Conheça Gabriel Colombo, pré-candidato a governador do estado de SP pelo PCB

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O jornal O Futuro de São Paulo entrevista Gabriel Colombo, pré-candidato do PCB para as eleições ao Governo do Estado em 2022.

 

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) lançou no dia 22 de janeiro o seu pré-candidato ao governo do estado de São Paulo. Gabriel Colombo é um jovem comunista de 31 anos, na luta para construir o Poder Popular e a Revolução Socialista no Brasil. Tem um filho de 8 anos, Artur, e vive há 9 anos com sua companheira e também camarada Gabriele.

Natural do sudeste, nasceu no Rio de Janeiro, cresceu em Minas Gerais e passou sua juventude em São Paulo. Essa experiência possibilitou conhecer diferentes realidades sociais e econômicas que foram importantes para sua formação política. Se mudou para Piracicaba em 2009 para cursar Engenharia Agronômica na Esalq/USP e vive na cidade até hoje. Participou da refundação do PCB na cidade.

Gabriel concedeu ao jornal O Futuro de São Paulo uma entrevista, reproduzida abaixo:

1. Gabriel, o que te levou a entrar no PCB

Quando entrei na universidade pública, fiz várias tentativas de dar um sentido político e organizativo à revolta. Estudei e trabalhei com agricultura orgânica, agroecologia, extensão rural, movimentos sociais e populares. Na experiência prática e com o estudo, aprendi os limites do progresso pela técnica e da transformação setorial quando estão desvinculadas de um programa político da classe trabalhadora e da luta de classes. Entendi que era preciso ser radical, ir à raiz de nossos problemas sociais e econômicos. Nesse processo, encontrei a porta para o marxismo na agroecologia e três anos depois estava participando da reorganização do PCB em Piracicaba, isso foi em 2015.

2. Por que o PCB decidiu lançar uma pré-candidatura? Eleições e comunistas combinam?

O objetivo estratégico do PCB é realizar a Revolução Socialista no Brasil, não temos nenhuma ilusão de que é possível construir um capitalismo humanizado. Os problemas sociais e econômicos contemporâneos são resultado do desenvolvimento capitalista, não da falta de desenvolvimento. Veja a questão da fome, que hoje afeta 116 milhões de brasileiros. Não nos falta alimentos ou capacidade técnica para produzir alimentos, mas a burguesia, a lógica do capital, produz comida como fonte de lucro e para atender aos centros econômicos mundiais em detrimento da maioria trabalhadora dos brasileiros. É uma contradição gritante, nós batemos recordes de produção na agricultura e uma parcela maior do nosso povo passa fome.

Então, é preciso dizer que a nossa pré-candidatura está vinculada ao nosso objetivo estratégico. A Revolução Brasileira depende de trabalhadores conscientes, organizados e massivamente mobilizados. Se, por um lado, a classe é forjada na luta, por outro, ela depende da formação política para ganhar consciência socialista. E nós compreendemos que a eleição é um momento propício para contribuir com essa formação, porque parte expressiva dos trabalhadores está mais disposta e aberta para debater política e conhecer propostas. Por isso, vamos apresentar um programa socialista para São Paulo nos mais diversos espaços da juventude e da classe, nas ocupações, nos sindicatos, nas universidades, nas manifestações. Nós vamos construir uma pré-campanha de luta e socialista.

É certo que não podemos tornar o estado Socialista por decreto, no dia primeiro de janeiro de 2023, nem fazer o socialismo em um só estado. Mas como governador da unidade da federação mais populosa e com a maior economia do país, podemos colocar todos os recursos à nossa disposição para a luta dos trabalhadores, fazendo do estado um pólo de mobilização. Vamos demonstrar como é possível fazer um governo comunista em São Paulo. Não só é possível, como é a melhor alternativa para a juventude e os trabalhadores.

3. O Jornal O Futuro de SP é um jornal da Juventude do PCB, voltado para a juventude trabalhadora. Qual a análise que o Partido tem sobre a condição da juventude trabalhadora hoje?

A juventude trabalhadora é um dos setores que mais sofre no capitalismo periférico brasileiro, com o desemprego, o sucateamento da educação e da saúde, a violência policial, o encarceramento em massa e a industrialização da cultura. E, como tudo no Brasil, a sobredeterminação racial também afeta a juventude. Vou citar um exemplo. Em 2020, a taxa de desemprego no estado de São Paulo estava em torno de 14% a 15%. No entanto, o impacto do desemprego na juventude, de 18 a 24 anos, foi ainda maior, equivalente a 34% para jovens negros e 29,3% para jovens não negros.

A juventude não tem aceitado comodamente essa situação de precariedade e falta de perspectivas de futuro dentro do capitalismo. Basta olhar para as manifestações de rua, a juventude se mobiliza e é um dos setores mais dinâmicos dos atos. Ou para as batalhas de rima ocupando as praças. Ou para a onda de ocupações de escolas em São Paulo nos anos de 2015 e 2016. A UJC e o PCB hoje estão em um processo de crescimento devido ao ingresso de muitos jovens que estão construindo essas lutas e compreenderam que é necessário se organizar para superar revolucionariamente a realidade miserável que o capitalismo lhes apresenta. Eu mesmo, faço parte desse processo.

4. Qual a sua avaliação dos quase 30 anos de PSDB no estado?

O PSDB converteu o estado de São Paulo em laboratório das políticas neoliberais. São 30 anos de sucateamento e privatização nos serviços públicos, com diversos escândalos de corrupção em obras públicas, no metrô e no roubo da merenda escolar. O funcionalismo público sofre com uma política de confisco salarial após a reforma da previdência, a rede estadual de ensino não tem concursos públicos desde 2013 e os 19 Institutos de Pesquisa do estado não realizam concursos expressivos há mais de 15 anos.

