Jamais esqueceremos!
Este domingo, 1º de abril, marcou os 48 anos de instauração da ditadura militar-empresarial no Brasil. Uma data a ser lembrada, para que nunca mais volte a ocorrer, e que até hoje merece dos democratas especial atenção – haja vista a “comemoração” promovida na última quinta-feira (29/03), no Clube Militar, pelo que de pior existe na espécie humana.
Como afirmamos – o PCB – em Nota Pública anterior ao evento, que recebeu justo repúdio militante de centenas de pessoas que comparecemos à Manifestação de Repúdio ao convescote dos porões da Ditadura, tratava-se, no caso deles, de tentar impor aos poderes constituídos o não funcionamento de fato da Comissão da Verdade, em si já insuficiente por não ter poderes de punir – ou delegar a punição – de assassinos, torturadores, sequestradores; enfim, da escória dentro da escória.
Anunciada já há quatro meses, a referida comissão não teve seus participantes nomeados pela presidente da república – ela mesma uma ex-presa política que já sofreu as arbitrariedades da Ditadura.
Causa-nos indignação, por conseguinte, as declarações vaselinas dadas na última sexta-feira pelo ministro da Defesa, Celso Amorim. Questionado sobre a “comemoração” e a revolta de todos aqueles que prezam a democracia, materializada na manifestação, o fantoche de plantão saiu-se com esta: ” Somos contra qualquer violência. Somos a favor de que haja sempre liberdade de expressão, desde que pacífica e respeitosa”.
Amorim, como todos aqueles que governam o país desde 1985, quis tapar o Sol com a peneira. Mais pusilânime, só aquela que o nomeou. Justamente ela, que em seu discurso de posse afirmou honrar todos aqueles que tombaram contra a opressão e a barbárie daquele regime fascista. Mesmo após ter proibido comemorações militares do Golpe de 64, ocorreram – neste final de semana – manifestações claras de desrespeito à Presidência da República: no Rio de Janeiro, aviões passaram na orla com frases saudando a data, assim como os paraquedistas que saltaram dos céus – ou dos infernos. E Dilma? Nenhuma manifestação ou declaração.
Dito isso, voltemos aos acontecimentos de quinta-feira. Nós, do PCB, saudamos as forças políticas que se fizeram presentes na manifestação através de seus militantes. E cremos que devemos levar adiante, nas ruas e espaços institucionais, a correta campanha pela instauração da Comissão da Verdade – quiçá da revisão da Lei de Anistia, que tornou o Brasil um país pária do Direito Internacional.
Não custa lembrar que seremos novamente motivo de vergonha caso o executivo não leve adiante a recente notificação da Organização dos Estados Americanos (OEA) de apurar a morte do jornalista Vladimir Herzog, militante do PCB, durante os anos de chumbo.
Ao mesmo tempo, não nos causa nenhuma estranheza a editorialização que foi feita pelos grandes veículos de imprensa aos fatos ocorridos esta semana. Afinal de contas, a Folha de S. Paulo emprestou sua frota de veículos para a Operação Bandeirantes (OBAN) em São Paulo, e a Rede Globo se transformou no império das comunicações que é hoje com o apoio financeiro e logístico dos generais que governaram o país naqueles anos. Fiquemos apenas com esses dois exemplos…
A violência policial contra os manifestantes também serve de exemplo para aqueles à esquerda que, durante as últimas greves de policiais, se lançaram de forma oportunista ao apoio acrítico aos “companheiros” da PM.
Por fim, é preciso lembrar. Jamais esqueceremos todos aqueles que tombaram pela liberdade e a democracia naqueles anos de chumbo. Os jovens rostos de companheiros da União da Juventude Comunista (UJC) e de outras organizações juvenis que estivemos presentes às manifestações deixa isso claro.
Em respeito à memória dos que tombaram, é tarefa militante prioritária lutar para que sejam encontrados os restos mortais daqueles cerca de 140 combatentes da liberdade que até hoje estão desaparecidos, como os guerrilheiros do Araguaia e nossos camaradas de PCB, cujos nomes seguem abaixo.
Célio Guedes
David Capistrano
Elson Costa
Hiram Pereira Lima
Itair Veloso
Jayme Miranda
João Massena
José Montenegro de Lima
Luiz Maranhão
Nestor Veras
Orlando Bonfim
Walter Ribeiro
Jamais esqueceremos deles!
Paulo Schueler é membro do Comitê Central do PCB.
*Crédito da ação: Beatriz Seigner, Moana Mayall, Thiago Dezan, Luis Felipe, Fora do Eixo
Descrição:
Registro de noite de projeções de imagens selecionadas e projetadas, das quais participei junto com integrantes da rede de artistas e ativistas “Fora do eixo” ( Beatriz Seigner, Thiago Dezan e Luis Felipe). Incluiu filmes cedidos e outras imagens de arquivo e de pesquisas históricas e pessoais:” Uma Longa Viagem” de Lucia Murat, o “Perdão Mister Fiel” de Jorge Oliveira, “Amenarama”, ‘Diário de Uma Busca’ de Flavia Castro etc.
Noite de 29 de março de 2012, data em que militares comemoravam aniversário do Golpe de 1964. Projeção do início da noite até aproximadamente 23h. Ato Contra a comemoração do golpe militar de 64. Fachada crítica. Herzog, símbolo da luta pela democracia e liberdade de expressão sobre a fachada do Clube Militar. Luz versus obscuridades. Pela Comissão da Verdade sobre os crimes de terrorismo de Estado durante os anos da ditadura militar no Brasil.