Nota de solidariedade da UC/APEOESP

A UNIDADE CLASSISTA/APEOESP vem se solidarizar com a dor da família e de amigos da colega professora da E.E. Thomazia Montoro, pelo ato de violência sofrido dentro da escola, levando à sua morte.

Na imprensa, o Secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, lamentou o ocorrido, porém, fazendo uma observação completamente etarista dizendo: “…lamentamos a morte da professora, QUE JÁ PODERIA ESTAR APOSENTADA”…., como se tivesse diferença ter mais idade ou não. Mais triste ainda foi a fala, também na imprensa, da Conselheira Tutelar da Vila Sônia, que confundiu Bullying com Racismo.

As políticas de sucateamento que afetam as escolas públicas há anos têm provocado situações como essa, nas quais pessoas entram armadas na escola para cometer atentados, cada vez mais presentes. O fato de as escolas sofrerem com estruturas precárias e o escasso número de funcionários sobrecarregados com o trabalho facilita o acesso ao ambiente escolar.

A falta de liberdade pedagógica na escola de deliberar seus próprios projetos interdisciplinares, baseados na realidade, no cotidiano da comunidade escolar, a falta de liberdade de cátedra, o preenchimento de papéis, relatórios, planilhas, justificativas de tudo que se faz na escola, num regime empresarial de resultados, ajuda a não enxergarmos o próprio espaço. Muitas escolas proíbem projetos que tratam da questão de gênero, educação sexual, a questão racial, mesmo esta última constando em lei.

Somado a isso, toda a precariedade a que têm sido submetidas as escolas públicas torna o ambiente escolar um local onde explodem conflitos entre professores, estudantes, famílias e demais trabalhadores da educação. A falta de um projeto político que coloque no centro a escola pública como espaço que permita aos estudantes o acesso pleno à cultura e se torne uma ponte para conquistar melhores condições de vida – o que traz como consequência a valorização dos professores e demais trabalhadores da educação, o investimento em recursos para o processo educativo e na própria estrutura das escolas – nos trouxe a uma situação em que a escola pública se tornou uma verdadeira “panela de pressão”, um espaço onde diversas contradições e frustrações da vida daqueles que vivem a escola se concentram e colidem, resultando em conflitos cotidianos que, vez ou outra, explodem em tragédias como a ocorrida na EE Thomazia Montoro.

A tragédia recente nos entristece a todos e estamos de luto pela professora Elizabeth. Sentimos sinceramente por ela, pela sua família e por todos que estão ligados, direta ou indiretamente, a esse ato de barbárie. Sabemos da dificuldade que será voltar à escola para aqueles que vivenciaram o ataque, aqueles que têm filhos entre os alunos, as famílias dos professores que lá trabalham, as famílias dos demais funcionários. O luto que se inicia em 23 de março será vivido por muitos e por muito tempo.

Ainda assim, cremos ser necessário passar do luto à luta.

Com todo o respeito pela professora Elizabeth e sua família, com todo o respeito por aqueles que viveram de perto essa tragédia, e para honrá-los, é necessário reconhecer que tragédias como essa se tornam possíveis na medida em que a educação pública, que atende as famílias trabalhadoras e as parcelas pobres do povo brasileiro, é tratada com desprezo pelo Estado e pelas elites que o controlam. A desvalorização dos professores, o sucateamento das escolas, a negação aos filhos das classes trabalhadoras a uma educação digna e libertadora criam um ambiente propício para atentados bárbaros como este. Sabemos que este não foi o primeiro atentado em uma escola pública no Brasil, mas convocamos todos a lutar para que seja o último.

Lamentamos pela vida perdida, pelos traumas gerados, pelas famílias afetadas. Acreditamos que é possível construir uma escola que seja segura, acolhedora, que enriqueça as vidas de quem nela vive. Para isso, é necessário lutar para que a educação pública, a educação que atende a maioria do nosso povo, seja colocada no centro de um projeto de país, atenda aos interesses dos trabalhadores e demais classes populares. Para que não passemos de novo por esse luto, lutar pela educação pública é necessário.

Por fim, acreditamos que discursos e projetos que apoiam a militarização das escolas passam longe de qualquer solução de mediação de conflitos no interior das escolas e será utilizado por oportunistas adeptos de tais projetos conservadores.

Unidade Classista- Apeoesp

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