SAUDAÇÃO AO 90º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
Para o novo movimento político Marcha Patriótica pela Segunda e Definitiva Independência, que surge em meio à luta de massas contemporânea na Colômbia e América Latina, é com orgulho que participamos da celebração dos 90 anos de vida de um referencial histórico para o movimento popular continental, como o Partido Comunista Brasileiro, o PCB.
Apoiados pelo ideário emancipador de Nossa América e na luta internacionalista dos oprimidos de
todo o mundo contra o sistema capitalista, nos sentimos parte do histórico combate do PCB e do
povo brasileiro em busca da uma ordem social que ponha fim à exploração e todas as outras
formas de dominação. Assim como fizeram o Libertador Simón Bolívar e o heróico comandante
guerrilheiro Ernesto Che Guevara, entre outros tantos mais, pensamos que a tarefa pela libertação de nosso continente é uma só, e, por isso, identificamo- nos sinceramente nas lutas e reivindicações dos comunistas brasileiros. De forma similar, sentimo –nos acompanhados pelo PCB e todo o movimento democrático do Brasil no nosso persistente combate por uma Colômbia justa. Reconhecemos, na firme solidariedade internacional do PCB para com as diversas lutas dos povos do mundo, incluindo o colombiano, em sua férrea postura antiimperialista e em sua clara ruptura com o decadente capitalismo, um bastião de dignidade dos revolucionários do mundo inteiro e um necessário ponto de encontro para repensar o destino do gênero humano.
A crise estrutural do capitalismo
Uma vez mais, o capitalismo entrou em crise, demonstrando – além de sua já provada essência destruidora – sua incapacidade estrutural de resolver os problemas materiais mínimos das maiorias e rompendo o mito de seu triunfo final. Nesta ocasião, a crise tem seu centro na “financeirização” promovida no modelo neoliberal e na atual fase de acumulação capitalista, a qual apresenta, como eixo principal da economia e do conjunto da sociedade o parasitário e especulativo sistema financeiro, afetando a produção e a distribuição real de riqueza, gerando acumulação para uma ínfima minoria , com base na negociação, por parte destes poucos, a respeito dos bens e do bem-estar do conjunto de nossos povos.
Equivocam-se aqueles que querem mitigar a real dimensão da crise e que buscam atribuí-la a acidentes, a fraudes ou a simples problemas da política econômica burguesa. A pesar dessa profunda catástrofe e suaprolongação sustentada, a ortodoxia liberal segue dominando os discursos e a política do grande capital, querendo nos mostrar a crise como breve lapso atípico e como geograficamente limitada, ao mesmo tempo em que pretende nos apresentar como principal causa do cataclismo econômico o manejo irresponsável dos governos, a ganancia ou a fraude como casos isolados. É essa a cantilena repetida pela “troika” européia e seu coral de governos fantoches, impostos recentemente. Se corretamente não deixamos de nos surpreender a respeito dos escandalosos gráus de corrupção e insensatez que indicam os mais conhecidos escândalos da crise – como os‘ativos tóxicos’, o subôrno das agências de risco ou os graus irracionais de endividamento de vários países -, consideramos que estes fenômenos, mais do que uma perversão, são a regra dentro do regime atual de acumulação capitalista e que, dada sua ingerência no modelo, só podem ser combatidos eficazmente, derrubando-se o sistema em seu conjunto.
Outras visões mais heterodoxas, porém internas ao capitalismo, lançam críticas agudas ao neoliberalismo, mas pretendem nos conduzir até a ilusão do “bom capitalismo keynesiano e produtivo”, mostrando-nos como alternativas o desenvolvimento acompanhado das misérias capitalistas que se verifica, hoje, nos denominados países emergentes. Fecham os olhos para a inevitável conexão de uma crise global com um sistema onde a especulaçãofinanceira entra para determinar o conjunto dos investimentos e da produção no mundo.
Para aqueles que buscamos alternativas, além deste sistema de fome e exploração, a crise é estrutural, essencial ao capitalismo, porém reforçada pelo esgotamento histórico dos modelos keynesiano e neoliberal, sendo ela o desdobramento do crack económico juntamente com o colapso energético e ambiental, gerados pelo mesmo modelo de acumulação.
