Comentando o artigo do PSTU sobre o PCB e a “Frente Eleitoral”

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Por Fábio Bezerra (membro do CC do PCB)

Recentemente, em seu portal na internet, o PSTU publicou uma matéria com o seguinte título: “Por que não é possível uma frente eleitoral com o PCB”, sob a pretensa intenção de “esclarecer” as razões do malogro de uma frente eleitoral de esquerda. Diante das mentiras e acusações promovidas nesse artigo, na suposta tentativa de justificar a não constituição da frente eleitoral entre PSTU, PCB e UP, nos sentimos no dever de responder às falácias e incorreções desse texto, assinado por um dirigente nacional do PSTU.

O artigo inicia sua apresentação procurando justificar a não unidade em uma chapa para as eleições presidenciais de 2022 com um peculiar argumento que caberia supostamente às “organizações revolucionárias”: “(…) predomina a necessidade de que os revolucionários apresentem seus próprios programas, e não a unidade dos distintos setores.” Dessa forma, o próprio artigo já deixa evidente de início a intenção de também justificar o direito de cada uma das organizações lançarem seus programas e chapas próprios, mas o faz com um conjunto de ataques fabricados e caluniosos, que mais procuram criar cizânia e fazer chicana nas redes sociais do que de fato tratar de modo sério e coerente o debate ao qual se propuseram.

Em primeiro lugar, no início desse ano a direção do PSTU procurou a direção do PCB para a discussão do processo eleitoral e, na reunião que tivemos, mesmo antes de aprofundarmos qualquer debate sobre conjuntura, programa e estratégia, foi “oferecida” a vice candidatura em uma possível chapa encabeçada pelo PSTU. Um jeito nada hábil de se iniciar qualquer possível debate programático, que deveria ser feito sem açodamentos e com real disposição para construir uma “Frente eleitoral”. Esse artigo é de uma hipocrisia muito grande: nos bastidores, buscaram uma aliança; como não aconteceu, jogam para a plateia com acusações infundadas.

O referido artigo aborda três temas para justificar a não consecução da frente eleitoral. O primeiro deles, de caráter histórico, citando o apoio ao Governo de João Goulart com a descabida acusação de o PCB à época ter atuado como se estivesse“ (…) impedindo um papel independente da classe operária perante esse governo e desarmando a reação das massas ao golpe militar”. No período, o PCB manteve uma posição de independência em relação ao Governo Jango, apoiando as medidas que considerava avançadas para o contexto como a proposta de reforma agrária, os aumentos do salário mínimo, a taxação das remessas de lucros das empresas multinacionais, assim como as chamadas “Reformas de Base”, medidas que provocaram a reação da classe dominante, que articulou o Golpe de 1964 e impôs no país mais de vinte anos de ditadura, com a suspensão de direitos políticos, cassação de mandatos, censura à imprensa, às atividades literárias, sindicais, estudantis e culturais, perseguições, prisões arbitrárias, tortura, assassinatos e desaparecimentos de ativistas contrários ao regime, dentre outros tantos crimes e ações que ampliaram o poder político e econômico da burguesia e a presença imperialista não apenas no Brasil, mas também na América Latina.

É uma mentira absurda, totalmente desrespeitosa e falsificadora, dizer nesse artigo que o PCB desarmou a população e que não estimulou qualquer tipo de reação ao Golpe. Diversas lideranças comunistas foram presas, torturadas e tiveram seus mandatos parlamentares e sindicais cassados. Nosso Partido foi posto na ilegalidade e nosso Secretário Geral à época figurava como primeiro na lista dos perseguidos pelos militares que tomaram o poder em 1964. Tais afirmações são um desrespeito para com todos(as) aqueles(as) – inclusive seus familiares – que tiveram suas vidas atingidas pela repressão violenta que se seguiu ao golpe.

