Maternidade e austeridade: notas feministas-classistas

Imagem: Marcela Cantuária – Maternidade Compulsória, 2016. Óleo e acrílica sobre tela. 153 x 220 cm.

Notas feministas-classistas sobre a luta das mulheres hoje

Por Larissa Figueiredo [1] e Ana Karen [2]

Justas são as homenagens que faremos às nossas mães e avós neste Dia das Mães. Justo também é chamá-las de heroínas, guerreiras e batalhadoras, pois, diante da barbárie neoliberal no país, é o que elas são mesmo. No entanto, para nós, comunistas, mais importante do que reconhecer os inúmeros sacrifícios que essas mulheres empreenderam por nós, é transformar o conjunto das relações sociais em que eles estão fundamentados. Nesta breve contribuição, refletimos um pouco sobre um aspecto que nos parece central nesta transformação: o de articular a luta pela socialização do trabalho reprodutivo aos enfrentamentos organizados contra as políticas de austeridade fiscal.

As abdicações pessoais, políticas e econômicas que assinalam a vida das mulheres trabalhadoras já são objeto de discussão do movimento feminista há muito tempo. Enquanto as feministas liberais, por exemplo, limitam-se aos seus aspectos mais imediatos, como o abandono paterno ou o não pagamento das pensões alimentícias, as feministas-classistas vão além e, sem deixar de considerar os aspectos mais imediatos das tensões que atravessam a maternidade, colocam em questão o teor e o desenvolvimento das próprias relações matrimoniais e familiares. O propósito, obviamente, não é o de destruir as relações afetivas entre os genitores e seus filhos, mas demarcar a dimensão social da formação e do cuidado infanto-juvenil, apontando perspectivas para a sua coletivização.

Na prática, isso passa não só pela retomada do investimento público em saúde, moradia e educação, como também pela capilarização de restaurantes públicos e lavanderias coletivas por todo país. É justamente aí que, em nossa compreensão, a luta pela socialização do trabalho reprodutivo se conecta mais diretamente com o conjunto dos enfrentamentos às políticas de austeridade fiscal, afinal, é em nome delas que os gastos não financeiros do Estado são limitados. Trocando em miúdos, isso significa que as múltiplas jornadas de trabalho das nossas mães e avós estão profundamente atreladas à superexploração do trabalho que o capital portador de juros tem imposto na periferia do sistema capitalista.

Uma leitura feminista-classista que pretenda atingir elaborações cada vez mais radicais sobre a superexploração da força de trabalho das mulheres – que se apresenta nas múltiplas jornadas de trabalho – não pode perder de vista essa relação. Muito pelo contrário: devemos nos apropriar dela, compreendendo o seu movimento na conjuntura brasileira e elaborando coletivamente as táticas mais apropriadas para o seu enfrentamento radical e organizado. Somente nestes termos é que seremos capazes de fundar, no presente, as condições materiais para a dissolução de uma maternidade calcada na “abdicação” e no “sacrifício” das mulheres trabalhadoras.

Fundamentalmente, nossa mensagem no dia de hoje é um convite para a luta; um convite fraterno e político para o enfrentamento organizado contra o capital e as relações predatórias que ele submete a meninas e mulheres de todas as idades. Se é verdade que não existe futuro que não passe pela luta socialista, e acreditamos piamente que o seja, então que todos nós, mulheres e homens, nos guiemos juntos contra a barbárie.

[1] Secretária Política Estadual do CFCAM em São Paulo e militante do PCB
[2] Secretaria Política Nacional do CFCAM e membra do CC do PCB

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