Gabriel Colombo (PCB-SP) na Sabatina UOL/Folha

imagem

Por Bruno B. Soraggi, via Folha de São Paulo:

Gabriel Colombo quer desmilitarizar PM e diz que Lula e Haddad não representam a esquerda

Pré-candidato do PCB ao Governo de SP participou de sabatina Folha/UOL

O pré-candidato ao Governo de São Paulo Gabriel Colombo (PCB) defende a desmilitarização da polícia no estado e critica a frente da esquerda que fez aliança “para poder ser palatável para a burguesia”. Para ele, as pré-candidaturas do ex-presidente Lula e do ex-ministro Fernando Haddad, ambos do PT, não são de esquerda.

“Nem eles se apresentam [como de esquerda]. Eles se apresentam como uma frente ampla, progressista”, afirmou Colombo na sabatina realizada pela Folha e UOL na tarde desta quinta-feira (5).

O pré-candidato é contrário à aliança de Lula com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que deixou o PSDB para se filiar ao PSB e ocupar o cargo de vice na chapa do petista.

“Alckmin foi um dos responsáveis pelo massacre do Pinheirinho [ocupação em São José dos Campos, no interior paulista, que foi desocupada com forte ação policial quando o ex-tucano era governador]. Ele é conhecido também pela repressão aos professores e suas manifestações. Que reprimiu o movimento secundarista nas escolas. E ele trouxe figuras do bolsonarismo para o mainstream na política, como o Ricardo Salles. Ele apoiou e defendeu o golpe e a prisão de Lula”, disse Colombo sobre Alckmin.

O filiado ao PCB avalia que, com a necessidade de “derrotar Bolsonaro nas urnas, a esquerda tem feito um debate de esquecer que as eleições no Brasil têm dois turnos”.

“Então setores expressivos da esquerda brasileira abriram mão de fazer um debate programático do que a maioria trabalhadora da população necessita para poder fazer conciliações com Geraldo Alckmin, com Márcio França… Pra poder ser aceitável pra direita. Mesmo aqueles que participaram do golpe em 2016, pra poder ser palatável para a burguesia, pro agronegócio, aqueles que têm ganhado muito com o projeto bolsonarista que segue em curso”, aponta ele —que vê a sua candidatura como uma proposta genuinamente de esquerda.

“Era possível fazer uma frente de esquerda no primeiro turno. E no segundo colocar como tarefa central derrotar o bolsonarismo”, disse Colombo, que evitou ser enfático em um eventual apoio a Lula caso o pleito se estenda para o segundo turno.

“Por mais que Alckmin tenha todos esses elementos do liberalismo, do neoliberalismo, uma chapa Lula-Alckmin não é igual a Bolsonaro. A gente também não vai se isentar de decisões desse tipo e achar que são todos iguais. A gente vai decidir isso no momento adequado. Mas a gente não vai deixar de fazer nenhuma crítica a essa aliança [entre o petista e o ex-tucano]”, afirmou o pré-candidato.

Para ele, o pré-candidato ao Governo de SP Fernando Haddad “tem elementos de mais liberalismo do que o próprio Lula”. “A primeira aliança de um petista com Alckmin se deu aqui em São Paulo, e foi Haddad e Alckminem 2013, nas primeiras manifestações de junho antes de tomar aquele aceno à direita”, disse.

Sobre a segurança pública, o pré-candidato defende que “temos que repensar a lógica de tratar tudo como militarização”. Ele defende uma “desmilitarização rumando para o fim da polícia militar”.

“Não é possível realizar isso no âmbito do governo estadual. Mas é possível reduzir os impactos sobre o conjunto da classe trabalhadora que as ações repressivas têm”, argumentou ele.

“[É preciso] pensar melhor a inteligência na segurança pública, e não uma ostensividade. A gente sabe que a Polícia Militar, os aparelhos de repressão e segurança do estado, eles têm uma característica que carregam vários elementos estruturais da nossa sociedade. Entre eles o racismo. Os negros, negras, sobretudo jovens, são as maiores vítimas dos homicídios cometidos por policiais, por exemplo”, disse o filiado ao PCB.