Sobre o apoio ao Governo Lula entre 2003 e 2005, deve-se lembrar sempre que à época foi formado um amplo leque de composição política com diversas organizações de esquerda, em torno de um programa que propunha combater o avanço do neoliberalismo no Brasil, as privatizações e demais reformas nocivas à classe trabalhadora, em um contexto conjuntural específico, sendo que o próprio PSTU apoiou a eleição de Lula no 2º turno! Após dois anos de embates e com a evidência de que não havia a menor possibilidade de disputa em torno dos rumos do Governo Lula, o PCB fez sua ruptura à esquerda, muito antes dos escândalos do “Mensalão”, com críticas que acentuavam as contradições do Governo Lula e sua capitulação frente aos interesses de setores da burguesia brasileira e do mercado financeiro, interesses esses que impediam qualquer avanço em medidas populares como a reforma agrária, reforma urbana e ampliação de direitos sociais, reformas essas que nunca saíram do papel.

Esquece-se o autor do artigo de que o CC do PCB fez duras críticas à reforma previdenciária de 2003 e se solidarizou com os deputados petistas que votaram contra ela. Sobre a citação à entrevista de um dirigente do Partido, é importante ressaltar a distorção do trecho pinçado, descontextualizado do conjunto da entrevista, para tentar dessa forma causar uma clara manipulação com o objetivo de difamação de nosso Partido, no momento em que estamos construindo uma pré-campanha anticapitalista e anti-imperialista com críticas não apenas ao ultraliberalismo reacionário de Bolsonaro, mas também à requentada fórmula da conciliação de classes representada pela chapa Lula/Alckmin.

A pretexto de nos acusar de estalinismo e, a partir desse velho e desgastado clichê tentar demarcar, de forma maniqueísta, algum campo propositivo em relação ao debate da conjuntura internacional ou da atual geopolítica, é importante desmascarar mais uma vez a prática de calúnia e difamação que certas correntes trotskistas ainda insistem em promover e que no artigo publicado na página do PSTU fica muito evidente.

É mentirosa e cínica a declaração de que apoiamos o governo Putin e o Estado russo no conflito militar na Ucrânia! Em nossa nota política publicada em 25 de fevereiro desse ano, “Declaração Política sobre a crise militar na Ucrânia”, deixamos claro que esse conflito é o resultado direto das contradições da crise do sistema capitalista, que teve seu epicentro em 2008 e que, de lá para cá, agudizaram-se os conflitos imperialistas na geopolítica mundial, conflitos esses que expõem os interesses do avanço militar da OTAN e da hegemonia estadunidense na região, em contraposição aos interesses da burguesia russa, a qual encontra apoio no governo conservador de Putin.

Mas de fato temos muitas diferenças no plano internacional e tomo como empréstimo parte do artigo que ataca o PCB no site do PSTU como parâmetro para demarcar, entre tantas outras diferenças, aquilo que compreendemos como atitudes contrarrevolucionárias que se passam por “revolucionárias”, como indicado no referido artigo. Essa corrente trotskista se comporta no Brasil como a mão esquerda do imperialismo. A começar por quem apoiou o movimento “Solidarinosc” na Polônia dos anos 1980 (quando o PSTU ainda era uma tendência do PT) e seu líder sindical Lech Walesa, que, com o apoio da CIA e dos setores mais reacionários da Igreja Católica, combateram o governo socialista sob o lema da “liberdade”, implementando, quando eleito presidente, reformas neoliberais como privatizações de empresas públicas e serviços sociais e desmonte do legado socialista.

Saudaram o fim do bloco socialista e a queda da antiga URSS, como um sinal de renovação “revolucionária” das massas contra a burocracia e o “estalinismo”, quando de fato houve significativos retrocessos, em especial a destruição das conquistas sociais e da soberania desses povos, com efeitos no plano ideológico em todo o mundo, contribuindo em diversos países para a proliferação do discurso liberal, dos valores da economia de mercado de um lado e dos renegados pós-marxistas de outro, os quais ocuparam diversos espaços para semear as “boas novas” do “fim da luta de classes”, da conciliação e do reformismo como metas do movimento popular e sindical.

