PCB-RJ: Sobre a crise climática

Nota Política do Comitê Regional do PCB-RJ

A população do Rio de Janeiro vem sofrendo com a segunda onda de calor que atinge nosso Estado nos últimos meses. Uma primeira onda de calor nos últimos dias do inverno demonstrou o total despreparo do Estado para enfrentar situações extremas. Agora, durante a primavera temos novamente temperaturas recordes para a época do ano, transformando o Estado do Rio de Janeiro, assim como diversas outras regiões do Brasil, em um palco de um drama que recai de forma mais aguda sobre a classe trabalhadora e os demais setores populares, evidenciando em nosso cotidiano os impactos de uma já presente mudança climática.

Contudo, é importante pontuar que esse aquecimento global, que segundo diversos especialistas e cientistas, tende a se agravar nos próximos anos, não é de responsabilidade compartilhada igualmente por todos e não atinge a todos da mesma forma. Os países centrais do capitalismo e os setores mais abastados, a classe dos capitalistas, são os verdadeiros responsáveis por tanto desequilíbrio. Nos países ditos desenvolvidos, as elites desmataram suas florestas nativas quase na totalidade, e nessas regiões a poluição produzida pela indústria e pelo consumo predatório espalha sua catástrofe para além de suas fronteiras, atingindo todo o mundo. E é a burguesia internacional que impõe a lógica extrativista, produtivista e expansionista extremada, no nosso planeta que tem recursos finitos. Também nos impactos da mudança climática é possível identificar um corte de classe que espelha não apenas as cidades partidas, como também os desafios cotidianos da classe trabalhadora no transporte, nas escolas, no lazer e, fundamentalmente, no trabalho.

Nas regiões mais degradadas da cidade, com intensa precariedade de serviços, com menos áreas verdes, locais onde residem basicamente a classe trabalhadora, bairros populares da periferia e do subúrbio, as favelas e comunidades, a sensação térmica chega a ser 2 a 3 graus superior à das regiões planejadas, mais arborizadas da cidade, geralmente nos bairros da linha 1 do metrô, Zona Sul e Barra da Tijuca, as chamadas regiões nobres da capital. Realidade diferente da periferia, zona oeste e baixada fluminense.

Para além da cidade que espelha a divisão de classes da sociedade, os trabalhadores ainda precisam se deslocar em ônibus sem ar condicionado, trens com horários irregulares e lotados, assim como as barcas e o próprio metrô. Todo o transporte público do Rio de Janeiro colapsado por atender única e exclusivamente os interesses privados dos empresários do setor de transporte e não as demandas de quem vive, trabalha e transita pelo meio urbano.

Em conjunto com as fortes ondas de calor, vêm as tempestades, que causam, de tempos em tempos, graves deslizamentos e inundações. É falacioso o argumento de que estes desastres são imprevisíveis, uma vez que ocorrem com alguma recorrência. O grande problema é que também os bairros populares, perifierias e comunidades são relegados a último plano, abandonados. Pois não existe política pública para estes locais prevendo reurbanização, despoluição, saneamento, dragagem de rios e galerias etc. O poder público tem obrigação ainda de criar mecanismos efetivos de ouvidoria, prevenção e treinamento de evacuação em áreas de risco, além de assentar a população em áreas ociosas em território urbano, desapropriando vastos terrenos da cidade desocupados, abandonados e sem fim social há anos. Tudo isso, naturalmente, envolvendo a própria população para que participe ativamente dos processos de decisão e dos projetos de reurbanização, de modo a não efetuar remoções forçadas, à revelia dos moradores.

Sim, a mudança climática atinge a todos, porém, enquanto a grande responsabilidade é dos grandes proprietários e poderosos, os impactos mais graves recaem sobre a classe trabalhadora que ainda sofre com crise de abastecimento de água, luz e outros serviços que dificultam ainda mais a vida nessa onda de calor.

As escolas públicas em boa parte ainda não são climatizadas, colocando alunos, professores e demais servidores administrativos em condições extremas.

As soluções não passam por iniciativas particulares como plantar uma árvore ou economizar água, mas por políticas públicas e inversão de prioridades. Ecologia e capitalismo são incompatíveis. Portanto, este modo de produção vitimiza não somente o meio ambiente, mas também os seres humanos, que são parte indissociável da natureza.

O planeta Terra não suporta mais o capitalismo e seus impactos sobre a vida, somente uma sociedade organizada com políticas planificadas poderá conter a degradação ambiental e criar condições para um desenvolvimento sob novas bases, atendendo as demandas da população, em destaque da classe trabalhadora e preservando o meio ambiente.

O socialismo é uma urgência de nosso tempo.

Partido Comunista Brasileiro – Rio de Janeiro