Só a luta popular derrota o governo genocida!
É preciso ir às ruas para mudar a correlação de forças e derrotar o governo antipopular
Edmilson Costa
O Brasil está vivendo não só a mais complexa e dramática crise do último meio século, mas principalmente está diante de uma catástrofe que ameaça a grande maioria da população e o destino de várias gerações. É bem verdade que esta não é uma crise apenas do Brasil: está inscrita no âmbito da crise sistêmica global. No entanto, em nosso país existe uma singularidade perversa que combina a crise econômica, social, política e, especialmente, a mais grave crise sanitária de nossa história, combinada com um longo processo de regressão econômica e social.
Do ponto de vista econômico, temos uma economia estagnada há mais de seis anos, um desemprego que já atinge mais de 20 milhões de trabalhadores (se contabilizarmos os desempregados oficiais mais os desalentados), mais de 30 milhões na informalidade, 19 milhões nas filas da fome, inflação de produtos básicos, além da miséria generalizada e da mendicância que se pode ver diariamente nas ruas de todo o país. Além disso, a crise sanitária continua castigando a população: o Brasil já se aproxima dos 500 mil mortos pela pandemia e mais de 16 milhões de contaminados.
Enquanto isso, Bolsonaro segue zombando do genocídio da população, incentivando as aglomerações, receitando cloroquina para a população, conspirando contra as liberdades democráticas e provocando a China, com o objetivo evidente de sabotar a vacinação e promover o caos, que é o ambiente no qual imagina poder alcançar seus objetivos golpistas. Trata-se na verdade de um governo criminoso, responsável pela tragédia que o povo brasileiro está vivendo, capataz dos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
No entanto, não podemos esquecer que as classes dominantes brasileiras são cúmplices da tragédia do povo, tanto por serem responsáveis pela eleição desse genocida, mas também porque vêm promovendo os ataques aos trabalhadores e trabalhadoras, as contrarreformas e as privatizações. Essa mesma burguesia se aproveita do caos para continuar impondo sua agenda neoliberal, como a reforma administrativa, o assalto ao fundo público e ao patrimônio nacional.
É importante atentarmos para o fato de que não devemos ter ilusões sobre as divergências que eventualmente ocorrem no interior das classes dominantes. Esses pequenas contradições representam apenas disputas de interesses entre as várias frações da burguesia. Todos eles estão unidos para retirar os direitos da classe trabalhadora, rebaixar os salários, precarizar as condições de trabalho, de forma a garantir e ampliar os lucros do capital e do imperialismo.
Para compreendermos a dimensão mais ampla da crise, vale salientar que nós estamos vivendo uma verdadeira tragédia social e que uma conjuntura dessa ordem não pode durar por muito tempo. Nenhuma sociedade pode naturalizar por um longo período 500 mil mortos, nem mesmo em tempos de guerra, até porque a tragédia está atingindo a todos. Inúmeras pessoas em nosso país perderam um parente, um amigo, um conhecido. A grande maioria da população está vivendo um drama social, com desemprego, fome e miséria.
É importante observarmos ainda que o Brasil não é um compartimento estanque em relação ao mundo. Em vários países do continente, especialmente na América Latina, as massas desesperadas e enfurecidas contra o desastre neoliberal foram às ruas em plena pandemia. É o caso da Bolívia, do Haiti, do Paraguai, do Chile, da Colômbia e até mesmo dos Estados Unidos, onde a juventude, os trabalhadores e as trabalhadoras foram às ruas contra a barbárie capitalista. Quem imaginar que o povo brasileiro vai suportar resignadamente essa tragédia social pode estar quadradamente enganado.
Ao longo da história, nenhuma sociedade deixou de lutar quando a crise chegou a um limite insuportável. E a crise brasileira está chegando ao limite do insuportável. Os mais de 20 milhões de desempregados, os mais de 30 milhões na informalidade e os 19 milhões nas filas da fome não suportarão calados por muito tempo, mesmo com as restrições da pandemia. Não se trata de um exercício de futurologia, mas de uma situação em que está faltando apenas a gota d’água para a indignação contra essa tragédia se expressar de maneira mais efetiva.
Por isso, não faz mais sentido neste momento lutar apenas nas redes sociais ou fazer atos simbólicos. Essas formas de luta foram importantes num determinado período, cumpriram um papel de manter a chama acesa, mas a conjuntura atual requer uma mudança de tática, pois as classes dominantes e esse governo genocida continuam com seus ataques exatamente porque não têm ainda uma resposta popular que contribua para o início da mudança na correlação de forças. E isso só pode acontecer com as manifestações populares e a entrada em cena da trabalhadora, mediante paralisações em defesa da vida.
