Grécia: um passo em frente para a troika, dois passos atrás para o povo grego
A UE ainda vai tolerando que a opinião popular se manifeste em eleições. Mas só aceita os resultados dessas consultas se eles forem do agrado do grande capital.
Foi assim com vários referendos em diversos países. Foi também assim com os resultados das eleições de 6 de Maio na Grécia, em que as forças políticas responsáveis pela imposição do ruinoso memorando FMI/BCE/UE foram estrondosamente derrotadas.
Dessas eleições saiu um parlamento sem quaisquer condições para formar um governo. Convocadas novas eleições, toda a colossal máquina de pressão mediática, económica e política do grande capital foi posta em marcha no sentido de influenciar uma alteração nessa situação. O resultado das eleições de 18 de Junho mostra que a desenfreada chantagem – nacional e internacional – que foi exercida sobre o povo grego produziu efeitos, conduzindo a alterações significativas na votação de várias forças políticas. A votação polarizou-se em ND e SYRIZA, ambas com muito significativas subidas eleitorais. O PASOK teve nova quebra, o KKE sofreu um significativo revés, a extrema-direita voltou a conseguir um bom resultado.
O parlamento grego tem agora condições para formar um governo maioritário pró-troika. Mas esse governo, cuja composição assentará previsivelmente numa base semelhante àquela que foi derrotada em 6 de Maio irá, mais cedo ou mais tarde, defrontar-se com ainda maior oposição do que o anterior governo ND/PASOK. A recusa popular face às medidas de agressão contidas no memorando é tal que a própria ND incluiu no seu discurso eleitoral uma tentativa de distanciamento em relação a ele.
A rearrumação de forças no interior deste parlamento resultou num acréscimo das representações pró-“europeístas” (onde o SIRYZA se inclui). Mas a cartada SIRYZA – indispensável para retirar votos ao KKE, e nesse sentido um sucesso – introduz uma brecha nesse campo. Porque não pode, sob pena de total descrédito, abandonar a sua afirmada oposição ao “memorando” e ao bárbaro programa de desemprego, exploração e destruição económica e social que este contém. A criação mediática de um novo polo social-democrata em torno do SIRYZA teve sucesso. Mas esse sucesso, alcançado sobretudo à custa do mais fiável PASOK, constitui uma acrescida fonte de contradições internas, que a luta popular não deixará de agudizar.
O resultado obtido pelo KKE é muito negativo, e terá inevitavelmente repercussões no curto prazo num refluxo da luta popular. Neste resultado pesa de forma determinante a autêntica barragem de ataques nacionais e internacionais de que o KKE vem sendo alvo, mas pesa também a situação de desespero em que mergulharam largas camadas do povo grego, que levou muitos eleitores a aceitar ilusões e promessas que a realidade em breve desmentirá.
A crise grega insere-se numa aguda crise geral do capitalismo, e a ofensiva contra o povo grego é parte integrante da agressiva e antidemocrática ofensiva que o grande capital e o imperialismo desencadearam contra os trabalhadores e os povos. O povo grego tem resistido a essa ofensiva de forma exemplarmente corajosa e determinada. O resultado destas eleições constitui um passo atrás nessa luta. Mas o mais certo é que, muito mais cedo do que a troika imagina, voltará a levantar-se nas empresas, nas escolas, nas praças e nas ruas da Grécia a mesma combativa resistência de massas que conduziu à derrota a maioria parlamentar e o governo anterior.
Os Editores de odiario.info