Intervenção PCM nos 90 anos do PCB

O que está na ordem do dia na América Latina?

Trabalho apresentado em nome do PCM no Seminário Internacional do PCB, na Semana dos 90 Anos do PCB, por Diego Torres, Segundo Secretário do Bureau Poítico do Comitê Central do PCM.

Queridos camaradas,

É uma grande honra para nós celebrar com nossos irmãos de classe os 90 anos de existência do Partido Comunista Brasileiro e, nesse marco, participar do Seminário Internacional: Crise do Capitalismo. A ofensiva imperialista e a luta pelo socialismo.

A crise se aprofunda.

O contexto geral, sem nenhuma dúvida, continua sendo o desenvolvimento da crise de superacumulação e o seu agravamento. Nos últimos meses, temos assistido claramente dois de seus sintomas mais graves. O colapso social, que pode ser apreciado em vários lugares na Europa, principalmente na Grécia, Espanha, Irlanda, na região do Báltico, etc, e as crescentes tensões bélicas entre os centros imperialistas, sobretudo na região do Oriente Médio, mais especificamente na perigosa luta pelo controle dos fluxos de gás, que começa a se delinear sobre o terreno da Síria e Irã.

Em nossa região, mais de uma vez durante os últimos anos, foram espalhados aos ventos pelas agências estatísticas governamentais, círculos acadêmicos e meios de comunicação, alguns dados otimistas com o intuito de negar o agravamento da crise. Estes dados se referem aos curtíssimos períodos (de um a três meses, aos períodos isolados de 2010 ou princípios de 2011, dependendo do país), durante os quais parecem coletar os índices de produção industrial, aumentar os registros de emprego, o salário nominal, reduzir a inflação, etc. Com o anterior, se chega a exclamar imprudentemente o “fim da crise”, o “caráter exclusivamente estrangeiro da crise”, a “blindagem anticrises” e outras expressões semelhantes, com o objetivo de confundir sobre a verdadeira magnitude e sentido do que vivemos. Estas expressões apóiam diretamente a noção de que o que se deve impulsionar é uma gestão alternativa nos marcos do capitalismo.

Já citado separadamente em análises anteriores e de maneira conjunta nos artigos da primeira edição da Revista Comunista Internacional, uma série de Partidos Comunistas abordaram a natureza da crise, rechaçando as visões que o reduzem a um problema de gestão neoliberal, e alertado a nossa classe sobre seu caráter de crise geral do modo de produção e sua previsível longa duração. Em torno dos dados otimistas manipulados na América Latina, é preciso esclarecer algumas coisas.

Em primeiro lugar, os dados que se baseiam no curto período não comprovam, por si só, que tenha existido uma reestruturação após o desastre do primeiro impacto da crise, antes mesmo do retorno, em meados do ano passado, de dados de recessão (no caso do Brasil, a economia parou de crescer entre julho e setembro de 2011, e falamos de um dos países que evitou durante maior tempo este fenômeno). Assim, o estancamento de 2010 e o “crescimento” de 6% durante o ano de 2011, não cobrem o colapso de 16%, com relação a 2008-2009. Além disso, os dados iniciais para 2012 não são dos melhores. Quanto ao PIB, o aumento médio de 5,9% de 2010 não supre o pior desempenho dos últimos 70 anos com relação ao biênio anterior e desaparece por completo ao surgirem, de novo, os sintomas de recessão. Este é o comportamento da crise capitalista: podem ocorrer breves períodos de uma débil recuperação antes que a curva volte a inverter-se com maior profundidade. Se me permitem a expressão, esta oscilação negativa arrasta os trabalhadores e as camadas oprimidas a uma miserabilidade ainda maior.

Em segundo lugar, em meio à crise, o que buscam os monopólios é uma saída para seus capitais estanques. Em todo o mundo se buscam mercados, mercadorias, ações, estoques, setores econômicos etc., que permitam a possibilidade de transformar seu dinheiro em capital ativo, de giro, de absorver lucros enquanto se espera a ruína dos competidores. Em nossa região, todos os mecanismos possíveis foram utilizados: transferência de reservas, fusões e aquisições de empresas, fluxos de IED, empréstimos, “ajudas financeiras”, “resgates” de empresas etc.