“A lógica de militarizar é a que foi utilizada até aqui. E ninguém se sente mais seguro andando pelas ruas de São Paulo e de qualquer cidade grande do estado, por exemplo. Então a gente tem que repensar essa lógica.”

Ele também propõe preparar bairros de cidades paulistas para poderem fazer defesas comunitárias de suas áreas. “Pra ter uma vigilância que não seja essa ostensividade da polícia, que nas periferias vai chegar sempre desrespeitando, assassinando. A resposta não é só o policiamento, mas criar condição para uma maior segurança pública.

A entrevista com o pré-candidato foi conduzida pelo apresentador Diego Sarza, pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto e pela jornalista da Folha Carolina Linhares.

Na sabatina, ele também afirmou que, caso eleito, vai atuar “a favor” de ocupações de famílias sem teto ou sem terra e, em último caso, para que esses agrupamentos não sejam reprimidas com violência.

“O caso do Pinheirinho, por exemplo, foi uma das maiores e mais brutais desocupações urbanas da América Latina. Autorizada por Geraldo Alckimin. No comando do governo do estado e como comandante em chefe da Polícia Militar, eu não autorizaria tal tipo de ação”, alega Colombo. “Pelo contrário. Uma vez que uma pessoa está ocupando uma área, ela está demonstrando pro estado: olha, tamanha negligência na resolução do direito, de garantir o acesso a uma moradia digna, nós ocupamos o terreno.”

Questionado que essas ocupações obedecem a ordens judiciais, ele argumentou que “o Judiciário não é neutro, ele não está imune nem à opinião pública nem à pressão popular”.

“Então, enquanto governo do estado, eu vou atuar favoravelmente a essas ocupações e contrário às decisões de posse e ordem de despejo. Esse seria o primeiro momento, que contribuiria pra que a decisão do estado não fosse essa [de despejo].”

E seguiu: “Num segundo momento, não tendo o que fazer, tendo toda a pressão para que isso fosse executado, [ele, como governador, ia] garantir que tenha áreas de recuo. Uma vez que vai haver repressão, as pessoas que estão demandando moradia não vão sumir dali. Elas vão para outro lugar. Então eu, como governo do estado, tendo áreas públicas disponíveis, mediando possibilidades emergenciais, iria buscar uma saída pra essas famílias pra que não tenham que sofrer com a repressão policial”. ​

Na área da educação, o pré-candidato disse ser contra a cobrança de mensalidades em universidades públicas. “A gente defende uma política progressiva de ampliação de vagas das universidades públicas, e vamos garantir isso nas estaduais, pra que a gente tenha condições de que um vestibular, por exemplo, não seja necessário. O vestibular é o funil que expressa a falta de vagas na universidade pública brasileira”, avalia.

“Mas não vou disseminar ilusões de que a gente vai acabar com o vestibular. A gente vai promover progressivamente o aumento do número de vagas na universidade. E isso tem que acompanhar a capacidade do estado investir e contratar professores, pra que seja feito com qualidade. E vamos jogar o máximo de esforço nisso, até que o vestibular não seja mais necessário”, disse.

Como uma das soluções para acabar com a Cracolândia, no centro da capital paulista, ele propõe “medidas urgentes” como “criar emprego em grande escala, combater a fome, garantir o abastecimento urbano e garantir o acesso à moradia”. “Isso para, digamos, fechar a torneira dessa condição social que leva tantas pessoas a entrarem nessa situação que chega a Cracolândia.”

Colombo atribuiu à queda nas manifestações nas ruas ao fortalecimento de Bolsonaro e o fôlego que ele ganhou nas últimas pesquisas. “Muita gente, inclusive dentro do PT e alguns setores do PSOL, trabalharam para: ‘Não, vamos aguardar para 2022. Ou vamos fazer dessas mobilizações pequenas, só para poder tirar um leve desgaste do Bolsonaro’. E é urgente, é inaceitável, a situação que vive o país hoje”.

RAIO-X

Gabriel Colombo, 31

Nascido no Rio de Janeiro, cresceu em Minas Gerais e em 2009 mudou-se para Piracicaba (SP) para cursar engenharia agronômica na Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz, da Universidade de São Paulo. É militante da área de moradia e de reforma agrária.

Veja a íntegra da Sabatina em:

Categoria
Tag