A política de segurança pública é um combinado de militarização e encarceramento em massa. São Paulo possui a maior população carcerária do país e uma das Polícias Militares mais violentas, responsáveis por chacinas como a de Osasco (2015) e o Massacre da Sé (2004), e treinadas para reprimir greves, manifestações, ocupações e a população negra e pobre. São conhecidas as cenas dos professores apanhando da PM em frente à Alesp. O PSDB também é responsável pelo maior e um dos mais brutais despejos do país, o Massacre do Pinheirinho, autorizado por Alckmin.

Por outro lado, o PSDB foi um excelente governo para a burguesia paulista, construindo um legado de garantia de lucros, de segurança da propriedade privada dos meios de produção e a destinação do fundo público para o capital. A política fiscal do PSDB possui uma caixa preta de isenções tributárias em benefício da burguesia, o que é tão absurdo que mesmo o TCE, instrumento jurídico do Estado Burguês, apresentou contestação.

5. Quais as diferenças dessa pré-candidatura para as outras da esquerda?

É evidente que derrotar o PSDB é uma tarefa urgente para o conjunto da esquerda. É possível alcançar esse objetivo aliando-se ao Alckmin e ao Márcio França? Nós avaliamos que não. Alckmin governou São Paulo por 13 anos, quase metade do período que o PSDB dirige o estado. Márcio França foi seu vice nos dois últimos mandatos e o PSB cumpre o papel de linha auxiliar do PSDB no estado, por exemplo, votou em bloco a favor da reforma da previdência estadual proposta por João Doria.

Hoje, o Partido dos Trabalhadores (PT) está construindo essa aliança com Alckmin e o PSB. Ao mesmo tempo, o rumo do PSOL ainda é indefinido, se vai aceitar abrir mão de programa para apoiar Lula e Haddad no primeiro turno. Por isso, nós decidimos lançar nossa pré-candidatura, queremos garantir que a independência política da classe trabalhadora não seja rifada em nome de alianças eleitorais. Para os trabalhadores ganharem um pouquinho no capitalismo, o conjunto das classes dominantes tem que estar ganhando muito, mas a cada crise do capital, sanitária e ambiental o prejuízo recai fortemente sobre a classe trabalhadora. A experiência política do Brasil no século XXI é evidente nesse sentido.

Nossa pré-candidatura é um convite para todas e todos militantes que querem construir uma alternativa popular, anticapitalista e antiimperialista. É um convite inclusive para a militância do PT e PSOL que não concorda com essas alianças eleitorais, e não são poucos. Nós estamos convencidos de que a resposta aos dramas e as demandas da classe trabalhadora não vão surgir da conciliação de classes, dependem da construção do Poder Popular, da capacidade de organização e mobilização da classe trabalhadora. E a tática eleitoral não pode nos afastar desse objetivo. E nós nos afastamos desse objetivo se difundirmos a ilusão de que é preciso se aliar a quem participou do golpe de 2016, do teto de gastos e de uma série de contrarreformas que massacram a classe trabalhadora.

6. Quais são as medidas mais urgentes que São Paulo precisa?

A institucionalidade burguesa nos permite realizar algumas ações se contarmos com o apoio popular e mobilização massiva. Em primeiro lugar, nós vamos revogar uma série de políticas implementadas por Doria, como a reforma da previdência estadual e a lei de ajuste fiscal que permite acabar com seis autarquias estaduais, como o CDHU e o Instituto Florestal. Também, vamos revolucionar a TV Cultura, colocando a estatal de comunicação a serviço da luta dos trabalhadores.

Mesmo estando em período de debate interno sobre o programa, temos claro que hoje é urgente combater a fome, o desemprego, o déficit habitacional, a precarização da saúde pública, o caos do transporte e a militarização da segurança pública, por exemplo.

Um dos pilares da nossa política é a estatização da economia, vamos auditar todos os contratos de concessões e parceria público-privadas, o que tiver irregularidade e o que ferir o interesse público, nós vamos encampar. Isto é, retirar das empresas privadas e assumir novamente pelo estado. Com isso é possível ter efeito rápido na saúde e no transporte, por exemplo. Chega de empresário do transporte, plano de saúde e OS lucrando para prestar serviço de má qualidade.

Outro pilar, é fortalecer as universidades públicas e os institutos de pesquisa em estreita relação com as empresas estatais – atuais, encampadas e as que serão criadas, de modo a colocar a ciência e a tecnologia a serviço dos interesses populares, vinculadas aos processos de transformação radical da sociedade também na cultura e na educação.

Para combater a fome, vamos promover uma política da semente ao prato, com a produção de alimentos saudáveis em uma ponta e a criação de restaurantes populares nos bairros na outra. Para enfrentar o déficit habitacional, vamos desapropriar todas as terras urbanas e rurais que não estão cumprindo função social, construir mais casas, congelar e tabelar o preço dos aluguéis. Nenhum paulista dormirá na rua nem em condições insalubres!

7. Qual recado final você deixaria aos moradores de São Paulo?

Nós não entramos nessa disputa para perder. O resultado das eleições não está dado. 2022 é ano eleitoral, é ano do centenário do PCB e pode ser também um período de muitas lutas, daqueles em que meses significam anos, como escreveu Lenin. Nos colocamos com grande responsabilidade para construir um programa socialista estreitamente vinculado às lutas populares, queremos ganhar os corações e mentes da juventude e da classe trabalhadora. Nós lutamos sobretudo para construir o Poder Popular, capaz de realizar nosso programa independente de quem sair vitorioso em 2022.

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