A América Latina e o Caribe foi a região onde mais cresceu a IED em 2010 (15-25%), em detrimento dos países industrializados, onde a IED registrou um retrocesso (-1%). Tudo isso explica a fraca recuperação de dois anos atrás – insisto em sua debilidade. No caso do México, seriam necessários outros anos de insustentável fluxo para que seja igual o registro de investimentos recebidos antes de 2009. Estes capitais se transformam em novas sedes, sucursais, unidades de produção etc. De maneira correlacionada, a região experimentou um aumento nas manufaturas de 13%, enquanto, no mesmo período, as economias desenvolvidas experimentaram apenas 8% de aumento. Ao mesmo tempo, é preparado o terreno para uma segunda e mais profunda fase da crise. Na América do Sul, os investimentos se dirigiram, preferencialmente, aos recursos naturais (43% do fluxo da IED à região, na zona que é responsável por 31% da produção mundial de biocombustíveis, de 48% da soja, 47% do cobre e 31% da carne), enquanto no México, na América Central e no Caribe, as manufaturas (54%, no caso do México, em grande parte, se dirigiram aos setores aeroespaciais, agroalimentícios, automotrizes, de dispositivos médicos, elétrico, eletrônico, energia, nessa ordem de importância). Em ambos os casos, com fins de abastecer o mercado internacional.

Assim, este fluxo reforçou o acordo assinado por estes países no que tange à divisão internacional do mercado. Também reforçou a interdependência destas economias, tanto com respeito às economias de onde se transfere o capital, como onde se produz e se consome o produto destes investimentos. Como se vê, o capital caminha, redirige os capitais dos principais centros de concentração e manufatura para os nossos países. Sem dúvida, esta é uma saída temporária, já que o próximo desastre na região virá enquanto esta nova produção se enfrenta com a baixa na demanda dos mercados da Europa e da Ásia.

Em terceiro lugar, estas transferências de capital não são fortuitas. Os capitalistas se guiam pela lei absoluta do máximo de ganho. Quando se fala sobre a existência de condições atrativas é o mesmo que dizer que são tomadas medidas para transferir os custos da crise aos trabalhadores em nossa região. Não pode se constituir motivo de alegria para nós que os capitalistas brasileiros mantenham seus lucros sobre os biocombustíveis, quando isto se relaciona diretamente com a elevação do preço dos alimentos; o que se traduz em 53 milhões de seres humanos em nossa região sem acesso ao nível de proteínas mínimo; o que se traduz em pobres obrigados a destinarem 70% de seu orçamento apenas para a compra de alimentos; ou no terrível aumento da desnutrição infantil, baseada em dietas sem carboidratos etc. No México, não pode ser positiva a atração de capitais quando isto significa o sacrifício em massa dos salários ou que a esmagadora maioria dos jovens não conheça “ao vivo” o que são os direitos trabalhistas.

Tudo o que foi citado anteriormente é para dizer que, bom, na América Latina, em que pese todas as maquiagens estatísticas, não temos visto ainda o último suspiro da crise capitalista. E que, então, se levantem diante de nós questões estratégicas fundamentais.

A questão fundamental

Não é um problema de tática, mas de estratégia. É um problema de definir, não as manobras e nem a ligação das lutas que, espontaneamente, nos são colocadas, mas em qual direção deve se dirigir o golpe principal de nossa classe, a qual orientação deve se subordinar a atuação de nossos Partidos na atual conjuntura.

Na América Latina isto se relaciona com saber identificar o inimigo, a burguesia. Dizemos isto porque, há décadas, parece existir uma paralisia teórica, refletidas na leitura de que existem divisões na burguesia. Uma burguesia pró-imperialista, rentista, reacionária, etc, a qual se opõe uma burguesia nacional, progressista etc.

Sobre isto, temos estudado, com muita atenção, as teorizações sobre o chamado “giro progressista” na América Latina, sobretudo os casos paradigmáticos de Lucio Gutiérrez ou Lula, no Brasil. Nestas gestões do capitalismo, que se promovem como “alternativas”, por um lado se mobilizam recursos que estimulam os lucros das empresas com sedes no país, enquanto uma série de concessões é entregue à classe operária sob a chantagem de dissolução e submissão de suas organizações de classe. O resultado desta gestão é que, uma vez cumprida sua missão, a classe operária se encontra sem organização independente, frente a uma burguesia muito fortalecida num cenário onde a dívida pública no topo se traduz no corte imediato de todas as “concessões”.

