O conflito com o PCV é fruto da luta de classes

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Unidade e Luta (UyL) extrai o resumo de uma longa entrevista com Carolus Wimmer (C. W.), Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista de Venezuela (PCV) na qual ele responde à situação atual na República Bolivariana da Venezuela.

C. W.- Antes de começar a responder as perguntas da UyL, gostaria de agradecer em nome do PCV pela solidariedade demonstrada pelo PCPE (Partido Comunista de los Pueblos de España), após a pandemia que nos impediu de ter relações face a face, mas não virtuais e telemáticas.

UyL: Quais são as relações atuais do governo com o PCV e o Polo Patriotico?

C. W.- Devo começar por dizer que nesta primeira resposta sou muito franco. No período do Presidente Chávez, eliminando os pontos idealistas que foram expressos, por exemplo, no “socialismo já”, saudamos o processo de luta pela libertação nacional, que não existe na Europa, mas existe em outros continentes como a África e a América Latina.

O imperialismo, especialmente o imperialismo ianque, continua, dois séculos depois, com sua política de considerar o resto do continente como seu quintal, reafirmando-o com a famosa Doutrina Monroe, enunciada em 1823. Mas na Venezuela, sob Chávez, foi formado um amplo movimento popular para recuperar direitos de soberania, que se esperava que continuasse o processo já em andamento.

Infelizmente, com a morte física do Comandante Chávez, o curso não seguiu os desejos inicialmente considerados, mas se transformou em um processo social-democrata, da mesma forma que na Europa, como você bem conhece. A social-democracia defende os interesses do capital, independentemente da ornamentação de seu discurso com belas palavras.

O PCV tem uma concepção estratégica com uma política de alianças e, portanto, fez um grande esforço para tentar chegar a acordos para a unidade nacional e latino-americana. Com a consideração tática, o PCV ofereceu ao Presidente Maduro, em fevereiro de 2018, em uma reunião realizada na sede do PCV, um documento composto de 19 pontos a serem assinados pelo PSUV e pelo PCV, para apoiar a candidatura de Maduro às eleições presidenciais a serem realizadas em 2018, que se comprometia com a defesa dos trabalhadores e trabalhadoras, no âmbito da Constituição, mantendo comunicação constante para dar seguimento aos acordos. Este foi um grande esforço por parte do PCV, que foi endossado por uma Conferência Nacional. O PCV é um partido pequeno, mas indispensável para garantir a vitória de Maduro, caso contrário, eles não teriam assinado o documento. O PCV é um partido com 91 anos de história e uma luta diversificada. Mas, os acordos assinados nunca foram cumpridos pelo PSUV, como um bom exemplo do que a social-democracia sempre foi.

Isto não significou nenhum passo atrás para o PCV. Com base nos interesses dos trabalhadores, camponeses, povos indígenas e outros setores populares, a luta pelos salários, pelos direitos da classe trabalhadora, pelo bem-estar social, etc. continuou. Foram feitas tentativas sem sucesso para restabelecer as relações, enviando expressamente cartas ao PSUV com essa intenção, mas tudo isso sem sucesso. Essencialmente, podemos ver isto como uma queda direta dentro da luta de classes. Em resumo, no momento não há compromisso e não há comunicação de um lado para o outro. O mesmo aconteceu com o Polo Patriotico, que só foi mencionado nos processos eleitorais.

Já em 1848, voltando ao Manifesto Comunista, Marx e Engels explicaram que a luta de classes é o motor da história, que adota várias tendências. A unidade é muito importante, mas a unidade deve ser baseada em certos princípios. Isto leva a um confronto com o PCV, que, embora defendendo os interesses da classe trabalhadora, encontra a classe inimiga que se opõe a ela por esta causa, incluindo o governo, o que implica em censura contra o Partido Comunista. O autoritarismo está ocorrendo, impedindo nosso deputado de tomar a palavra.

A terceira fase é a repressão planejada em todos os níveis, nacional, regional e local, que envolve prisão, perseguição e morte. Até agora há mais de 300 líderes camponeses assassinados por defenderem direitos consagrados na Constituição, lutando contra os latifundiários que estão sendo defendidos pela Guarda Nacional e outras forças policiais. O PCV nesta fase já sofreu 6 camaradas assassinados, dois deles este ano.

UyL. – Hoje existe uma relação diferente com a chamada oposição política, que também implica uma disposição diferente em relação ao imperialismo. Quais são os elementos que caracterizam esta mudança?

C. W.- Por trás das políticas, temos sempre que analisar a quem estas políticas favorecem. Antes, havia milhões de notícias sobre a Venezuela todos os dias, mas agora a Venezuela não está nas notícias. Se a Venezuela não é mais notícia, é uma má notícia. A tendência do capital na mídia reforça a síntese neste sentido.

Como você assinala, a oposição na Venezuela é fascista, e nós enfatizamos o fascismo porque lembramos dos eventos de 2014, 2015 e 2016, onde até mesmo pessoas foram queimadas vivas, ataques à infraestrutura como escolas, hospitais, centros públicos, etc., e onde o autoproclamado Guaidó, é livre, porque existe um pacto que inclui os EUA interessados no petróleo venezuelano, que sabemos que será usado para a guerra em outros continentes. As zonas econômicas especiais conhecidas como maquilas são utilizadas para este fim, com exemplos em vários países da América Central, onde os trabalhadores não têm quaisquer direitos, trabalhando como escravos, e as empresas que operam lá estão isentas de impostos por 20 anos.

Isto reflete um confronto dos diferentes setores produtivos, sendo o último deles o dos educadores, cujos direitos, incluindo seus acordos, foram violados por decreto.

UyL.- Sabemos que as condições econômicas da classe trabalhadora e dos setores populares sofrem uma constante perda de poder aquisitivo, qual é o trabalho do PCV nesta estrutura?

C.W.- Constatamos que o salário médio dos trabalhadores é de 22 dólares por mês, sendo a necessidade de cerca de 400 dólares, segundo estudos, em uma economia totalmente dolarizada…

NOTA: A gravação completa desta entrevista será enviada em breve para nossos sites digitais, assim como a segunda parte, exclusivamente em UyL digital e se concentrará no XVI Congresso da PCV a ser realizado nos dias 3, 4 e 5 de novembro.

Equipe editorial de Unidad y Lucha
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