lutas Contra o Estado Novo”. A palestra começou às 14h sob coordenação de José Renato, integrante do Comitê Central do PCB. O primeiro palestrante foi Milton Pinheiro, professor da Universidade Federal da Bahia e também membro do CC do PCB.

Ele abordou o período de criação do Partido Comunista Brasileiro lembrando que “O PCB surge da necessidade histórica dos trabalhadores, de acordo com os ventos da revolta Bolchevique. De informações que vieram mesmo com a censura”. Destacou o surgimento da Internacional Comunista  em 1919, para reforçar a luta dos trabalhadores, ainda nesse mesmo processo histórico. Segundo ele, o PCB também é produto da crise dos lutadores da década de 10, anarquistas e anarco-sindicalistas, que lutavam pelos direitos dos trabalhadores .

Destacou o conjunto de lutas da classe operária, em torno de 500 mil trabalhadores, nas greves de 1917 e 18. Lembrou que em 1909 se criou a COB, à  frente de diversas greves em Alagoas, Bahia e Pernambuco, entre outros estados.

Ao contar a história da fundação do Partido Comunista Brasileiro, disse que eram nove camaradas representando 73 comunistas de todo o país, que se reuniram 25 e 26 no Rio e dia 27 em Niterói. A pauta da reunião era o exame para entrar na Internacional  Comunista (IC), o II congresso da IC, aprovação dos estatutos, cópia do Partido Comunista Argentino e a eleição da primeira direção do partido.

Mostrou o crescimento dos comunistas em território nacional, que ainda em 1922 passaram para 253 integrantes; 300 no ano seguinte e cerca de um mil em 1930.

Relacionou o pequeno crescimento partidário na década de 30 com o pequeno número da classe operária e a falta de conhecimento do que era o bolchevismo.

A professora Mary Vianna, segunda palestrante, levantou a preocupação de entender “porque nós acumulamos derrotas. É uma questão que tento entender, indo até o movimento anarquista. Se temos toda a razão porque não conseguimos chegar às massas, tento ver se o problema é o linguajar, não o conteúdo”.

Relembrou o VI congresso da IC, que segundo ela foi a vulgarização do marxismo, no qual o PCB é muito criticado. Em 1930, destacou, Moscou exige autocrítica do Partido, a qual Octávio Brandão adere, mas Astrojildo não, o que acabou resultando em sua expulsão do PCB.

Para ela, o reconhecimento da IC do Partido Comunista Brasileiro foi conquistado a um preço muito alto, tanto é que a revista Movimento, existente desde 1922, possuía vários artigos da IC. Ao situar historicamente a atuação dos comunistas brasileiros, disse que foram três anos, de 1930 a 1933, de quase destruição do partido, época da proletarização interna, de conceitos sectários.

Ao abordar o Levante de 1935, ressaltou que o movimento foi antifascista e que a reação atribuiu-o aos comunistas para justificar a falta de coragem e de iniciativa dos oficiais da época, que se deixaram render e prender por soldados, cabos e sargentos. Enfatiza que Getúlio Vargas aproveitou a situação, já que seu governo estava em baixa, e atribuiu aos camaradas toda a responsabilidade para manter-se no poder, o que contribuiu para a instauração do Estado Novo em 1937.

O camarada Milton Pinheiro abordou ainda a repressão a partir de 1937, a Conferência da Mantiqueira, fundamental para a reorganização do Partido após anos de repressão, e a conquista da anistia e a luta contra o nazifascismo.

1946-1964 –  A consolidação da estratégia nacional democrática

Em seguida, foi a vez dos professores Ricardo Costa, membro do Comitê  Central do PCB, e Dênis de Moraes, da UFF, debaterem o período compreendido entre 1946 e 1964. Destacando o “zigue-zague” das propostas políticas do PCB ao longo da história, Ricardo destacou ser preciso “não ter receio dos erros do passado, pois com eles aprendemos”. Assim afirmou ser sectária a linha política praticada a partir de 1947, que iria se consolidar no “Manifesto de Agosto” de 1950.

Por outro lado, ele abordou as campanhas e manifestações de massa que contaram com intensa mobilização dos comunistas, como O petróleo é Nosso e contra o envio de tropas para a Coréia. Depois, fez reafirmou que é preciso avaliar as medidas adotadas pelo PCb no passado sem esquecer do contexto histórico em que ocorreram. “O nacionalismo, naquele período, era a idéia predominante a libertar povos na África e na Ásia, além de ser bem forte na América Latina. Daí o contexto de uma política de aliança com a burguesia contra o imperialismo”, exemplificou.

Já  Dênis afirmou que as mudanças causadas no interior do PCB a partir do impacto do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, aprofundadas com a Declaração de março de 1958 e consolidadas no V Congresso do PCB, em 1960, “causaram uma primavera no interior do Partido”, com a oxigenação dos debates internos e uma aproximação profunda com a intelectualidade e a visão de que a arte poderia ser utilizada como luta social. Por outro lado, não deixou de citar que a linha política do Partido criou ilusões de uma possível aliança com a burguesia “nacional” e a disputa por espaços entre os setores que davam sustentação política ao governo Jango como fatores que prejudicaram na avaliação daqueles dias tormentosos dias. “O PCB, assim como outras forças de esquerda, subestimou o movimento golpista”, ressaltou.

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