Na luta pelas vidas transmasculinas!

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Coletivo LGBT Comunista Ceará

Diferente de algumas das identidades LGBTs, a identidade da população cujas identidades se compreendem dentro do termo guarda-chuva da “transmasculinidade”[1] teve sua insurgência dentro do vasto campo dos movimentos sociais muito recentemente. Ainda assim, suas lutas sempre estiveram em contato direto com o restante da população LGBT, principalmente somando na luta de pessoas trans no geral, visto que suas identidades também compreendem uma parcela desta categoria. Nacionalmente, no dia 20 de fevereiro, é lembrada e celebrada a luta e resistência de Homens Trans e Pessoas Transmasculinas.

Marginalizadas, pessoas transmasculinas enfrentam diversos problemas no acesso a políticas públicas voltadas às suas necessidades. Assim como o resto da população trans, em combate direto ao estado burguês e seus aparatos ideológicos, esse grupo vem conquistando acesso a direitos civis, principalmente no que diz respeito ao reconhecimento de suas identidades e a políticas públicas. Mesmo estas conquistas, que são insuficientes, estão em risco de serem tomadas das mãos desta parcela da classe trabalhadora no cenário cada vez mais conservador que vem se consolidando no território nacional.

Transmasculinos de todas as idades da classe trabalhadora são submetidos a violência transfóbica quando buscam cuidados e atendimentos de saúde sexual e reprodutiva. Essas violências ocorrem no cotidiano de homens trans e pessoas não-binárias que almejam a masculinização de seus corpos, enfrentando problemas como desrespeito ao nome social, desrespeito à identidade de gênero e dificuldades no acesso de serviços públicos.

Essas violências psicológicas e físicas fragilizam cada dia mais a saúde mental de pessoas transmasculinas. A pesquisa “Os Homens Trans no Brasil: as políticas públicas e a luta pela afirmação de suas identidades”, do psicólogo Roberto Cezar Maia de Souza, traz dados importantes e alarmantes sobre a população transmasculina brasileira, como o fato de que 66,4% dos homens trans entrevistados afirmaram já ter pensado em suicídio.

Neste entendimento, a conquista e defesa desses e dos demais direitos da população trabalhadora transmasculina é um dever comunista. Diferentemente das parcelas mais liberais do movimento LGBT, estas conquistas não são o horizonte final de nossa luta, apenas a garantia de uma qualidade de vida mínima e sobrevivência desta parcela tão afetada da nossa classe. O fim que nós almejamos é a emancipação humana completa e o encerramento dessa trajetória de opressão e exploração a que estamos submetides desde o surgimento da propriedade privada.

Ainda no horizonte dos direitos que virão a ser conquistados pela luta organizada de pessoas LGBTs e do movimento feminista, é preciso reiterar a necessidade da inserção das pessoas transmaculinas na luta pelos direitos reprodutivos, tais como o direito ao aborto, que também afetam diretamente a vida e a saúde dessas pessoas. Afinal, devido à naturalização da cisgeneridade como única experiência possível da existência humana no sistema atual, condicionada a partir de uma divisão dicotômica dos corpos e inscrita na divisão generificada do trabalho[2], estes direitos reprodutivos encontram limites quando são postos enquanto uma conquista apenas para as mulheres cisgêneras, sem compreender que existe uma parcela masculina de nossa classe que também enfrenta situações similares.

O dia 20 de Fevereiro é uma data importante para, mesmo em meio ao caos e à constante ofensiva reacionária, lembrarmos que, para mudarmos a nossa realidade a organização coletiva, é imprescindível lutar pela conquista das necessidades mais imediatas da comunidade transmasculina, com vistas à construção de um futuro digno para toda a classe trabalhadora. A história mostra que nada disso é conquistado sem antes haver muita articulação, pressão, mobilização e luta. Lutamos por uma sociedade emancipada e livre dos grilhões da opressão e da exploração, para que possamos ser fundamentalmente livres.

Notas:
[1] São várias as identidades que são consideradas transmasculinas, João W.Nery por exemplo explica a heterogeneidade que compõe essa categoria em seu texto “Transmasculinos: invisibilidade e luta” que compõem o livro “História do Movimento LGBT no Brasil” organizado por James N. Green, Marcio Caetano, Marisa Fernandes e Renan Quinalha.

[2] Sobre a naturalização dessas categorias e suas implicações vale ler “Transfeminismo e construção revolucionaria”, contribuição que Amanda Palha fez à edição de número 33 da revista Margem Esquerda, publicada pela Boitempo em 2019.

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