Um perfil da Juventude Brasileira
Edmilson Costa – Secretário Geral do PCB
Apresentação
Essa pesquisa é a terceira parte de um trabalho maior sobre a radiografia das classes sociais e da sociedade brasileira, cujo primeiro documento foi o mapeamento da burguesia, mediante o estudo sobre os 100 maiores grupos econômicos que atuam no Brasil, que na verdade são exatamente aqueles que definem os rumos e hegemonizam a economia brasileira. O segundo trabalho foi o perfil do proletariado brasileiro, um amplo diagnóstico sobre os trabalhadores do País, tanto aqueles ligados às cadeias de produção do valor, quanto os outros segmentos explorados e que foi publicado como resolução política do XVI Congresso do PCB. O terceiro é este, sobre o perfil da juventude brasileira. O próximo será uma radiografia do agronegócio, com o que esperamos concluir o mapa geral das classes sociais no Brasil.
Os temas desenvolvidos neste trabalho envolvem os principais aspectos da vida social, econômica, cultural e política da juventude brasileira. Para sua realização, consultamos as principais fontes disponíveis sobre a juventude no Brasil, envolvendo mais de oito mil páginas entre dossiês, relatórios, revistas, anuários, censos nacionais e educacionais, indicadores sociais, resumos e sumários estatísticos de diversas instituições nacionais e internacionais, além de documentos de várias entidades sobre questões da juventude. Acreditamos que os dados obtidos com esta pesquisa representam uma amostra bastante aproximada da juventude brasileira nas suas diversas variações e especificidades.
Em qualquer nação do mundo a juventude tem um papel fundamental em todos os setores da vida social, tanto no desenvolvimento econômico, no processo educacional, na participação política, na política cultural, nas relações com as tecnologias da informação, bem como no progresso do país. A capacidade de inovação, ousadia e criatividade dos jovens são ativos inestimáveis de uma nação, especialmente quando esta possui um contingente juvenil correspondente a cerca de um quarto da população, como é o caso do Brasil. Por essas características, o país tem uma espécie de “bônus demográfico” que pode impulsionar o seu crescimento econômico, o desenvolvimento social, educacional e cultural.
Para maximizar essas potencialidades, é essencial a construção de políticas que gerem oportunidades e valorizem a participação da juventude em todos os aspectos da sociedade. Todos sabemos que os problemas estruturais da juventude só deverão ser resolvidos com a conquista do poder popular e do socialismo, que é o momento em que se criarão as condições para a construção de uma nova sociedade. No entanto, enquanto essa conquista não é realizada, a juventude deverá lutar para que os governos desenvolvam políticas públicas em todas as áreas que impactam a sua vida.
O Brasil tem o maior contingente de jovens entre os países da América Latina, uma juventude muito diversificada do ponto social, político e étnico, com uma mescla que incluiu descendentes de imigrantes europeus e asiáticos, afrodescendentes, mestiços em geral e indígenas. A maior parte dos jovens brasileiros, a exemplo da grande maioria da população, vive nas cidades e, especialmente nas grandes metrópoles, e enfrenta enormes desafios sociais, econômicos, além dos problemas próprios da juventude. É o setor da população com o maior índice de desemprego e também o que ganha os menores salários, além do fato de que a perversa distribuição de renda faz com que a maioria das famílias desses jovens vivenciem péssimas condições de vida.
A juventude é, frequentemente, voz ativa nos movimentos culturais, sociais e políticos, sempre buscando atuar em diversas áreas, como direitos humanos, meio ambiente e justiça social, exatamente porque a juventude tem sede de justiça e de liberdade. Jovens artistas e criadores culturais enriquecem a identidade cultural do Brasil, promovendo a diversidade e a expressão cultural. A juventude também tem mais sensibilidade para a formação de uma consciência ambiental, e parcela expressiva se envolve em iniciativas que visam a sustentabilidade e o enfrentamento aos desafios ambientais. A juventude também está na linha de frente da revolução digital porque já nasceu plugada. Portanto, domina com mais facilidade as tecnologias da informação em suas diversas formas.
Num país onde a educação de qualidade não alcança a maioria dos jovens, principalmente a juventude das periferias, apostar em investimentos na educação deve ser uma prioridade dos governos, pois a educação abre oportunidades para a formação de cidadãos mais conscientes, empregos bem remunerados, o que contribui para a melhoria do padrão de vida. A educação contribui também para o desenvolvimento pessoal dos jovens, promove igualdade de oportunidades e estimula a curiosidade e a criatividade dos jovens, incentivando-os a pensar de forma crítica e inovadora, elementos que são fatores essenciais para o avanço científico e tecnológico de um país.
