Nota Política do PCB de Mato Grosso

Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Carlos Drummond de Andrade

Depois de quase centenária história nas lutas centrais da nossa classe, o Partido Comunista Brasileiro foi reorganizado em terras matogrossenses em 2015. De lá pra cá, mesmo com muitas dificuldades, temos nos dedicado diariamente à consolidação desse operador político que consideramos fundamental, mesmo que não único, para a construção do Poder Popular e da revolução socialista brasileira, pelo seu programa e por sua forma organizativa. Fazemos, assim, parte do trabalho coletivo de Reconstrução Revolucionária dos comunistas brasileiros, que já há mais de três décadas é materializado por milhares de camaradas em todo o país.

Dada a crise que se instaurou em nosso Partido, com denúncias e ataques externos, além de debates organizativos levantados nas redes sociais, vimos reafirmar nossa convicção na construção coletiva do PCB, suas instâncias, sua juventude, a UJC, sua corrente sindical, a Unidade Classista, e seus coletivos, LGBT Comunista, CFCAM e CMNO.

Tal crise é produzida pela ação irresponsável de um grupo que se constituiu enquanto fração dentro do Partido e que operou investidas articuladas contra as direções, a militância e a forma organizativa do PCB. Está mais do que claro que se consolida um processo de criação de uma nova organização por parte desse grupo fracionista, que advoga para si a legitimidade de continuadores do PCB e orienta todos aqueles que têm acordo com a sua nova proposta a avançá-la internamente em todas as nossas instâncias, além da própria disputa externa, que transita sem muito esforço da crítica à exposição de camaradas, seus nomes e fotos, empreendendo a esses um sem número de ataques pessoais.

Tudo isso enquanto nossos inimigos de classe assistem de camarote e tomam nota. Essa tentativa de tomar de assalto as nossas instâncias internas e os nossos coletivos nos parece um oportunismo inaceitável e que já mancha de início tal iniciativa. A palavra de ordem de um “XVII Congresso (extraordinário) do PCB” tem por meta confundir e ocultar da militância que se trata do Congresso de uma outra organização política. É a violação da unidade encoberta com gritos de unidade!

Não temos dúvidas dos nossos problemas, os conhecemos muito bem e temos buscado soluções no trabalho coletivo e no tempo que esse trabalho exige. A despeito disso, do mesmo modo que não operamos a partir da romantização de um partido que faz sua política cotidiana em confronto com o real e suas contradições, também não trabalhamos com simplificações baratas que demonizam camaradas e os expõem publicamente, incentivando o seu “linchamento virtual” em uma cruzada abertamente fratricida e autofágica.

Também não nos parece plausível a afirmação dos fracionistas de que não havia qualquer possibilidade para debate interno sobre as questões que eles julgam centrais e que motivam seu rompimento e seus ataques públicos, haja vista que muitos desses ocupavam espaços de direção no Comitê Central de nosso Partido, nos nossos coletivos e em muitos Comitês Regionais, além dos espaços de células, que não devem ser menosprezadas em um partido realmente leninista. Não é preciso um esforço muito grande, tampouco um acesso privilegiado, para saber que tais instâncias não foram esgotadas, se é que elas sequer foram suficientemente provocadas sobre tais questões.

As acusações de que o Comitê Central ou a Comissão Política Nacional se transformaram em uma fração também nos parece agredir a verdade, tendo em vista que são instâncias democraticamente eleitas a partir do nosso método organizativo, aprovado em nossos Congressos, do mesmo modo que foram muitos desses que hoje se lançam contra o CC. Cabe a cada instância ponderar constantemente não só sobre a sua atuação, mas sobre o funcionamento de todo o Partido, fazendo o necessário debate interno. Contudo, isso não justifica que camaradas com posições minoritárias em suas instâncias se sintam confortáveis para ferir nossa forma organizativa. É preciso fortalecer a compreensão de que as direções partidárias são tarefas militantes e, como tais, não são compatíveis com seu uso enquanto vitrines de construção personalista.

Tampouco coadunamos com a acusação – central na argumentação do grupo fracionista – de que as Resoluções do XVI Congresso Nacional do PCB estejam sendo feridas pelo seu corpo diretivo. As acusações de desvios apresentadas não só não se sustentam – a despeito dos problemas existentes –, como parecem bastante secundárias diante dos efeitos da crise aberta em nossa organização. Ou seja, ao fim e ao cabo, trata-se de uma disputa de direção bastante esvaziada de programa político alternativo, e por meios absolutamente condenáveis.

Como já falamos, ainda temos bastante no que avançar, por exemplo: na profissionalização da nossa atuação; na inserção em setores estratégicos; na relação entre direções e bases; no espaço interno de debates (que é falho, mas existente); na regulamentação mais clara de processos disciplinares e de apuração de denúncias, em especial de assédios etc. A nosso ver, esses são problemas que se tornam mais salientes no momento de crise que passamos no Brasil, no confronto com o nosso crescimento enquanto organização e dos novos acúmulos políticos que tivemos nas últimas décadas. São esses acúmulos que, em grande medida, nos fazem avançar e fazem avançar a luta dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, ao mesmo tempo em que explicitam as limitações táticas com as quais devemos lidar cotidianamente, e as quais devem ser superadas coletivamente.

Se por um lado não podemos, mecanicamente, associar toda essa crise à conjuntura geral, por outro lado, é inegável que vivemos tempos de duras derrotas da nossa classe, no mundo e no Brasil, e que isso reverbera em crises em nossas organizações. Parece-nos certo também que a velocidade da atuação individual e individualizante nas redes sociais, que são de propriedade e dominadas pelo capital monopolista, tem pressionado nossas organizações, eliminando o tempo do debate coletivo e, com frequência, pautando nossa atenção, quando não a nossa atuação. É fundamental para qualquer organização comunista fazer a disputa, na medida do possível, desses espaços. Mas temos que reconhecer que são grandes e, muitas vezes, incontornáveis seus limites.

Apenas com a manutenção da nossa tradição de democracia no debate interno e unidade na ação é que poderemos lidar de forma acertada com esses e tantos outros desafios que o tempo presente nos impõe. E uma coisa é certa: não avançaremos no aprofundamento da nossa política no seio da nossa classe, tampouco avançaremos no aprimoramento desse centenário operador revolucionário, se nos deixarmos ser pautados pela urgência fabricada, pela polêmica instrumentalizada, pelo método oportunista, por uma política personalista e pelo golpismo como ferramenta de resolução de disputas.

Seguiremos no PCB porque lugar de comunista é no Partido Comunista. A história e o triunfo da nossa classe dirão o lugar dos oportunistas.

Fomos, somos e seremos comunistas!

Em defesa do PCB!
Pelo Poder Popular!
Rumo ao socialismo!

Comitê Regional do Partido Comunista Brasileiro em Mato Grosso

15 de agosto de 2023