Mapas secretos mostram os reais objetivos de Israel na Palestina
Mapas secretos liberados na semana passada mostram que os sionistas podem expandir suas colônias e inviabilizar em definitivo a constituição do Estado palestino. Também mostram que, ao contrário do que as autoridades israelenses afirmam há anos, a construção do muro teve como objetivo o confisco de terras palestinas e não a segurança de Israel
Correspondente no Oriente Médio
Mapas secretos obtidos por um pacifista israelense indicam que Israel planeja construir novas colônias ilegais na Cisjordânia, numa área superior a 627 mil m2 (correspondente a quase 153 campos de futebol). Os mapas foram liberados pela Administração Civil, órgão ligado ao Ministério da Defesa sionista, por ordem judicial, depois que o ativista Dror Etkes, ex-diretor da ONG Peace Now, ganhou, na justiça israelense, uma ação baseada na Lei da Liberdade de Informação.
A notícia, publicada no jornal israelense Haaretz de 30 de março, não surpreende. Embora a Administração Civil de Israel tenha informado que os mapas mostram as alterações referentes a um banco de dados atualizado de tempos em tempos, e que não indicam a existência de planos de expansão das colônias – hoje ocupando mais de 9,5% da Cisjordânia –, é preciso lembrar que, ao longo de mais de 100 anos, as lideranças sionistas nunca esconderam o objetivo de tomar toda a Palestina histórica para a constituição do Grande Israel, país que se estenderia também para Líbano, Síria, Jordânia e Iraque. E que o programa do Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, defende esse mesmo projeto, partilhado por outras forças políticas dentro e fora de Israel.
A importância dos mapas está em servir como prova de três fatos cruciais e interligados. O primeiro é uma provável expansão das colônias ilegais, e o segundo, a certeza de que os governantes israelenses nunca levaram a sério as negociações com as autoridades palestinas. Por isso, ou eles vêm enganando os países que há mais de 20 anos patrocinam as negociações, ou esses países são cúmplices dos sionistas num plano destinado a burlar o povo palestino e a legislação internacional, e a dar tempo a que Israel se aproprie de parcelas cada vez maiores da Palestina, enterrando de maneira definitiva a solução de dois Estados.
O terceiro fato prova que, ao contrário do que as autoridades sionistas propagandeiam desde o início deste século, a construção do muro teve como objetivo o confisco de terras e não a segurança do Estado de Israel. O historiador Ilan Pappé já denunciara o fato, depois de ter acesso a documentos segundo os quais o projeto do muro data de 1967, ano da Guerra dos Seis Dias, em que Israel ocupou militarmente toda a Palestina. Os mapas corroboram essa versão.
Eles mostram que o governo israelense mentiu à Suprema Corte de Israel e ao Tribunal Internacional de Justiça ao alegar que a construção do muro da segregação se devia a “razões de segurança”. As figuras comprovam que o muro foi planejado para confiscar terras palestinas, a fim de aumentar a área destinada às colônias e de transferir para elas uma população ainda maior do que os atuais 600 mil colonos ilegalmente estabelecidos na Palestina.
Os mais de 627 mil m2 que Israel pretende confiscar compreendem 569 grandes lotes e totalizam 10% da área da Cisjordânia, onde, desde fins de 1990, 23 postos avançados – extensões das colônias edificadas pelo governo israelense – foram construídos pelos colonos, de maneira ilegal, em terras tomadas aos palestinos e incluídas nos mapas. Esse fato, de acordo com Dror Etkes, indica que os colonos têm acesso às pesquisas sobre terras palestinas “disponíveis” realizadas pela Administração Civil e anotadas nos mapas. “Essa é mais uma prova do envolvimento do governo na violação sistemática da lei com a finalidade de expandir as colônias”, declarou ele. Não à toa, atualmente as autoridades israelenses estudam como tornar legais os postos avançados.
Outra evidência de que os mapas mostram áreas a confiscar está nos nomes que eles trazem e que se referem a colônias que ainda não existem. Exemplos disso são “Shlomzion”, em terras pertencentes à cidade de Aqraba, perto de Nablus; “Lev Hashomron”, em Kafr Haja, entre Nablus e Qalqilya; “Mevo Adumim”, em al-Azariya e Abu Dis; “Mitzpeh Zanoah” e “Mitzpeh Lahav”, a sul do Monte Hebron. Outros nomes indicam regiões reservadas à expansão de colônias já existentes, embora algumas fiquem a vários quilômetros de distância dessas colônias.
Parte dessa terra, correspondente a 81 lotes, fica nas áreas A e B, que, segundo os Acordos de Oslo, estão sob controle da Autoridade Nacional Palestina. Para o Haaretz isso significa que os mapas são anteriores a esses tratados, assinados em 1993 e 1995. Provavelmente, as negociações de Oslo levaram Israel a desistir do confisco dos lotes nas áreas A e B, porque não há colônias construídas nelas.
A maior parte das terras assinaladas no mapa – mais de 2/3 do total –, vem sendo atualizada ano após ano, e uma porcentagem superior a 90% está a leste do muro e das principais colônias. Para Etkes, isso quer dizer que o governo reserva essas terras para uso futuro, “em desrespeito às negociações de paz, que são baseadas no princípio de dois Estados”.
A maioria das regiões assinaladas estão classificadas como “terras do Estado [de Israel]”. Uma pequena parte é considerada “terra judaica” anterior a 1948, ano da criação de Israel, e uma terceira parcela ainda não foi classificada. “Presumo que o governo as veja como terras do Estado”, diz Etkes. Sua não classificação pode ter como causa a pressão internacional, responsável pela “redução drástica”, segundo oHaaretz, da transformação de territórios palestinos em “terras do Estado de Israel”. A Administração Civil, em carta à ONG Planners for Planning Right [Urbanistas pelo Direito de Planejar], afirmou que, entre 2003 e 2009, 5 mil dunums de terras palestinas foram consideradas “do Estado de Israel”, contra centenas de milhares de dunums confiscados nas décadas anteriores.
No mapa da Cisjordânia, liberado por ordem judicial, as partes em amarelo indicam as áreas destinadas à expansão das colônias ilegais. A linha verde separa, por convenção internacional, o território palestino e Israel. Repare como o traçado do muro (roxo) avança para dentro da Cisjordânia, confiscando terras palestinas. Como o mapa é anterior, em cerca de 10 anos, à construção do muro, ele prova que a barreira foi erguida com o objetivo de anexar parte do território palestino a Israel, e não para garantir a segurança do país, como apregoam os sionistas.