Vida Loka ano 21

imagemLucas Prestes

“Firmeza

Não é questão de luxo
Não é questão de cor
É questão que fartura
Alegra o sofredor”

Racionais Mc’s

60 milhões de brasileiros/as na pobreza, 13 milhões na extrema pobreza, 15 milhões no desemprego, 35 milhões na informalidade. A crise do capitalismo vai muito bem, obrigado! Afinal de contas, os lucros de Itaú, Bradesco e Santander seguem em alta em plena pandemia; então tudo certo, e nada resolvido (pelo menos não para nós, trabalhadores).

O vale de lágrimas que a burguesia oferece para nosso povo segue à tona, com o retorno de produtos nos mercados que não víamos há muito tempo, como farelos de arroz e ossos de boi. As filas para receber doações de comida são as maiores dos últimos 30 e poucos anos, sem contar o imenso aumento da população de rua por todo país.

Já dizia o rapper Sabotage: “Na Zona Sul, cotidiano difícil, mantenha o proceder, quem não conter tá f**dido”, porém como manter o proceder num cenário de devastação social tão brutal? Com mais da metade do nosso povo sem saber o que vai comer nas próximas 24 horas? É visível o aumento de roubos e furtos, inclusive nas periferias, com arrastões em mercados, invasões de ONGs para roubar cestas básicas e várias outras “fitas” que demonstram a barbárie que vivemos. O Litrão da Gasolina tá chegando bem perto de passar o Litrão da cerveja, e o presidente protofascista? Tentando acumular forças para o ano que vem e propondo zerar o ICMS do combustível, visando de uma só vez enfraquecer os governadores e fortalecer as milícias com a venda “direta” dos botijões de gás.

O Brasil, que tinha até há bem pouco tempo atrás, um dos melhores programas de vacinação do mundo (apesar dos crescentes cortes de verba da saúde dos governos, de Dilma pra cá) não vacinou ainda nem 2/4 da população com as duas doses, numa descarada política genocida do governo federal, sem falar da não implantação do Lockdown com as garantias sociais necessárias. Com certeza o genocídio praticado na pandemia ficará na bárbara galeria dos crimes contra a humanidade.

Nossa classe quer se vacinar (mais de 89%) e tá muito cansada dessa situação, desamparada, sem conseguir dormir direito, sem perspectiva de futuro, sem saber o que vai pôr na mesa de casa no próximo mês. Quem supostamente diz defender a vida (governadores liberais como João Dória) permitem os transportes lotados, a violência desenfreada da polícia, deixam os pequenos comerciantes e empresários ao relento. Fica difícil confiar nessa conjuntura para a operadora de Telemarketing, para o comerciário, para o operário da fábrica.

O ciclo de manifestações que se abriu do final de maio pra cá, com protagonismo dos movimentos negros e das forças comunistas e classistas, foi importante para dar um novo ânimo na luta, impulsionar as críticas da CPI, deixar os bolsonaristas e o governo federal acuados, assim como para derreter o apoio social do presidente e do partido militar.

Espalhamos pelos municípios, demonstramos força e acuamos o bolsonarismo durante um período razoável. Tivemos algumas falhas no caminho, muitas forças políticas que apostam no futuro de 2022 “falharam na missão”, não seguram na caminhada, mobilizaram contra a vontade, não mobilizaram, correram na frente para dirigir, forças vermelhas e amarelas; ainda assim, conseguimos encher as ruas, e seguiremos (para variar, os comunistas, sempre esse povo rs) na luta para encher as ruas no dia 07/09.

Porém, é possível notar um início de cansaço (tudo que o bolsonarismo e as forças que jogam peso nas eleições do ano que vem queriam; afinal, para essa parte da oposição, desgastar o governo já é suficiente). Por isso precisamos pensar nos próximos passos. Devemos mobilizar e impulsionar a luta popular o máximo possível, porém, uma greve geral é fundamental para incendiar o país e empurrar o bolsonarismo para o abismo. A greve geral é imprescindível para derrubarmos de vez Bolsonaro/Mourão (seja empurrando um impeachment goela abaixo, seja forçando uma renúncia desse governo).

Porém, a greve geral e a luta popular sabemos que não serão construídas sozinhas; por isso é dever nosso, dos comunas trabalhar incansável e diariamente no meio da nossa classe, principalmente nos locais de trabalho e nos bairros periféricos.

É preciso ouvir, ouvir e ouvir os problemas do nosso povo, mergulhar neles, aproveitar um dia de feira e escutar, conversar com as pessoas, buscar pescar as questões que afligem nosso povo. Isso é conosco, não é com a esquerda liberal, não é com 13 ou com 50, é tarefa nossa.

Precisamos aproveitar o crescimento da luta popular nesse ciclo de atos, o interesse e um ânimo renovado das pessoas para a luta, e nos embrenhar na nossa classe. Afinal, somos parte da classe trabalhadora, somos a parte que levará os interesses dela até o fim, que estará lá com a empregada, com a cozinheira, com o marreteiro, com o trabalhador de TI, quando ninguém mais estiver.

É preciso desgastar o bolsonarismo sistematicamente, e desacreditá-lo em todos os âmbitos, não apenas mudando o CPF, mas desqualificando essa política de privatizações, de “bandido bom é bandido morto”, de que pra trabalhar devemos abrir mão de direitos, de ódio à população lgbt, de submissão das mulheres, entre várias outras atrocidades.

Devemos mostrar que a democracia dos ricos é extremamente falha, mas não será o fascismo ou a ditadura pesada que resolverão os problemas da nossa classe, ao contrário, não precisamos contrapor Lula ou Dória a Bolsonaro, mas sim mostrar a necessidade e as vantagens da construção do poder popular.

E dia 07/09 estaremos novamente nas ruas, contra a escalada golpista do protofascista, contra a política de morte por covid, bala e fome e sobretudo por emprego, vacina no braço, comida no prato, greve geral, defesa dos serviços públicos para a nossa classe e pela reversão de todas privatizações!

A vida é Loka, as quebradas estão sinistras, mas não precisa ser assim, temos saída, temos uns aos outros, temos o poder popular!

“E se a mente reprimida resolver se rebelar?
Se a mente deprimida resolver se rebelar
Não tem para o exército nem pra polícia militar
Se a mente deprimida resolver se rebelar”

Consciência Humana

Lucas Prestes é militante do PCB em São Paulo.