Quem tem medo do comunismo?
Por Leonardo Godim
O ódio de Bolsonaro ao comunismo é parte fundamental de seu ideário fascista, saudoso da impunidade que a ditadura militar reservava a políticos como ele. Com sua rejeição crescendo, Bolsonaro nos faria alguns favores apontando nos comunistas seu maior inimigo. Todos os trabalhadores devem tomar consciência que os comunistas são os maiores inimigos de tudo o que Bolsonaro representa, e que nosso programa procura esmagar todos elementos no qual o bolsonarismo se apoia. Mas na realidade tudo isso aparece invertido.
O atual anticomunismo mira todos os “setores populares” – isto é, desde comunistas e nacionalistas até os parlamentares da “centro-esquerda” que já passaram completamente para o lado da burguesia. E o que é mais importante: dentro desses setores populares, os comunistas ainda constituem uma minoria que raramente consegue levar suas ideias a amplos setores da sociedade. O efeito disso é que a declaração de guerra de Bolsonaro, ao invés de ser respondida com outra declaração de guerra, leva a “centro-esquerda” à direita.
Flávio Dino, principal alvo das críticas de Bolsonaro, atual governador do Maranhão pelo PCdoB, já declarou que gostaria de mudar o nome do partido. Nas últimas eleições, o material de campanha já usava “Movimento 65” como cobertura à foice e o martelo e ao nome histórico. Frente à ofensiva anticomunista, entregam as bandeiras para não perder a divisão do bolo. Destacamos aqui o efeito que esse recuo tem para a difusão do anticomunismo.
Os comunistas, diferentemente de outros revolucionarismos, sabem a hora de recuar. É imprescindível saber a hora de valer-se dos organismos legais para o trabalho de massas e garantir a estrutura interna do partido. Seria infantil entrar no terreno da política sem reconhecer essas necessidades. Mas é justamente combatendo o liquidacionismo que devemos recuar com firmeza, sem entregar posições, ao menos não sem luta. Uma dessas posições fundamentais que não se pode entregar é a defesa do socialismo e do comunismo.
O socialismo – pois o comunismo ainda não existe como formação social – não falhou em todos os países. A Rússia feudal, atrasada e arruinada pela guerra foi a primeira experiência de construção do socialismo na história. O resultado da produção socialista foi nada menos que o desenvolvimento das forças produtivas e de uma moral revolucionária suficientes para combater e vencer um dos maiores países capitalistas do período, a Alemanha nazista. Em todos os países onde a revolução dos trabalhadores foi vitoriosa e a produção foi orientada para o socialismo, a distribuição da riqueza social foi mais igualitária que nos países capitalistas. E na USSR, como em todo Leste Europeu, a superação das guerras marcou períodos de abundância.
Não cabe aqui sintetizar todo o balanço das experiências socialistas. Apenas que o fato de que parte delas tenha sido derrotada não significa que elas tenham falhado em toda a sua trajetória. Em algum momento falharam, afinal foram derrotadas. Mas a União Soviética segue sendo a mais grandiosa experiência de revolução proletária no mundo. Aos que discordam, permitam-me perguntar como então explicar a sustentação da república socialista por 74 anos, combatendo os mais poderosos inimigos? Como pôde esse atrasado povo russo levar o primeiro homem ao espaço? Como puderam derrotar o fascismo se eram miseráveis por causa do socialismo?
São perguntas que a simples leitura da história da Rússia levanta, e que Bolsonaro gostaria de enterrar junto com as vidas de brasileiros que têm se perdido com a COVID. Também existe ciência quando o tema é a história, e aqui também o presidente genocida a substitui por “tratamentos precoces”, como o anticomunismo.
Parte da centro-esquerda brasileira está tomando a pílula do anticomunismo prescrita por Bolsonaro. Do mesmo jeito que a hidroxicloroquina, estudos apontam que pode ser letal.