Eleições de 14 de maio na Turquia: a grande decepção
Comitê Central do Partido Comunista da Turquia, 15 de maio de 2023
Derrotar o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) tornando-se o AKP foi uma grande ilusão e um grande golpe para enganar o povo. A chamada Aliança Nacional é o resultado dessa ilusão e do esforço para enganar o povo.
O AKP, por outro lado, vem enganando o país há mais de 20 anos. Agora, ele tem a oportunidade de continuar fazendo isso por mais algum tempo no parlamento e, possivelmente, no gabinete presidencial. Apesar de toda a pobreza, injustiça e devastação causada pelo terremoto, grande parte da sociedade que vota no AKP e no MHP (Partido de Ação Nacionalista) não deseja ir além da ilusão criada pelo governo.
Para isso, foram necessárias medidas para subverter suas preferências políticas e ideológicas, que, na verdade, estavam bastante abaladas. A Aliança Nacional, por outro lado, construiu toda a sua estratégia com o objetivo de evitar essas medidas. Somente a defesa do secularismo, do anti-imperialismo e o questionamento da profunda desigualdade causada pela economia de mercado teriam mobilizado a base social da Aliança do Povo.
Talvez essa mobilização não tivesse produzido o resultado desejado nas eleições, mas o quadro atual na Turquia teria mudado radicalmente.
A Aliança Nacional foi formada para evitar isso. A Aliança do Povo e a Aliança Nacional se complementam.
Ambas as alianças, por sua vez, serviram para criar um estado de ilusão que inclui uma grande parte da sociedade, e Erdoğan foi quem deu um passo à frente nesse aspecto.
O Partido Verde de Esquerda (o partido através do qual o HPD [Partido Democrático dos Povos] participou das eleições) foi adicionado a esse quadro com sua diversidade ideológica e política e sua influência entre a população curda. Essa organização, que age e continuará a agir de acordo com as lacunas e tensões da política burguesa, é alimentada pela mesma ilusão e perdeu a chance de se tornar um ator independente.
O TİP (Partido dos Trabalhadores da Turquia, o partido que se separou do TKP em 2014 e foi eleito para o parlamento por meio da legenda do HDP), por outro lado, criou outro cenário ilusório ao atrair aqueles que não se sentem à vontade com a semelhança da Aliança Nacional com o AKP, mas que querem alcançar a liberdade e a justiça de maneira fácil e dentro dos limites dessa ordem social. Esse partido, que responde à busca sem esforço daqueles que estão decepcionados com a direitização do CHP (Partido Republicano do Povo), agora será tão “de esquerda” quanto os segmentos sociais que ele atrai permitirem.
O Partido Comunista da Turquia, por outro lado, caiu na ilusão de que poderia aumentar seus votos em uma campanha eleitoral na qual defende intransigentemente o secularismo, a independência, o estatismo, o republicanismo, o socialismo e enfatiza os valores humanos mais avançados.
Para aumentar nossos votos, deveríamos fazer mais sem comprometer nossos valores, princípios e postura.
Não fomos capazes de fazer isso.
É claro que não faremos parte dessa grande enganação porque não poderíamos. Em 15 de maio, afirmamos que continuaremos nossa luta. Nosso partido não se baseia apenas, ou mesmo essencialmente, em votos.
O Partido Comunista da Turquia fará de tudo para garantir que as grandes parcelas enganadas pelo AKP não sejam deixadas à própria sorte. As realidades econômicas e políticas da Turquia continuarão a perturbar o “mundo irreal” ao qual se apegam aqueles que votaram em Erdoğan.
A profunda decepção com o desempenho eleitoral da Aliança Nacional ou das alianças eleitorais está sendo sentida. Nosso maior medo era que uma grande parte da população anti-AKP ficasse desmoralizada. O TKP só pode intervir nessa desmoralização explicando que a Aliança Nacional já está condenada à derrota e fortalecendo a fé das pessoas em seu país.
O segundo turno da eleição presidencial está à nossa frente. O desespero deve ser deixado de lado e devem ser feitos esforços para que Erdoğan perca. O TKP realizará um grande esforço nesse sentido.
No entanto, o verdadeiro teste será dado ao povo trabalhador da Turquia, à classe trabalhadora diante da intensificação dos ataques do capital. O verdadeiro teste será defender o secularismo em um ambiente político que está se tornando mais reacionário. O verdadeiro teste será dado na luta contra a OTAN e os monopólios internacionais diante do governo que pretende levar a Turquia a novas negociações e aventuras no mundo por trás da demagogia do anti-imperialismo.
O TKP nunca teve qualquer ilusão com relação a esses pontos. Pelo contrário, temos um posicionamento muito realista.
Continuamos em nosso caminho com a mesma determinação.
Se nosso povo não nos vê como um partido eleitoral, não nos sentiremos ofendidos por isso.
Como dissemos, estamos presentes no dia 15 de maio. Pelo secularismo, pela República, pelo socialismo.
Estamos aqui.
Todos juntos…
Comitê Central do TKP
Via: http://www.solidnet.org/article/CP-of-Tuerkiye-14-May-elections-The-big-deception/
Tradução: Guilherme Sales