Também não é possível esquecer a oposição sistemática que a LIT e o PSTU fazem contra a Revolução Cubana e sua histórica e heroica resistência em mais de 60 anos de um embargo criminoso mantido pelo imperialismo estadunidense. Muitas vezes assistimos perplexos a ressonância que promovem das campanhas midiáticas promovidas pelo complexo de propaganda anticomunista estadunidense.

Da mesma forma temos divergências com as investidas panfletárias e sectárias contra as conquistas que os povos da América Latina, mesmo em condições adversas, contabilizam contra o jugo do imperialismo e suas elites subalternas, não podendo deixar de citar aqui os arroubos vanguardistas de quem em plena crise que culminou no impeachment de Dilma em 2016. Por mais que estivéssemos em oposição ao Governo do PT, não conseguiram compreender o avanço reacionário das forças mais retrógradas do país, reduzindo sua análise e sua bandeira de agitação a uma palavra de ordem esquizofrênica em torno do “Fora Todos!”, que nunca conseguiu dialogar com as massas sobre as contradições e a gravidade daquele contexto!

Gostaria de terminar essas considerações dizendo que é lamentável que tenhamos de responder a um artigo que, em nome de procurar “esclarecer” as razões da não consolidação de uma “frente eleitoral”, preferiu, sob esse pretexto, atacar e desqualificar de forma oportunista e mesquinha uma organização política que vem marchando lado a lado a tantas outras organizações socialistas na defesa da classe trabalhadora e na luta diuturna contra o modo de produção capitalista e seus gestores de plantão.

Não somos contra o bom e necessário debate e as polêmicas que possam surgir, até porque os marxistas não podem recear o debate crítico, fundamental para trazer à tona diferenças e equacionar conjecturas nos diversos cenários colocados, envolvendo atores políticos, inimigos, adversários e possíveis aliados na trama conjuntural. Mas não podemos confundir críticas com calúnia e admitir em hipótese alguma difamação gratuita contra nosso Partido e contra nossos camaradas, tampouco falsificação da história e intriga torpe e desqualificada, muito comuns nas ações arrivistas que a direita tradicional lança em seus periódicos e que – diga-se de passagem – não nos intimidam!

Vivemos um dos piores cenários das últimas décadas sob todos os aspectos e esse amálgama de contradições acentuam ainda mais nossos desafios e nosso compromisso com a revolução socialista. Nesse sentido sabemos muito bem quem são nossos inimigos de classe, quem nos assassina nas vilas, favelas e periferias, quem nos explora e retira paulatinamente nossos direitos, quem saqueia o fundo público, privatiza nossas empresas e riquezas naturais e se fortalece com as benesses do Estado para impor e aumentar seu poder político e econômico. Espero que tenhamos a sensatez de reconhecer nesse turbilhão de ataques da burguesia, de miséria ideológica, de vacilações e traições, de mentiras e desalentos, aqueles que possam estar lado a lado nas trincheiras de luta contra a barbárie capitalista, aliados não por escolha, mas por convicção e necessidade de resistir, lutar e transformar revolucionariamente a realidade brasileira.

Espero também que todos aqueles que entendam o processo eleitoral como um palco para a disputa de “corações e mentes”, como um espaço privilegiado para a agitação e propaganda revolucionária, possam aproveitar cada minuto, cada segundo em que ainda temos tido condições de participar nesse processo, para combater o protofascismo em curso, denunciar esse governo reacionário, assassino, responsável direto pelo genocídio de mais de 660 mil vidas no Brasil e as contradições do capitalismo, da burguesia e do imperialismo, bem como as falácias daqueles que propõem conciliações de classes como “remédio” para a crise do sistema!

Que não percamos tempo em ataques estéreis e descabidos entre nós, pois a conjuntura exige dos revolucionários toda a atenção e empenho contra os verdadeiros inimigos do povo!

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