O 7 de setembro fascista de Bolsonaro

imagemFoto: Vinícius Schmidt – Metrópoles

O papel de Goiás no 7 de setembro fascista de Bolsonaro

Guilherme Martins, para o Editorial da Agência de Notícias do Cerrado do dia 14 de setembro

As manifestações do dia 7 de setembro expressam a atual conjuntura vivenciada pela sociedade brasileira. Enquanto os setores vinculados à pautas classistas aglutinaram-se nas manifestações do Grito dos/as Excluídos/as, ampliadas pela Campanha Fora Bolsonaro, que objetivamente reuniu a dimensão da denúncia da formação social brasileira socialmente excludente, autoritária e repúdio à agenda neoliberal extremada, Bolsonaro e seu campo político autoritário-fascista, socialmente apoiado por determinados setores das frações burguesas, de médios capitalistas, de classes médias e até mesmo de proletários, promoveram uma expressiva mobilização golpista, possivelmente até mesmo buscando construir as condições para decretar Estado de Sítio.

Goiás figurou na agenda de mobilizações que Bolsonaro realizou nos últimos meses, durante a qual buscou agremiar forças para o ato golpista do último dia 7. Em visita a Goiânia no dia 27 de agosto, participou da troca de generais no comando das Operações Especiais do Exército (Copesp) junto do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e do governador Ronaldo Caiado (DEM) e depois realizou mais uma de suas motociatas. No dia seguinte, se encontrou com prefeitos, vereadores, deputados e empresários, mas antes participou de um evento em uma igreja evangélica ao lado de figuras pastores da igreja, vereadores, e novamente Rogério Cruz e Caiado. Durante seu discurso, criticou veementemente o governo de Goiás. Conhecido pelo comportamento explosivo, mas impassível às provocações proferidas pelo presidente, Caiado minimizou o incidente, retratando a fala de Bolsonaro como “opinião”.

Apesar das arestas, o governador foi parte não apenas da mobilização, mas também teve papel ativo na trama bolsonarista ao não agir de forma enérgica contra o lockout promovido por empresários do transporte, que teve Goiás como um forte ponto de apoio. O papel crucial do agronegócio no arranjo sócio-político estadual reforça as estruturas e formas sociais e culturais mais regressivas. Caiado, expressão atual da centenária oligarquia goiana, não apenas reconhece tal situação como também vive do estímulo da mesma, inclusive tendo sido eleito através dessa plataforma política ultra-regressiva.

A bancada “BBB” (Boi, Bíblia e Bala) também esteve na linha de frente da mobilização bolsonarista em Goiás. Como é possível conferir em seu perfil em uma rede social, José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) e deputado federal (DEM), esteve em Brasília na noite do dia 6, quando manifestantes começaram a furar os bloqueios da polícia rumo à Esplanada. Declararam apoio aberto ou velado, representantes da “Bíblia” para além do apoio óbvio do prefeito Rogério Cruz, como foi o caso dos deputados Glaustin da Fokus (PSC), Luiz do Carmo (MDB), Francisco Júnior (PSD), além de João Campos (Republicanos) que acumula também participação na fração da “Bala”, junto dos também apoiadores do 7 de setembro golpista, Magda Mofatto (PL) e Vitor Hugo (PSL). Todos foram importantes articuladores do movimento em suas respectivas bases de atuação.

Policiais militares também compuseram a mobilização bolsonarista. Aproveitando-se da tensão causada pelo afastamento de um coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo pelo governador João Dória, associações de policiais militares em Goiás se posicionaram favoravelmente à participação da categoria nas manifestações, convocando servidores da ativa e reservistas a compor o ato.

Mesmo que a manifestação em Goiânia pareça minimizada frente às mobilizações mais expressivas em Brasília e São Paulo, sobretudo em um cenário onde o governo federal amarga baixa popularidade e a crise econômica se amplia rapidamente, fato é que Bolsonaro e seus aliados conseguiram realizar manifestações em Goiânia e diversas cidades do interior, ao mesmo tempo que contribuíram com o envio de manifestantes para compor a manifestação em Brasília – inclusive com grande apoio do empresariado vinculado ao agronegócio – além da concentração de caminhões em importantes vias de circulação rodoviária, como ocorreu em Itumbiara, Porangatu, Mineiros, Luziânia, entre outros municípios, aparentemente à espera de um sinal do presidente. A rede de fake news via whatsapp também permanece atuante e disseminada, espalhando fundamentalismo neopentecostal e notícias falsas contra os adversários do projeto fascista da família Bolsonaro e seus aliados.

A Agência de Notícias do Cerrado (ANC) acompanha com preocupação a situação conjuntural em Goiás e reforça a necessidade de que as organizações do campo classista articulem-se a partir de um programa político radicalmente anti-neoliberal, que tenha como eixo central os interesses da classe trabalhadora, e defenda e desenvolva novas formas de relações sociais que realizem a crítica teórica e prática às relações burguesas e capitalistas. É necessário que as organizações classistas desenvolvam trabalho de base e de massas ampliando o contato com a classe trabalhadora que encontra-se cada dia mais pauperizada e precarizada pela crise econômica, política, social e cultural que assola nossa sociedade, e que a depender da conjuntura pode até vir a iludir-se com a miragem fascista.