UJC no Acampamento da Juventude da Via Campesina
Foto: José Cruz – Agência Brasil
Coordenação Nacional da UJC – União da Juventude Comunista
Nos dias 13 a 17 de outubro, no estádio Nilson Nelson em Brasília, a União da Juventude Comunista — juventude do Partido Comunista Brasileiro — esteve presente no Acampamento Nacional da Juventude da Via Campesina, de tema “Juventude em Luta: por terra e soberania popular!”, que reuniu mais de 2 mil jovens do campo, das águas, das florestas e das cidades de cada canto do país. Depois de 9 anos da primeira edição, o evento teve como objetivo a construção de espaços formativos para a juventude de forma a possibilitar uma enriquecedora troca entre seus diversos segmentos, atualizando as formulações e alinhando a atuação dos movimentos que compõem a Via, a maior organização internacional que aglutina movimentos populares campesinos e de luta contra o agro-hidro-minério negócio, responsável por cunhar o conceito e princípio da Soberania Alimentar em contraposição ao conceito de “segurança alimentar” da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU). Um povo só pode ser livre se for soberano, e sua soberania perpassa pela alimentação!
O acampamento teve caráter organizativo e formativo, e sobretudo de denúncia e diálogo com a população, denunciando o avanço do agronegócio e seu papel na expropriação dos bens comuns e na crise ambiental, projetando os processos de luta popular capazes de fortalecer a organização da juventude do campo à cidade. Denunciou também a criminalização dos movimentos populares pela extrema direita.
O evento foi organizado por movimentos populares que integram a Via Campesina, como o Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB e diversos outros. Teve como principais pautas a construção de uma reforma agrária popular, em defesa da demarcação das terras indígenas e quilombolas, pautando a agricultura camponesa enquanto a única capaz de resolver a questão da fome e da crise climática, em contraposição às alternativas ofertadas pelo agronegócio e a burguesia nacional e internacional, situando o protagonismo da juventude e apontando seu papel na construção da Soberania Popular com base nas suas próprias lutas. O espaço foi todo permeado pela constante valorização da coletividade e solidariedade, com ações concretas e na divisão dos afazeres.
Neste sentido, estivemos em parceria com o MPA, compondo os diversos momentos deste grande encontro, que envolveram mesas de debates, rodas de conversa, oficinas, vivências, plenárias e outros espaços, buscando contribuir para as várias tarefas coletivas necessárias ao funcionamento do acampamento e com seus objetivos políticos. As mesas foram orientadas pelos eixos estruturantes da programação, com análise de conjuntura nacional e internacional, mesa sobre racismo e patriarcado e construção de relações humanas efetivamente emancipatórias, outra sobre juventude, arte e cultura na batalha das idéias, e juventude e luta ambiental: luta por terra e território. Vale o destaque para a expressiva manifestação de solidariedade ao povo palestino, que sofre um massacre com a investida colonialista e o apartheid israelense, algo que apareceu muito além dos espaços próprios voltados ao internacionalismo. As falas na segunda mesa acertadamente nos lembram que o genocídio promovido por Israel se conecta profundamente com a realidade do Brasil, visto que as armas e a tecnologia utilizadas no genocídio da juventude negra em favelas e periferias do país são importadas da experiência israelense. As armas de Israel matam as crianças e os jovens no Brasil e na Palestina!
Abarcando uma grande diversidade de temas dizem respeito a realidade da juventude brasileira na perspectiva da Soberania Popular, foram 40 rodas de conversa simultâneas, envolvendo debates como de estratégias de organização popular, combate à fome e soberania alimentar, soberania energética, reforma agrária popular, tecnologia no campo, agroecologia, abastecimento popular, povos e comunidades tradicionais e defesa dos territórios; do genocídio da juventude negra e violência policial, antiproibicionismo e política de drogas, cannabis para fins medicinais e redução de danos; internacionalismo, questão palestina e América Latina; sobre educação no campo e política de acesso ao ensino superior; arte e cultura na resistência, identidade e cultura camponesa, 40 anos do Hip Hop no Brasil; para além de temas como acesso à saúde, a questão da mineração, dos biomas e da crise climática.