Frente a esta crise, as elites e os governos, da maior parte dos países do mundo, têm pressa para socorrer os bancos e o conjunto do sistema financeiro, enquanto que impõem, às grandes maiorias, os custos da crise, através de fortes cortes de investimentos sociais por parte dos Estados, promovendo novas ondas de privatização da saúde, da educação, de órgãos governamentais e de maior precarização dos direitos dos trabalhadores, tudo isto, é claro, acompanhado de fortes doses de repressão e cinismo contra os realmente afetados por tais medidas.
Diante desse panorama, a mobilização digna não se fez esperar em todas as partes do mundo: na beligerante resistência do povo grego contra a barbárie do ajuste financeiro, no ressurgimento da histórica clase operáriaeuropéia, no grito de “democracia real já” de milhares de indignados no Estado espanhol, nos milhares de estudantes que, contra o modelo neoliberal, voltam a tomar as grandes avenidas de Allende no Chile, na luta singular que os expropriados estadunidenses vêm travando contra Wall Street – o próprio coração do monstro. E, é claro, a avançada luta antineoliberal, anti-imperialista e anticapitalista que desenvolvem os movimentos populares latinoamericanos, com seus maiores êxitos nos procesos revolucionários da Venezuela e Bolívia, assim como na continuidade do farol de dignidade representado pela revolução cubana. Esta conjuntura nos ratifica que a história é nossa, que os povos a fazem e que a crise do capital não é somente econômica, mas começa a projetar-se a todos os âmbitos.
Na Colômbia, revive a espada de Bolívar.
No nosso país, essa convulsão mundial agrava o conflito social e político. A oligarquia no poder desde a traição a Bolívar, com a anuência estadunidense, tem decidido pela enésima vez por aplicar a máxima de Lampedusa,“mudando algo para que tudo se mantenha igual”, com a farsa do governo do aristocrata e magnata da midia, Juan Manuel Santos.
Longe da aparência construída midiaticamente, o governo de Santos significa a aposta das classes dominantes pela recomposição do regime político colombiano fundamental para a perpetuação de seus interesses, diante do notório desgaste e confusão que produziu o governo fascista de Uribe durante 8 anos. Santos refaz os pactos elitistas e incorpora setores advindos da esquerda em função da dupla aposta estratégica: aprofundamento do neoliberalismo e continuação da guerra de extermínio e desapropriação contra o povo colombiano.
A novidade é a pretensão de maquiar o regime político colombiano e disfarçar o nítido alinhamento internacional com Washington através de umaaparência conciliadora, sobre tudo com países vizinhos. Mas o compromisso de Santos com o mais bárbaro neoliberalismo e a mais recalcitrante direita não pode ser colocado emdúvida: trata-se de converter o país mum modelo exclusivamente extrativista que negocia com as transnacionais os nossos recursos naturai sem troca de desastres ambientais, aprovando a reforma que consagra como princípio constitucional a sustentabilidade fiscal (tornando permanentes as medidas de ajuste), a reforma do sistema nacional de royalties, a reforma do sistema de saúde, da justiça e o derrotado projeto da educação superior, apenas para mencionar alguns deles.
As cifras sociais da maravilha econômica do capitalismo na Colômbia são bastante eloquentes. De acordo com estudos das próprias entidades oficiais, no ano de 2009, 0,4% dos proprietários possuíam, em latifundios maiores que 500 hectares, 50% do total da terra, enquanto que 60% dos proprietários repartiam, entre si, apenas 2,1% de toda a área rural em pequenas parcelas menores que 3 hectares. O desemprego oscila em duas cifras há mais de 10anos, sendo somente comparável com os indicadores dos países em depressão e, em que pese as maquiagens estatais, continua sendo o maior da América Latina, enquanto que o subemprego supera já 64% da populaçãoeconómicamente ativa. 45,5% dos colombianos – quase 20 milhões de pessoas – vive abaixo da linha da pobreza, e 16,4%, cerca de 8 milhões, estão submetidos à indigência. A concentração de renda é tal que, no ano de 2010, a Colômbia superou o Brasil como o país mais desigual da região, com um coeficiente de Gini de 0.60 e ocupa o terceiro lugar de iniquidade a nível mundial.
