A perversa rotina israelense do genocídio palestino
Israel continua se valendo do pretexto da segurança para derrubar casas, expropriar terrenos e estimular a política de expansão dos assentamentos. Foto: B´Tselem
Por Leonel Nodal
Juventude Rebelde
É muito raro passar um dia sem o relato de algum ato hediondo de violência contra a população palestina residente na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza, territórios sob controle militar israelense desde 1967.
Assassinatos a sangue frio, sem motivo, de civis desarmados; buscas domiciliares, detenções arbitrárias e prisão por tempo indeterminado sem julgamento; a demolição de casas e a expulsão de seus bairros marcam a vida dos palestinos sob ocupação militar israelense.
Em suma, uma série de abusos e arbitrariedades tão brutais que nem dá para acreditar, como balanço de 2020, ou dos dias que se passaram este ano, elaborado pelas Nações Unidas.
Os números e os fatos são tão assustadores que a imprensa ocidental, incapaz de levantar um dedo por seu próprio julgamento contra o sacrossanto Estado judeu, espera pela versão oficial e só lança uma crítica se tiver o apoio de fontes israelenses além de qualquer suspeita.
Por quatro décadas, fui forçado a vasculhar a mídia israelense, impressa ou eletrônica, para verificar ou validar fatos que, de outra forma, parecem ser invenções.
No ano passado, as forças militares e de segurança israelenses mataram 27 palestinos, 7 deles menores: um na Faixa de Gaza, 23 na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental ocupada, e três dentro de Israel.
Na Cisjordânia, em pelo menos 11 dos 16 incidentes investigados pelo Centro Israelense de Direitos Humanos B’Tselem, os palestinos assassinados não representavam nenhuma ameaça às forças israelenses.
Mesmo que tivessem sido uma ameaça, frisou B’Tselem, “os tiros foram absolutamente desproporcionais e sem justificativa”. E em seguida apresentou vários exemplos, entre eles o caso mais conhecido por sua crueldade: Iyad al-Halaq de 31 anos, um jovem autista de Jerusalém que foi baleado por agentes da polícia fronteiriça israelense enquanto corria assustado, quando lhe deram voz de prisão.
Os policiais, enfatiza o relatório, atiraram nele enquanto ele estava deitado no chão, e seu cuidador do instituto especial que frequentava diariamente tentou explicar-lhes por longos minutos que ele era portador de uma deficiência.
A situação em Gaza, de onde Israel retirou suas tropas e várias centenas de colonos judeus em 2005, é pior, pois está bloqueada, cercada e protegida por ar, mar e terra, completamente isolada, exceto por duas passagens de fronteira, uma delas com o Egito, que foi aberta por capricho do governo de ocupação militar.
No final de 2019, os protestos da “Marcha de Retorno” na Faixa de Gaza foram violentamente reprimidos. Durante esses atos, os militares israelenses abriram fogo contra manifestantes desarmados, localizados bem longe, do outro lado da cerca do perímetro, matando mais de 220 palestinos, lembrou o B’Tselem.
Em 2020, os militares israelenses assassinaram um palestino na Faixa de Gaza: Muhammad a-Na’am, de 27 anos. De acordo com o exército, ele e outra pessoa tentaram colocar explosivos próximo à cerca do perímetro. Após a morte de a-Na’am, os soldados abriram fogo contra os palestinos que tentaram remover o corpo, ferindo dois deles, e uma escavadeira militar profanou o corpo, jogando-o enquanto tentava levantá-lo.
Por anos, Israel tem implementado uma política de fogo aberto imprudente e ilegal na Cisjordânia. Essa política é totalmente apoiada pelo governo, militares e tribunais, com total desconsideração pelos resultados fatais previsíveis.
Demolições de casas, fábrica de refugiados
Apesar da crise econômica sem precedentes e da pandemia da COVID-19, que exige outro exame de seu uso por Israel como arma genocida, o Estado judeu-sionista intensificou as demolições de casas palestinas na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental ocupada.
Em 2020, mais palestinos perderam suas casas do que em todos os anos anteriores desde 2016, que foi o ano com mais demolições registradas pelo B’Tselem.
No total, Israel demoliu 273 casas em 2020 e deixou 1.006 palestinos desabrigados, 519 dos quais eram menores. Em 2019, destruiu as casas de 677 palestinos; em 2018, 397; e em 2017, 528.
Em 2020, Israel também destruiu 456 estruturas e instalações de infraestrutura não residencial. Isso inclui infraestrutura humanitária, como cisternas de água e canos ou redes elétricas, essenciais para a manutenção da saúde e da higiene, particularmente importantes nestes tempos de coronavírus.
A incessante limpeza étnica
Na última semana de fevereiro de 2021, um tribunal distrital de Jerusalém emitiu uma decisão para despejar seis famílias de suas casas no bairro Sheikh Jarrah de Jerusalém Oriental – um território designado como a capital de um possível estado palestino – onde vivem há quase 70 anos, para construir um bairro para os colonos israelenses.
A ONG israelense Peace Now disse em um comunicado na terça-feira passada que famílias palestinas, compostas por 27 pessoas que vivem em quatro casas, foram notificadas da decisão na segunda-feira e têm até 2 de maio para desocupar suas casas.
Esta decisão, disse Paz Now, é “parte de um movimento projetado para privar uma comunidade palestina de sua casa e estabelecer um assentamento judaico em seu lugar”.
Centenas de palestinos que vivem em Sheikh Jarrah enfrentam procedimentos legais semelhantes, junto com outras centenas no bairro Batan al-Hawa de Silwan, Jerusalém Oriental. Paz Now alertou sobre a execução de expulsões em massa nos próximos meses.
Uma história política
“A história aqui não é legal, mas política”, disse a organização não governamental. A demolição de uma vila israelense deixa famílias palestinas desesperadas e desabrigadas.
“O tribunal é apenas a ferramenta que os colonos usam, com a ajuda de autoridades estaduais, para cometer o crime de deslocar uma comunidade inteira e substituí-la por um assentamento”.
Em outubro do ano passado, o movimento de uma empresa registrada nos Estados Unidos chamada Nahalat Shimon, representando colonos que buscavam construir um grande assentamento no bairro árabe palestino de Sheikh Jarrah, veio à tona.
No ano passado, pesquisadores de campo do B’Tselem documentaram 248 ataques violentos de colonos contra palestinos na Cisjordânia, incluindo 86 agressões corporais, como parte da limpeza étnica realizada desde o final do século 19 pelos precursores do Estado judeu, sob a égide da Grã-Bretanha, que depois da Segunda Guerra Mundial cedeu lugar aos Estados Unidos como beneficiário daquela verdadeira base militar a serviço de sua expansão hegemônica no Oriente Médio.
Os eventos atuais provam que a limpeza étnica e a expulsão de mais de 700.000 palestinos em 1948 ainda estão em andamento, com o objetivo visível de esvaziar a Palestina de seus colonos originais.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Fonte:
http://www.juventudrebelde.cu/internacionales/2021-02-25/la-perversa-rutina-israeli-del-genocidio-palestino