Buscando romper com a situação anterior, existem companheiros que admitem uma coalizão com tais governos, como expressões da burguesia nacional, como uma etapa de “libertação nacional”, de confrontação anticolonial contra o imperialismo norte-americano. Pedimos a nossos companheiros que reflitam seriamente sobre isso, à luz de nossas ferramentas científicas. Por acaso o imperialismo se reduz a um só de seus centros, os Estados Unidos? Realmente existe, como uma camada sólida, uma parte da burguesia que possua interesses separados do imperialismo? Não é este um fenômeno correspondente à época em que se tentava conservar as características do mercantilismo? Época que, teoricamente, poderia ser “esticada” até as primeiras décadas do século passado na América Latina.

Não só teriam que ser revistos os dados e os fenômenos para constatar que se justifica sua abordagem, como também teriam que ser observados quais os limites de tais aproximações são apresentados como tática. A totalidade dos processos de libertação nacional na África, Ásia e América não se relacionaram intimamente à questão da tomada do poder pela classe trabalhadora. Tornaram-se instrumentos do poder burguês que, ao longo de décadas, com seu desenvolvimento, se alinharam com um ou outro centro imperialista. Isso nos leva a refletir que, ou bem existe Poder burguês, ou bem existe Poder trabalhador. Aqui não existem mais do que os polos sem intermediários, e a questão da dualidade do poder tem correspondência com muitos breves momentos revolucionários, não a uma estratégia sustentada.

Em certo grau, no chamado “giro progressista”, são exceções o caso Bolivariano da Venezuela, da Bolívia e do Equador, que constituem cenários factíveis de intervenção, onde as forças classistas podem organizar-se e preparar-se para um futuro choque decisivo com a burguesia. Porém, assim como nós, o inimigo intervém em condições mais vantajosas, pois a natureza classista do Estado não se alterou. Estes cenários de intervenção estão sujeitos a pressões e correlações, como inegavelmente se vê no caso dos camaradas das FARC detidos na Venezuela por pressão da Colômbia, da UE e dos EUA.

Definitivamente, o México não configura um cenário idêntico ou similar ao Bolivariano. Muitas das medidas tomadas nesses países para desenvolver o mercado interno, como a expropriação petrolífera, o estabelecimento de um amplo setor público, a reforma agrária etc, em nosso país já foram transitadas e representam etapas, de fato, já superadas no desenvolvimento capitalista. Não se trataria de medidas progressistas, mas reacionárias, de voltar economicamente a roda da história para trás.

A burguesia plenamente desenvolvida no México não está interessada, por muitas razões que abordaremos num dado momento, em estabelecer uma aliança com a classe operária e os camponeses contra o imperialismo. De fato, procede num sentido totalmente oposto.

Em meio à crise, graças à sua ofensiva, a burguesia em nosso país alcançou fabulosos lucros. A burguesia lançou as forças policiais co-militares para cancelar o direito de greve contra os mineiros, os professores, os eletricistas, os pilotos e comissários de bordo etc. Graças à submissão destes poderosos sindicatos foi possível implantar, sem respostas organizadas, uma política que contempla as demissões humilhantes de meio milhão de trabalhadores, o saque das aposentadorias e pensões, a aplicação de demissões sem responsabilidade para o patronato, o escárnio de todos os direitos trabalhistas, mediante a legalização do outsourcing, etc.

Nesta linha de sacrifício da classe trabalhadora estão de acordo todas as forças políticas burguesas, todas as forças com representação parlamentar, como os liberais e socialdemocratas de nosso país.

