Quem tem direito à memória?

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Por Ivie Mendonça e Ruggeron Reis*

O caso do Memorial do Jacarezinho e a disputa pelo espaço público

No dia 11 de maio, a Polícia Civil do Rio de Janeiro destruiu o Memorial às vítimas da Chacina do Jacarezinho, localizado na favela de mesmo nome. Como consta em nota do Observatório Cidade Integrada:

“O Memorial foi uma ação concreta para lembrar as 28 vidas perdidas, sejam elas civis ou policiais, vítimas da política de violência que os governos do Estado do RJ vêm aplicando contra a população de favela, em sua maioria composta por pessoas negras, ano após ano, por diferentes governantes que ocupam esta posição.”

A nota destaca ainda o Memorial como pertencente a uma série de atividades realizadas no Jacarezinho por organizações populares locais e coletivos que intervinham no estado urbano imediato da Favela para pensar outras formas de presença do Estado, que não por meio da violência, esquecimento e silenciamento da juventude e trabalhadores.

Tal episódio marca mais uma ofensiva aos direitos de pessoas pretas e pobres: neste caso, o direito à memória. A disputa pela memória marcada em espaços públicos traz consigo a emergência do debate sobre o que deve ser esquecido e o que merece ser lembrado. Assim, tal processo de seleção pode ser considerado mais uma expressão da luta de classes, sendo a memória dominante a memória da classe dominante. É a ação ideológica da burguesia em prática, em constante ataque às classes trabalhadoras e à chamada franja marginal.

Os ataques são feitos pois sabem que, neste caso específico e em tantos outros, o uso da memória não é apenas para atender ao processo de luto, mas também ao processo de denúncia e articulação das demandas concretas da população do Jacarezinho. O papel reivindicatório da memória se coloca então no horizonte de se escrever uma história a contrapelo, uma resposta de quem é atacado. Enquanto há proteção pelo Estado de monumentos dedicados a preservar a memória dos ditos grandes heróis nacionais, que em verdade são documentos da barbárie que constitui a formação do Brasil, há por parte deste mesmo Estado investidas contra a valorização da memória popular.

Apagar a memória da nossa luta só serve aos interesses de quem não tem interesse na nossa vitória.

Se apresenta como um dos nossos deveres enquanto comunistas denunciar mais essa face do cenário de guerra declarada aos pobres e oprimidos, uma vez que a política da burguesia se desdobra sobre a memória individual e coletiva do nosso povo. Assim, pensar criticamente os processos de memória, esquecimento e silêncio, é amplificar a visão para as memórias marginalizadas. O processo de monumentalização da História e memória de nossa classe, ainda que por meio de marcos traumáticos, é uma contraofensiva à memória oficializada e um lembrete à classe dominante: Aos nossos mortos, nem um minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta.

*Militantes da UJC e Minervino do Rio de Janeiro

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