Além da educação em geral, um aspecto importante que tem se destacado entre os jovens é a educação profissional, que no Brasil tem se expandido de maneira extraordinária. Essa modalidade de educação promove a inclusão social, uma vez que prepara a juventude para o mercado de trabalho e contribui para a inovação e desenvolvimento econômico nacional. Dessa forma, investir na educação profissional de qualidade dos jovens é fundamental para construir uma força de trabalho mais qualificada e dinâmica, capaz de enfrentar os desafios e oportunidades do futuro e contribuir para ganhos de produtividade e mobilidade social para os jovens de diferentes origens sociais e econômicas.
Num mundo em que as tecnologias da informação estão em todas as esferas da vida social, os jovens têm um papel fundamental, pois fazem parte de uma geração que os especialistas chamam de nativos digitais, porque cresceram num ambiente onde as tecnologias da informação são onipresentes. As tecnologias da informação têm a capacidade de transformar a forma como os jovens aprendem, uma vez que as ferramentas educacionais on-line, cursos à distância e recursos digitais enriquecem os processos educativos, tornando-os mais acessíveis à juventude. Além disso, a familiaridade com essas tecnologias permite à juventude não só uma vantagem significativa no mercado de trabalho, mas também são fundamentais para a socialização dos jovens através das redes sociais diversificadas.
Na conjuntura de um país da periferia, com perversa distribuição de renda, a juventude brasileira encontra também enormes desafios em termos de oportunidades, distribuição de renda, preconceito de gênero, racismo, violência, entre outros pontos. Jovens de famílias de baixa renda frequentemente têm menos recursos para investir em educação de qualidade, o que limita o acesso às escolas mais equipadas e com professores qualificados, fatos que se refletirão no futuro como limitação de oportunidades no mercado de trabalho, desigualdade de renda e redução das oportunidades de empregos bem remunerados, o que gera um ciclo vicioso que atinge a juventude de menor renda.
Outro desafio que atinge fortemente a juventude brasileira é a violência, especialmente nas grandes cidades, onde se destacam a violência policial e os abusos de autoridade, fatores que afetam de maneira mais frequente os jovens negros e pobres, criando um clima de abusos permanentes nas comunidades. Os jovens homens negros têm uma taxa alarmante de homicídios, o que representa uma perda trágica de potencial humano e uma ameaça à vida nas periferias. Além disso, a impunidade para os atos de violência policial contribui para um ciclo contínuo de violência e desrespeito aos direitos humanos. Por isso, é necessário lutar por políticas públicas que aumentem a segurança das comunidades, redefina as políticas de segurança e o sistema de justiça criminal, de forma a que os jovens possam crescer e prosperar num ambiente seguro.
As questões de gênero também têm um papel importante na vida da juventude e influenciam em diversos aspectos do seu desenvolvimento pessoal, social e econômico. No mercado de trabalho, por exemplo, as mulheres geralmente ganham menos que os homens e muitas vezes sofrem discriminação e assédio no ambiente de trabalho. Além disso, sofrem com as várias jornadas, com o machismo, a misoginia e o feminicídio. Outras questões de gênero também podem afetar a saúde mental dos jovens, como a pressão para se adaptar às regras tradicionais e conformar-se às normas de gênero tradicionais. A violência e o preconceito de gênero afetam frequentemente jovens LGBTs nas escolas, locais de trabalho e comunidades. Estes fatores demandam políticas públicas que afirmem a igualdade de gênero e promovam os direitos humanos e o fim do preconceito social.
Outra questão que está estruturalmente marcada na sociedade brasileira, resultado dos mais de 300 anos de escravidão, é o racismo, que afeta de maneira especial a juventude. Jovens negros, nordestinos e minorias sociais enfrentam discriminação tanto no ambiente social quanto no mercado de trabalho. Isso leva a maior repressão contra negros, negras e outros grupos sociais nas abordagens policiais, nas oportunidades de emprego, na educação e na cultura, influenciando negativamente a vida cotidiana e a autoestima desses jovens. Mesmo havendo leis que punem o racismo, diariamente se pode testemunhar a ocorrência de racismo na sociedade brasileira, o que também demanda a luta por políticas públicas que promovam um ambiente de igualdade de oportunidades, processos educacionais que promovam relações sociais sem preconceito e punição severa aos racistas.
Mesmo com todos esses problemas, a juventude brasileira, em todos os tempos, sempre teve importante participação política na vida brasileira. Jovens engajados politicamente contribuem para as mudanças sociais, renovação e fortalecimento das instituições democráticas, promovem a luta pela justiça social, uma vez que a juventude se caracteriza por trazer renovação e novas ideias e contribui para uma representação mais diversificada da sociedade brasileira. A participação política ajuda os jovens a desenvolver habilidades críticas, formar lideranças e promover mudanças sociais, fatores que são fundamentais para o desenvolvimento político do País.
Leia o conjunto do trabalho realizado pelo camarada Edmilson Costa, incluindo o Sumário Executivo da pesquisa e o Diagnóstico Geral nos arquivos disponibilizados abaixo:
https://drive.google.com/drive/folders/1n-8AcQyc43b1ag0qhgxw1yN6XDlb6S3y?usp=drive_link