Sobre a Suécia e a OTAN: entrevista com Andreas Sörensen, presidente do SKP

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Andreas Sörensen, presidente do Partido Comunista da Suécia (SKP), foi entrevistado pelo jornal turco de esquerda “Evrensel” sobre a questão da adesão da Suécia à OTAN . Leia abaixo o texto da entrevista:

Evrensel – Qual é a sua abordagem ao processo de adesão à OTAN da Suécia (e da Finlândia, se você também quiser comentar)? Por que você é contra?

Andreas Sörensen – Como comunistas, nos opomos ao fortalecimento de todas as alianças imperialistas. Isso também se aplica à OTAN, em particular porque é a aliança imperialista mais forte do mundo contemporâneo.

As razões da nossa oposição são muitas.

Em primeiro lugar, o processo representa uma grande ameaça para os povos das regiões nórdicas e bálticas, porque a atenção militar dos concorrentes da burguesia sueca será mais claramente dirigida contra nós.

Em segundo lugar, uma adesão significará que os jovens em nossa própria terra enfrentarão maiores riscos de serem enviados ao exterior para defender os interesses da burguesia sueca em particular e os interesses comuns das burguesias dos estados membros em geral.

Em terceiro lugar, isso representa um fortalecimento da posição da burguesia sueca no sistema imperialista. A burguesia sueca é pequena, mas ativa, com grandes interesses no exterior. Em meio às crescentes contradições dentro do sistema imperialista, é necessário que eles tomem medidas maiores para garantir esses interesses.

Evrensel – Por que o governo social-democrata, que já foi contra a OTAN, agora quer essa adesão? Eles têm razões compreensíveis?

Andreas Sörensen – Entendemos a realidade econômica como o principal motor por trás da política. Em 2021, o congresso dos social-democratas afirmou que “a neutralidade nos serviu bem” e que a Suécia “não se tornará membro da OTAN”. Um ano depois, eles são a força motriz por trás do processo de adesão. Isso é um reflexo dos rápidos desenvolvimentos e mudanças dentro do sistema imperialista.

A competição do capital ocidental com o capital russo deu um salto qualitativo com a invasão imperialista da Ucrânia. Para a burguesia sueca, a defesa de seus próprios interesses tornou-se mais aguda. A burguesia sueca fez enormes investimentos na região do Báltico, onde enfrenta a concorrência do imperialismo russo. Ao mesmo tempo, o Mar Báltico é de interesse estratégico não apenas para a Suécia, mas também para a Rússia. O aguçamento geral das contradições acentua essas contradições específicas.

Também é importante destacar que a Suécia tem importantes vínculos com os mercados principalmente alemão e norte-americano, ligando os interesses suecos aos ditos alemães e norte-americanos; e onde há relações econômicas importantes, seguem-se as relações políticas e militares.

Portanto, a questão de saber se isso é compreensível ou não – essa não é a questão principal. Claro, é compreensível. É compreensível do ponto de vista da burguesia sueca. Entendemos as razões por trás desse desenvolvimento, mas a compreensão não implica aceitação.

Evrensel – Se isso for oficializado, como essa adesão afetará a Suécia e também as relações regionais/internacionais?

Andreas Sörensen – Pode-se ver algumas consequências diferentes da adesão da Suécia à OTAN. Mais obviamente, a relação entre a Suécia e a Rússia continuará a se deteriorar, e o intercâmbio econômico e político dos dois países diminuirá.

A oficialização da adesão também aproximará a Suécia política, militar e economicamente dos EUA, Alemanha e outras grandes potências imperialistas do Ocidente. Ao mesmo tempo, levará também a uma consolidação política da região nórdica no âmbito da OTAN.

Em geral, isso faz parte de um processo em que os blocos imperialistas do mundo se consolidam. As contradições aguçadas significam que está se tornando mais difícil permanecer neutro e existir fora de qualquer bloco. Essa lógica não se aplica apenas à Finlândia e à Suécia, mas a todos os países capitalistas do mundo, porque todos os países capitalistas fazem parte do mesmo sistema.

Evrensel – Como podemos ver, não há um protesto prolongado do público sueco contra a OTAN – como partido, vocês têm um plano/chamada para impedir essa adesão?

Andreas Sörensen – O público sueco permanece relativamente passivo, embora uma parte significativa dele rejeite a adesão. No entanto, eles não vão levar suas opiniões para a rua.