Sem denunciar o responsável por tudo isso, sem denunciar as relações de exploração capitalista, o PRD, López Obrador, vem pregar a versão de que é perfeitamente possível chegar a um acordo com os empresários, mediante o qual eles, “movidos pelo amor”, elevarão os salários e os trabalhadores, “amorosamente”, se submeterão aos seus ditames. Todos os problemas populares são culpa do governo conservador em vigência. Por um lado, o governo faz denúncias gravíssimas sobre o TLC e, por outro, se compromete a salvaguardá-lo frente ao embaixador dos EUA no México. O auge é que, culpando a gestão neoliberal por tudo, não pode sequer levantar uma gestão alternativa, pois sua proposta de governo inclui a promoção neoliberal da privatização da educação, da “tolerância zero” em segurança e é, diretamente, um oligarca notório para a economia.

Para aqueles que não estão convencidos do que declaramos, de que Obrador é um promotor da conciliação de classes e da anulação de sua luta, podem escutar da própria voz de López Obrador na entrevista concedida ao jornal La Jornada, em 14 de fevereiro. Na entrevista, admite abertamente que foram organizados, sob sua instrução, os policiamentos na avenida reformada, a fim de evitar que o movimento estourasse os marcos institucionais. Nessa mesma entrevista, deplora o fato de que a rebelião no Egito tenha tomado formas violentas, pois “somente serviu para que se implantasse uma junta militar”. Sobre isso, nós comunistas respondemos: a violência da luta de classes é a parteira dos povos e provém dela os triunfos alcançados quando os oprimidos rompem seus grilhões. É dela que se devem todos os avanços sociais e conquistas de nossos povos.

Se, apesar disso, alguns comunistas mexicanos insistirem de todos os modos em tecer uma aliança com nossa burguesia nacional contra o imperialismo ianque, como uma etapa prévia da luta pelo socialismo, honestamente perguntaríamos: qual burguesia nacional? A que monopoliza, mediante os 157 milhões de dólares do grupo Claro e do grupo Bimbo, o Paraguai? A que, mediante 716 milhões de dólares da engarrafadora Arca, da telefônica Claro, Mabe e outras, expolia os trabalhadores do Equador? A que mata mineiros no Peru? A que se soma à cruzada contra a Venezuela Bolivariana, em defesa dos interesses do CEMEX e do Bimbo? Em resumo: lutar para que nossa burguesia imperialista se fortaleça?

México: plenamente inserido nas relações imperialistas

O capital no México se encontra plenamente inserido dentro das relações imperialistas. Praticamente não existem indícios, no mercado interno ou externo, de que não esteja ligado por inúmeros laços ao sistema imperialista mundial.

Uma característica principal da fase imperialista de desenvolvimento do capitalismo, conforme definiu Lênin, é a exportação de capitais, que não só existe como se fortalece. De janeiro de 1995 a dezembro de 1997, a transferência de ativos por empresas e cidadãos mexicanos para o exterior somou 6.551.6 bilhões de dólares. Para efeitos comparativos, por cada dólar de capital exportado pelo México entre 1995 e 1997, foram exportados 9 dólares entre janeiro de 2007 e dezembro de 2009. O montante do capital transferido ao exterior nesses três anos foi um pouco superior ao ingresso de novos investimentos estrangeiros nos seis anos precedentes, que foi de 56.173.5 bilhões de dólares, segundo o Banco do México. Para 2010, o México se converteu no segundo maior receptor de investimentos estrangeiros, somente atrás do Brasil, e se colocou como o país latino com mais investimentos no exterior, com uma participação de 81%, seguido pelo Brasil. A burguesia mexicana, somente no último ano, injetou 53.185 bilhões de dólares na América Latina e no Caribe, contribuindo com a expoliação de seus trabalhadores e, em geral, de seus povos.

É claro que, com o grau de concentração e centralização, se pode falar sem equívocos e, de fato, sem novidades, da constituição de monopólios. Já para 2003, as 500 maiores empresas do país concentravam 28,4% da força laboral. 100 empresários individuais (que representam menos de 0,0001% da população) estavam no comando de 149 dessas empresas, controlando 43% do PIB do México, movendo 4 de cada 10 pesos que existem na economia mexicana. Como exemplo, 3 empresas de telecomunicação celular concentram 99% do espectro disponível, na indústria dos alimentos 4 empresas possuem 74,7% do total das vendas, na indústria automotriz, há mais de 10 anos, os 2% das empresas concentravam 75% da produção, no serviço de Internet de banda larga, uma só empresa contra 4/5 partes do mercado, as linhas férreas que sobrevivem são controladas por duas empresas, das 37.500 empresas mexicanas que efetuam comércio exterior, unicamente 400 geram mais de 80% das exportações. Trata-se de uma generalidade e não de casos isolados.

