Helio Fernandes ironiza a comemoração dos 90 anos do PCdoB
Mais um encontro doloroso com Helio Fernandes, no velório de seu irmão Millôr. Ao contrário do que se poderia supor, Helio resiste a tudo. É o gigante que sempre foi, não dá o menor sinal de abatimento. Pelo contrário, mostra-se animado com a possibilidade de passar a digitar seus artigos diretamente no computador, para voltar a escrever no Blog.
Cercado de amigos de todas as idades, Helio comentava os principais temas da atualidade, como o caso do senador Demóstenes Torres. Aproveitou para ridicularizar a comemoração dos pretensos 90 anos do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), lembrando que os 90 anos na verdade são do famoso Partidão, o PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Com sua memória extraordinária, esgrimindo datas e episódios da política, Helio lembrou que o PCB foi fundado em 1922 e na primeira eleição que disputou para valer, em 1946, no final do Estado Novo, tornou-se o quatro maior partido do país, pois conseguiu eleger um senador (Luiz Carlos Prestes) e 14 deputados federais, todos figuras notáveis, como Jorge Amado, Carlos Marighela, Maurício Grabois, José Maria Crispim, Alcedo Coutinho, Gregório Bezerra e Claudino Silva, o único negro entre os 338 constituintes.
Helio lembra que a Constituinte de 1946 foi acompanhada por apenas 16 jornalistas, ele era o mais jovem e é o único sobrevivente: “Eu estava na revista O Cruzeiro e foi na cobertura da Constituinte que fiquei amigo de Carlos Lacerda e Prudente de Moraes, neto”.
Em conversa com José Augusto Ribeiro. Técio Lins e Silva e Alfredo Marques Viana, Helio Fernandes salienta que o PCdoB na verdade foi criado em 1962, como dissidência do PCB e liderado por João Amazonas. “Não tinha nada de estar comemorado agora 90 anos”, ironiza Helio o jornalista.
Ao final da conversa, insisto com ele para mandar os textos por fax e voltar logo a escrever, mas Helio não quer conversa. “Já dei trabalho demais a vocês”, argumenta, e se levanta para a última despedida ao irmão Millôr.