Há protestos e manifestações contra esse desenvolvimento, mas eles permanecem politicamente imaturos e seus participantes são ideologicamente fragmentados. Enquanto partes do movimento apoiam a invasão russa e se posicionam ao lado do capital russo em sua luta contra o capital ocidental, outras partes apoiam a entrega de armas à Ucrânia, tomando o lado do capital ocidental. Nenhum conseguiu adotar uma posição de apoio aos trabalhadores da Ucrânia e da Rússia, e muito poucos conseguiram vincular o desenvolvimento ao sistema capitalista.

Essa fragmentação ideológica se manifesta na confusão sobre o que está acontecendo e na incapacidade de analisar e mobilizar efetivamente. É por isso que escolhemos nos distanciar do movimento como tal, focando em nosso próprio trabalho.

Neste contexto, é preciso dizer que somos um pequeno partido. Infelizmente, não estamos em condições de considerar planos para interromper ou impedir a associação. Usamos a situação para transmitir nossas opiniões e também organizamos protestos contra esse projeto. Estamos prestes a entrar em uma campanha eleitoral, onde a oposição a esse projeto terá uma posição de destaque.

Evrensel – Como foi até agora o efeito da guerra da Ucrânia na Suécia? (socialmente, economicamente, politicamente, etc.)

Andreas Sörensen – A guerra em particular e as contradições agudizadas em geral afetaram a Suécia de várias maneiras.

Obviamente, esse desenvolvimento permitiu à burguesia rejeitar oficialmente a neutralidade e buscar a adesão à OTAN, o que por sua vez terá um grande impacto na situação de segurança em nosso país.

Além disso, vimos o clima político mudar. As manifestações de solidariedade para com a Ucrânia foram imensas e assumiram proporções extremas. As bandas que tocam música folclórica russa foram canceladas, a comida russa foi retirada das prateleiras e tivemos nossos escritórios do partido na cidade de Malmö, no sul, vandalizados como resultado de nossa oposição às entregas de armas para a Ucrânia.

Como no resto do mundo, os preços dos bens básicos e da habitação dispararam nos últimos dois meses, elevando o custo de vida e colocando uma pressão adicional sobre as pessoas aqui. Em parte, isso é resultado de sanções contra a Rússia e às sanções da própria Rússia, mas também é resultado de contradições gerais dentro do sistema, afetando os preços do petróleo e do gás, bem como vários outros fatores.

Evrensel – Por fim, qual é o seu comentário sobre o movimento de veto do governo turco e suas exigências para aceitar a adesão desses dois países à OTAN?

Andreas Sörensen – Na Suécia, a questão foi retratada como começando e terminando com a questão curda. A Suécia deu asilo a vários refugiados curdos da Turquia, que a Turquia quer extraditados. Às vezes, o embargo de armas que a Finlândia e a Suécia impuseram à Turquia em 2019 é trazido à tona. No entanto, com mais frequência, a mídia se concentra na questão curda.

Isso é parcialmente irrelevante, pois a posição da Turquia dentro do sistema imperialista permanece oculta e obscura com esse tipo de abordagem jornalística.

Podemos ver que a Turquia, em muitos aspectos, é mais dependente da Rússia do que dos EUA. Os volumes de comércio entre a Turquia e a Rússia são maiores do que entre os EUA e a Turquia; os investimentos turcos na Rússia são mais importantes do que os investimentos turcos nos EUA; a situação energética na Turquia significa que é necessário manter relações pelo menos cordiais com a Rússia; a construção de uma usina nuclear no sul da Turquia pela Rússia é um incentivo muito importante para manter boas relações com a Rússia; a Turquia comprou armas russas em vez de armas americanas.

Então, deve-se perguntar: qual seria uma boa maneira de mostrar à Rússia que a Turquia não assume automaticamente a posição dos EUA e seus aliados? Rejeitar a entrada da Suécia e da Finlândia na OTAN. Em última análise, pode ser improvável que eles recusem a entrada da Suécia e da Finlândia, mas eles terão mantido um certo nível de relações amistosas com a Rússia por suas ações.

Sustentamos: o fator econômico é o principal motor por trás das políticas de um determinado país.

Via Em defesa do comunismo. Traduzido pelo PCB.

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