Em defesa desta abominável ordem de coisas, a oligarquia colombiana, já misturada com as máfias do narcotráfico, tem construido um aparato militar legal e extra-legal, que inclui gigantescas e custosas forças militares que superam os 450.000 homens, inclui a aberta intervenção militar ianque que lhes fornece recursos, instrutores, armamentos, equipes e suas próprias bases e tropas, assim como a frequente recorrência à barbárie paramilitar e aos crimes de Estado. Esta voracidade bélica tem provocado, segundo a própria ONU, 4,9 milhões de refugiados e 57.200 desaparecidos somente nas últimas três décadas. Recentemente, quando Santos era Ministro da Guerra de Uribe, mais de dois mil jovens foram fuzilados pelo exército para fazê-los se passar por guerrilheiros.
Ma , apesar disso, o povo colombiano não se intimida e mantém erguida a luta pela sua dignidade e por uma nova e definitiva independência. Desde as ruas de Bogotá até as mais recônditas zonas rurais, as massas da Colômbia se organizam e se levantam contra a ignomínia do regime. Greve universitária, bloqueio ao transporte público da capital, mobilizações populares contra os megaprojetos extrativistas do grande capital, marchas camponesas e resistência cultural. Dia a dia, os setores sociaisa fetados pelo sistema fazem crescer sua luta e começam a buscar saída para a grande noite de exclusão, fome e violência.
Neste cadinho, surge a Marcha Patriótica como um movimento político que busca reunir as aspirações deste povo que há 200 anos espera para concluir a batalha pela sua independência definitiva. Nosso movimento político aspira agrupar a ação de todos os colombianos e colombianas que se encontram inconformados, indignados e cansados deste presente, cheio de pobreza, ignomínia e morte, e que desejem construir uma Colômbiaverdadeiramente democrática, com um modelo econômico e político onde os direitos à saúde, educação, cultura, moradia e lazer sejam uma realidade para o conjunto da população; um país onde se impeça o roubo de nossasmontanhas, planaltos e riquezas; uma Colômbia onde a diferença política seja um elemento essencial para o debate democrático; uma nação soberana, um país em paz, com justiça social, e integrada à grande pátria latinoamericana, em síntese, uma Colômbia que alcance a segunda e definitiva independência.
Nascemos como Marcha Patriótica sob a profunda convicção de que a transformação de nosso país necessita urgentemente de um movimento político composto em sua carne, ossos e espírito, pelas lutas e organizaçõessociais, populares, intelectuais e setores democráticos, tomando a espada de Bolívar sob os princípios do trabalho de base, da mobilização, da organização e da unidade do povo colombiano, e com o profundo compromisso de defender os interesses populares e das maiorias nacionais, para que se possa conquistar a harmonia emancipadora entre as diferentes lutas sociais, as reivindicações e a disputa do poder político para colocá-los a serviço de todos os colombianos e não de uma elite oligárquica.
Desde 2010, convergimos, na Marcha Patriótica, múltiplos setores e partidos políticos, assim como numerosas organizações sociais que, convocados para o bicentenário de nosso primeiro grito de independência, nos reunimos e reiniciamos a batalha pela nossa libertação, que está indissoluvelmente ligada com a revolução em toda a nossa América. No momento, estamos nos preparando para nosso grande ato de lançamento como movimento político, nos próximos dias 21, 22 e 23 de abril, em Bogotá, onde se formará nosso Conselho Patriótico Nacional e se fortalecerão nossas elaborações de programa e plano de ação, evento ao qual fazemos extensivos convites a todas as organizações sociais e populares do Brasil e do resto do mundo, que acompanham o PCB em seu 90º aniversário.
Nesta empreitada pela nossa nova e definitiva independência, tarefa de todos os democratas e revolucionários do continente, bebemos da rica experiência de luta de todos os povos latinoamericanos desde a resistência à conquista européia e contamos seguramente com os lutadores incansáveis de todo o continente que, como o PCB, mantém tremulando as bandeiras do socialismo e da liberdade.
Saudações solidárias e revolucionárias,
Cabildo América Latina
Marcha Patriótica –Colombia-