Ao formalizar a venda de bancos, em 1992, acelerou-se a fusão do capital bancário com o industrial e a formação dos grupos financeiros. No México existe e domina o capital financeiro. De maneira veloz, estes 131 grupos passaram a controlar 100% dos bancos comerciais, 98% do mercado de ações, 85% dos locadores, 78,9% da atividade de fatoragem, 50% do mercado de seguros e 48% das associações de investimentos. De fato, 4 gigantescos bancos exercem seu domínio sobre 83% do mercado, atravessando com seus numerosos tentáculos as operações industriais e comerciais.

Podem ser caracterizadas de outra maneira as relações de produção no México?

Algumas forças caracterizam de outra maneira o desenvolvimento das relações de produção capitalista no México, atendendo a traços de caráter secundário. Por exemplo, não se caracteriza como capitalista o domínio que a burguesia exerce sobre estes enormes meios em virtude do modo como se apropriaram dos mesmos, negam seu caráter por tratar-se de despojos, entrega a custos risíveis por parte do Estado, roubo etc. No entanto, o próprio Marx já havia explicado o papel da acumulação primitiva na formação do capital e como, de fato, este processo se repete constantemente. Independentemente do modo de apropriação, este capital está utilizando-se de um processo de acumulação. Acumulação esta também levada a cabo como concentração e centralização, o que permite o domínio do mercado por parte dos monopólios.

Quanto às forças políticas burguesas, conforme a sua tática, alguns admitem e outros negam a realidade da plena inclusão do México nas relações imperialistas. Aqueles que, por manobra, tentam ocultá-la, esgrimem confusamente como argumento a, todavia, ampla camada de pequenos burgueses e o impressionante número das pequenas e médias empresas cumpre um papel dentro do capitalismo como pioneira do processo tecnológico, abrindo brecha em novos mercados e em novos ramos e, posteriormente, é destruída pelo aumento constante da taxa de produção e a composição orgânica do capital. A pequena e média empresa constantemente é barrada pela crise neste país, funcionando como um amortecedor para o desemprego cada vez maior. As estatísticas mostram como pouco a pouco a pequena produção também passa a ser concentrada e lentamente, com avanços e retrocessos, uma proporção cada vez maior da pequena burguesia se proletariza. Como exemplo, destacamos as lojas de conveniência, ramo no qual, em menos de uma década, passou a dominar a empresa FEMSA-OXXO. Os estabelecimentos de produtos alimentícios também estão num evidente processo de se converterem numa indústria organizada.

Não nos aprofundaremos nas teorias de outras forças políticas que falam do caráter semifeudal da estrutura econômica de nosso país. É claro que podem existir regiões e casos onde se combinem formas mais retrógradas de relações de produção. Isto não afeta a generalidade como já havia explicado Marx em Gründrisse e várias cartas.

Dependência e Interdependência

Outro dos traços do imperialismo é a formação de associações imperialistas internacionais. O capital no México está estruturado no marco destes acordos e parcerias. Destaca-se, sobretudo, o caso do TLCAN, com seu correlato político-militar que é o Plano Mérida e o ASPAN (o TLCAN maior). Mais de 80% das exportações totais de 2008 do México têm como destino os EUA, da mesma maneira que dos EUA o México obtém 74,8% de suas importações.

Com base nisso, é possível falar de uma situação de colônia ou de dependência?

Aqueles que afirmam e que tipicamente insistem no fenômeno da partilha territorial do mundo sob o imperialismo para argumentar que o México é colônia dos EUA, geralmente acrescentam a isto a noção de qual propriedade alguma vez controlada pelo estado que servia à burguesia foi “privatizada”, falam de uma entrega por parte da burguesia nacional à burguesia estrangeira.

Tudo isso é inexato. Existem vários erros conceituais em que eles acreditam e derivam daí uma estratégia, uma tática e uma política de alianças.