Foram dezenas de oficinas, dentre elas a de Agroecologia e Sistema Agroflorestal (SAF), realizada em um pré assentamento da região rural do Distrito Federal, com contextualização histórica da região, das lutas camponesas no território, sobre a conexão com a cidade para o escoamento da produção, o ainda insuficiente acesso às políticas públicas e, por fim, apresentação das experiências com os SAFs e plantio.
Dia internacional da Soberania Alimentar e marcha de encerramento
No dia 16 de outubro, Dia Internacional da Alimentação Saudável e da Soberania Alimentar, foram realizadas duas ações simultâneas. Uma delas foi uma atividade no Planalto devido aos 20 anos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O programa, que foi retomado esse ano pelo governo federal, compra alimentos produzidos pela agricultura familiar e destina a pessoas sem acesso à alimentação adequada e saudável, e a usuários das redes públicas de assistência social, saúde, justiça, e rede pública e filantrópica de ensino. Os movimentos sociais que foram até o planalto levaram bem mais que a comemoração pela existência do programa, mas corretamente cobravam pelo aumento da verba destinada ao PAA, que para a real demanda é extremamente baixa, ainda mais se comparada ao apoio oferecido ao agronegócio — este que se faz incapaz de oferecer uma alternativa à fome e que pense o acesso à alimentação saudável no país, operando no sentido oposto e tratando o alimento enquanto mera mercadoria. Mais que isto, os movimentos clamaram e reivindicaram pela necessidade urgente de uma Reforma Agrária Popular.
A outra atividade foi uma grande ação de solidariedade em dois pontos no Sol Nascente, considerada a maior favela do país em número de habitantes. Ao todo foram 5 toneladas de alimentos, com doação de cestas de alimento saudável para 600 famílias, com participação de pelo menos 200 jovens que acampavam, desde a montagem das cestas até a distribuição. A ação agitou em torno do vínculo do campo com a cidade, da produção camponesa ser responsável por alimentar a maior parte do país e de ser a única capaz de responder à fome. Do ponto dos ônibus até a Fazendinha, segundo ponto de distribuição, fizemos uma caminhada cantando diversas palavras de ordem, chamando a população que ia até os portões de suas casas para a ação de solidariedade, explicando sobre o acampamento e apresentando os diversos movimentos que estavam ali construindo.
A manhã do dia 17 foi marcada pelo ato de encerramento do Acampamento, com uma marcha até o Ministério de Desenvolvimento Agrário e de Agricultura Familiar, o MDA, com a presença de mais de 2 mil pessoas. O objetivo da marcha foi de agitar ainda pelo dia de Soberania Alimentar e em torno do próprio tema do evento: Juventude em Luta, por terra e Soberania Popular. Já no Ministério, representações dos movimentos entregaram diversas reivindicações com as pautas levantadas pela juventude do campo, das águas e das florestas, em articulação com a juventude das cidades, pautando toda a tônica do que foi o II Acampamento Nacional da Juventude da Via Campesina. Por Reforma Agrária Popular, por uma política que garanta o acesso à saúde pública integral de qualidade, contra a Reforma do Ensino Médio, pelo fortalecimento da Agricultura Familiar e incentivo à agroecologia camponesa, pelo veto integral ao Marco Temporal, por responsabilização aos verdadeiros culpados pela crise ambiental, do genocídio dos povos originários e da especulação imobiliária!
Se a juventude do campo e das cidades precisa viver, ter condições de acesso ao trabalho digno, alimentação saudável, cultura popular e uma educação que forme seres capazes de pensar criticamente a realidade do seu próprio povo, sem ser impelida ao êxodo do campo ou vitimada pelo próprio Estado e sua conivência, sem perspectiva de futuro, dizemos: a alternativa é a construção do Poder Popular, rumo à uma verdadeira Soberania, à autodeterminação dos povos, rumo ao socialismo.