Importante ainda constatar o fato de que muitos companheiros, diante do resgate dos direitos políticos do ex-presidente Lula, estão deixando em segundo plano a luta social e jogando todas as fichas nas eleições de 2022, inclusive a maioria das centrais sindicais, que abandonaram o terreno da luta concreta para realizar ações, como no Primeiro de Maio, com os próprios inimigos de classe. Não compreendem que priorizar o processo eleitoral agora é abandonar os milhões de brasileiros que enfrentam o desemprego, a fome e a miséria e se iludir em relação aos verdadeiros objetivos dos nossos inimigos.
Não podemos ter ilusões: já está claro que as diferenças entre os setores fascistas das classes dominantes e a chamada direita tradicional são pontuais e todos eles se aproveitam do fato de que as massas ainda não estão se movimentando para avançar em sua ofensiva contra os trabalhadores e a juventude. É só observarmos o conjunto de contra-reformas, como a trabalhista e a previdenciária, os ataques aos direitos históricos dos trabalhadores, o ataque ao meio ambiente e as privatizações. Se aproveitam da pandemia para continuar passando a boiada, como disse um certo ministro.
É bom lembrar a todos, especialmente àqueles que ainda não se convenceram, que a conjuntura está exigindo uma mudança de tática contra o governo e sua política antipopular. Até porque a maioria dos trabalhadores, especialmente os informais, justamente os mais pobres, já estão nas ruas, espremidos nos trens, nos ônibus, nos metrôs para trabalhar e ganhar a vida. Poucos podem sobreviver ou fazer distanciamento social com essa migalha de auxílio emergencial, que não compra sequer meia cesta básica. Se os trabalhadores podem ir ao trabalho de segunda a sexta, é justo que também possam protestar contra a barbárie no sábado ou no domingo.
Além disso, todos os que estão comprometidos com o processo de transformações sociais em nosso país não podem mais assistir as pessoas morrendo de tiro, de fome e do vírus sem nenhuma reação organizada nas ruas. Ninguém aguenta mais esse sufoco: é preciso romper com a inércia e dar o primeiro passo, construindo as lutas organizadas, antes que as massas saiam às ruas desesperadas sem nenhuma orientação.
É bem verdade que, neste momento, em função da própria pandemia, as manifestações iniciais serão ainda modestas, como foi na campanha das Diretas Já, no Fora Collor e em outros grandes movimentos de massas, mas em algum momento não muito distante a indignação latente que existe na maioria da população brasileira se transformará em grandes manifestações de massa. Para evitar que essas manifestações ocorram de maneira desesperada e sem direção, é fundamental que exista uma orientação política consequente para evitar o que ocorreu em 2013, quando as manifestações populares pegaram muitos de surpresa.
Por isso, a hora de começar a construir o futuro é agora. As massas vão identificar aqueles que nos momentos mais difíceis romperam a inércia e se colocaram em defesa da vida e dos interesses populares. Aqueles que nos momentos mais difíceis se colocaram ao lado do povo, exerceram a solidariedade concreta e enfrentaram os poderosos serão reconhecidos no futuro. As manifestações que ocorreram no dia 13 de maio contra o genocídio da população preta e pobre das periferias demonstraram que há disposição de luta em vários setores da população.
Portanto, é fundamental trabalharmos no sentido de fortalecer as manifestações do dia 29 de maio, que está sendo convocada por partidos políticos, movimentos sociais e populares. Costurar a unidade dos setores classistas como condição fundamental para impulsionar as lutas sociais mais amplas é uma tarefa essencial neste momento. Esse governo não cairá de podre, nem será derrotado em negociações de gabinetes ou alianças com nossos inimigos de classe: pelo contrário, só o movimento de massas nas ruas e a luta dos trabalhadores, das trabalhadoras e da juventude tem a capacidade de reverter a correlação de forças e abrir a perspectiva de uma mudança de qualidade na luta de classes em nosso país.
Portanto, todas as forças classistas, especialmente a militância comunista, devem realizar o máximo de esforço de construção unitária para transformar o dia 29 de maio no início de uma jornada de lutas nas ruas para derrotar esse governo e sua política antipopular. Vacina no braço, comida no prato, emprego para todos e Fora Bolsonaro-Mourão!
Edmilson Costa é Secretário-Geral do PCB
Foto: ato do 13 de maio em Belo Horizonte