Em primeiro lugar, a pirâmide imperialista é complementar às economias que ocupam uma posição dominante, intermediária e inferior. O mesmo que se estabelecia no parágrafo do TLC com relação ao México é aplicado aos EUA. Para eles, o México era, em 2008, seu segundo destino de exportações e sua terceira fonte de importações. Para manter sua economia fluindo, os EUA dependem, no que se refere à importação de petróleo, de quase 1/5 do que é exportado pelo México.

Por exemplo, se fala muito da dependência alimentícia do México com relação aos EUA e o caso dramático do milho. Ainda que isto seja realmente certo, não deixa de ser irônico que o principal produtor de farinha de milho no mercado dos EUA seja o Grupo GRUMA (Maseca), capital monopolista que possui sua sede no México. Assim, é possível ampliar suas ramificações.

Em segundo lugar, não se pode simplificar a questão de que México é expoliado pelos EUA, ao mesmo tempo em que seus próprios monopólios expoliam os trabalhadores e os povos de outros países. Entre as 15 empresas que investem maior capital na América Latina, encontramos 6 com sede no México: América Móvil, Cemex, FEMSA, Teléfonos de México, Grupo Bimbo e o Grupo Alfa. Estas e outras empresas mexicanas exercem um domínio monopólico sobre ramificações inteiras em alguns países. Por exemplo, a América Móvil, nas telecomunicações na América Central e no Brasil; a Cemex, no mercado do cimento, até pouco tempo atrás na Venezuela e na maioria da América Central; a Gruma, que domina até dois terços do mercado da América Central e até a poucotempo concentrava e especulava com 1/3 do mercado venezuelano; o Bimbo, com uma participação similar na América Central; o Grupo México, que controla grande parte do cobre do Peru, etc.

Em terceiro lugar, a distinção que se faz com respeito à burguesia nacional e estrangeira é forçada. A maioria das empresas e grupos financeiros que dominam o mercado no México são associações de capital estrangeiro e mexicano. Assim, acontece entre FEMSA e Heineken, Banamex e CITIBANK, América Móvil e TR Deals Insight, etc.

Em quarto lugar, o principal acordo interimperialista no México: o TLC. Embora tenha golpeado numerosos industriais individuais, de fato o TLC preservou o interesse da burguesia em seu conjunto, inclusive o da burguesia do país.

Em outros países, o declínio dos Estados Unidos e o fortalecimento de outras potências, como a China e a Rússia, impulsionam a formação de novos caminhos e alianças. No caso da burguesia mexicana, seu interesse se encontra em outro plano. Ele consiste em aproveitar sua localização geográfica e a plataforma do TLCAN que, em seu conjunto, representa um acordo nos marcos do maior mercado do mundo, com 25% do PIB global. Ao anterior, se soma a formação de mutáveis acordos bilaterais, no total de 11 acordos comerciais com 43 nações, o qual dá ao México o acesso a mais de um bilhão de consumidores potenciais.

Prova disto é o desenvolvimento acelerado que mostrou a acumulação dos principais grupos financeiros. As empresas que se encontram atualmente sob a égide de Carlos Slim (Telmex, América Móvil, Carso, Sanborns, etc.) no momento da assinatura do tratado, ou se encontravam dispersas ou nem sequer figuravam nas estatísticas, para em 2008 seu valor conjunto ser elevado a 60 bilhões de dólares. Tendo somente como base de análise o período de 2004 a 2008, o capital do Grupo Azteca-EleKtra passou de 1,8 a 6,3 bilhões de dólares, o Grupo México, de menos de 1 a 7,3 bilhões de dólares, etc.

O fato é que, da mão deste e de outros tratados, as empresas mais fortes puderam circundar, com menos obstáculos, a lei do máximo lucro, multiplicar muitas vezes seu capital e conquistar ramos da produção para além das fronteiras do México. Já desde a época do manifesto ficava claro que o capital necessitava estender-se a todas as partes, investindo e acumulando-se com ganho máximo, e não a partir das potencialidades de cada país.

