Pela liberdade do povo preto!

 

Pela liberdade do povo preto, viva Palmares e o aquilombamento da classe trabalhadora!

Neste 20 de novembro de 2022 a luta de classes coloca-se em um outro patamar na periferia do capitalismo. Novos desafios na forma de organização e luta estão colocados para pretos e pretas diante da realidade brasileira atual. O Bolsonarismo pôs em andamento o projeto da extrema-direita, que insiste em ocupar as ruas após a derrota nas urnas do seu representante no executivo. Como se não bastassem as manifestações negacionistas e os apelos à intervenção militar, a extrema-direita atua em conjunto com a grande mídia corporativa, buscando convencer a população de que as articulações para o atual governo já sinalizam um mau começo. Trata-se de um terrorismo econômico diante de qualquer possibilidade de contenção do teto de gastos por parte do Estado no futuro governo- discurso que encontra na grande mídia uma forma de alcançar trabalhadores e trabalhadoras. Mais de 33 milhões de pessoas, mais do que a população total da Bolívia passando fome, não causou qualquer preocupação desses setores, que tem buscado apoio em jornais como a “Folha de São Paulo”, para transmitir uma imagem de mau começo de Lula, quando já temos hoje no país uma realidade recorde de desnutrição de crianças e adolescentes e mais de 200 mil pessoas sem teto (PAULANI, 2022).

Tais elementos não fizeram e nunca farão o mercado mobilizar qualquer ação de erradicação da pobreza, porque os seus lucros só podem ser garantidos pelos mecanismos de superexploração da força de trabalho, especialmente em países da América Latina, África e Ásia. Temos como povo preto o desafio de organizarmos uma luta de fôlego junto ao conjunto da classe trabalhadora, exigindo a revogação do teto de gastos e a garantia de direitos fundamentais para a construção de condições dignas de luta por liberdade: a reforma agrária popular, erradicando a secular concentração fundiária em nosso país que nos atingiu desde a Lei de terras de 1850- condenando à fome trabalhadores do campo e da cidade; a garantia de moradia digna, saúde e educação para todos e todas, e o fim da destruição dos biomas da Amazônia, promovida pela expansão do garimpo e agronegócio, aliados do armamento do campo e assassinato de lideranças camponesas. É urgente o fim dos despejos urbanos, que ameaçam a vida de famílias na cidade, bem como o fim da violência policial nas favelas, que criminaliza a população preta, difundindo o medo na sociedade e a imagem do tipo suspeito, associada à imagem do negro(a).

A educação popular nas periferias é de suma importância, e, para isso, precisaremos retomar os ensinamentos de Samora Machel, líder revolucionário moçambiquenho, bem como o pertencimento étnico-racial, mencionado por Lélia Gonzáles, capaz de nos fazer resistir à opressão racista.

A educação popular antirracista precisa ser construída nos territórios (quilombos, favelas), mas precisa também servir de referência para os conteúdos e currículos que formam os filhos e filhas da classe trabalhadora nas escolas públicas. Dar visibilidade à luta organizada em andamento é tarefa de todo militante preto organizado, que esteja comprometido com o projeto de transformação societária. Nesse sentido, é nossa tarefa exigir o cumprimento das Leis 10.639/03 e 11.645/08 nas escolas, mas também fortalecer as lutas por uma formação de qualidade nas licenciaturas que possam garantir formação antirracista aos professores.

O pertencimento étnico-racial necessita ser construído no engajamento junto à cultura do povo preto. O samba, o jongo e a capoeira como cultura de resistência, para que sejamos preservados do violento processo ideológico de embranquecimento, que busca apagar nossa história , são pautas nossas. Ocupar os nossos espaços nesse momento da luta de classes é fundamental como estratégia centenária de aquilombamento e resistência. Preservar nossos terreiros do processo de extinção em marcha pelo colonialismo é uma forma de preservar nossa cultura e nossa vida.

Cabe denunciarmos que a educação não funciona efetivamente como um direito universal na educação básica e no ensino superior. Por isso, somos contra a atual forma de ingresso na Universidade, e a favor da ampliação das vagas no Ensino Superior, com manutenção das cotas raciais até que mudanças estruturais no acesso e permanência na Universidade sejam garantidas.

A juventude preta e periférica ainda precisa escolher entre estudar ou trabalhar e isso é fruto não somente do desemprego estrutural, mas também do sistema de privilégio branco-burguês que exclui, pela desqualificação e desumanização, pessoas negras de espaços de trabalho, de produção do conhecimento, tradicionalmente vistos como espaços de poder em nossa sociedade. A Educação de Jovens e Adultos também ainda não é um direito garantido àqueles que não puderem fazer sua formação no tempo escolar oficial. Nesse cenário, a população negra é atingida em cheio.

No orçamento federal executado(pago) em 2021, somente 2,49% dos recursos estavam voltados para a educação, 4,18% para a saúde,1,71% para o Trabalho contra 50,78 para o pagamento de Juros e Amortizações da Dívida Externa. Há um total descompromisso em marcha com as causas da classe trabalhadora, majoritariamente negra.

Atualmente, os setores dominantes combinam o conservadorismo, reacionarismo com desregulação total do mercado, destruição permanente de direitos sociais, racismo, sexismo, lgbtfobia, xenofobia (vigorosos especialmente contra a população africana).

Contra esses ataques, precisamos fazer ecoar o nosso grito de liberdade, denunciando que somos nós, pretos e pretas, aqueles mais aviltados pelo capitalismo e que temos, por isso, todas as condições de desmascarar suas estratégias de contenção das lutas revolucionárias. O povo preto organizado torna-se um educador indispensável às lutas revolucionárias em pról de um mundo mais justo. Que com a força ancestral de Palmares possamos vestir nossa própria pele e ir para as ruas, camaradas!contra a opressão e violência capitalista, combatendo o racismo todos os dias para que possamos ver cair o sistema de exploração de classes.

Referências

FATORELLI, M.L; ÁVILA, R. Gasto com dívida pública sem contrapartida quase dobrou de 2019 a 2021. Disponível em < Auditoria Cidadã da Dívida – Associação sem fins lucrativos que busca realizar, de forma cidadã, auditoria da dívida pública brasileira, interna e externa, federal, estaduais e municipais (auditoriacidada.org.br)> Acesso em 19.nov.2022.

PAULANI, Leda. Grande mídia ou grande terrorismo econômico? Disponível em < Leda Paulani: Grande mídia ou grande terrorismo econômico? – Viomundo> Acesso em 19. nov.2022

Coordenação Nacional – Coletivo Negro Minervino de Oliveira