No entanto, igual equívoco seria estabelecer que os ditos acordos imperialistas são equitativos. No desenvolvimento do imperialismo e do capital em geral, exerce sua influência a lei do desenvolvimento desigual. Estes acordos se firmam e se revisam atendendo ao poder de cada economia capitalista, tomando como base o poder de cada monopólio. Sem dúvida alguma, o capital que exerce supremacia é o norte-americano, e a este corresponde a maior fatia do mercado. Tudo isso explica, por um lado, a destruição da anterior base industrial do país, a transferência da propriedade e dos capitais, a busca e promoção permanente que faz o Estado mexicano de investimento de capital estrangeiro, sobretudo, destacando o ramo bancário. E, por outro lado, o fortalecimento do capital nacional, principalmente nas áreas de capital-intensivo, como são os das telecomunicações.

O que nós afirmamos

O que nós afirmamos é que não seria um triunfo que os capitalistas de nossos países mantivessem e elevassem sua cota de lucro. Nem é possível, nem é papel da classe trabalhadora buscar relações “mais justas” para seus capitalistas nos marcos dos acordos interestatais; isto não possui diferença nenhuma com buscar relações “mais justas” para nossos capitalistas sobre a base de somar-se a suas aventuras militares. Não é nossa luta e, de fato, nosso interesse é diametralmente oposto.

De fato, estamos mais é interessados que nossas burguesias se enfraqueçam. Queremos concentrar a capacidade de choque de nossa classe, especialmente de seus setores mais decididos e avançados, assim como a de seus aliados, para lutarmos contra o que restou da capacidade burguesa de resistência.

Para nós, não significa vitória os capitalistas estabelecerem, entre si, uniões militares, políticas e econômicas, que se traduzirão em melhores condições para nos subjugar. Independentemente de alguns membros excepcionais destas alianças, o que predomina nas alianças interestatais de nossa região são as relações capitalistas em sua fase imperialista e o que compete, no seio das mesmas, a cada um de seus diversos Estados membros e seus diversos monopólios. Somente na UNASUR, por exemplo, predomina a força militar da Colômbia e do Brasil. Alguém pode duvidar do caráter que adotará, com essa predominância, diante de rebeliões ou insurgências em nosso continente? Se as burguesias de nosso continente, inevitavelmente, entrarão em conflito, é melhor que não nos encontrem confusos. O melhor é que encontrem os comunistas dispostos a lutar em uníssono contra elas! Não se deve repetir o caríssimo erro de prestar nossa ajuda às perigosas aventuras de nossas burguesias, como na Primeira Guerra Mundial. No entanto, hoje nós escutamos o PC do B declarando que a direção tomada pelo BRIC (Brasil, Índia, Rússia e China, que lutam por uma maior porção do mercado mundial para seus monopólios) é uma “conquista da luta popular”.

O dilema não deve ser escolher se nutrimos a barbárie doméstica ou estrangeira. Por acaso temos de submeter uma ou duas gerações futuras aos discursos da burguesia sempre pérfida e traidora de nosso continente? Mais suor, mais sangue! Até o último centímetro da peleja proletária deve ser entregue! Trabalhador, divida o prato em que sua família e você comem e entregue aos monopólios a metade ou mais!

A solução de nossos problemas não será alcançada por nenhuma aliança entre capitais, por nenhuma gestão de capitalismo. De fato, ela será obtida pela queda do capital.

Sabemos que para conseguir uma coordenação única, em termos de programa e estratégia, entre os Partidos Comunistas da região, são necessários mais intercâmbios e mais debates, maior avanço nas ações comuns etc. Insistiremos nisso e levantamos a questão. Hoje é nosso dever fazer todo o possível para fortalecer os Partidos Comunistas.

Em tempos de colapso social e de perigo de guerras interimperialistas, um programa e uma estratégia comum que vise a derrocada de nossas burguesias é o que está na ordem do dia. A luta pelo poder proletário é o que está na ordem do dia. O Partido revolucionário organizado é o que está na ordem do dia. Um Partido internacional e, neste caso, sua seção ou estrutura em escala continental, é o que está na ordem do dia.

Viva os 90 anos do Partido Comunista Brasileiro!

Viva o internacionalismo proletário!

Fonte: http://www.solidnet.org/mexico-party-of-the-communists/2779-cp-of-mexico-ique-esta-a-la-orden-del-dia-en-america-latina-sp

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)

Partido Comunista do México: http://www.comunistas-mexicanos.org