Raúl Reyes, Iván Ríos e Manuel Marulanda: Vivos na memória e na luta dos povos!
Lucía Morett foi a única sobrevivente desse grupo de estudantes. Atualmente, ela é perseguida por parte do governo narco-paramilitar colombiano e por representantes da justiça equatoriana, que vêm tentando criminalizá-la por ter estado no acampamento guerrilheiro de Raúl.
O desenvolvimento e a execução da “Operação Fênix” estava a cargo das forças de segurança colombianas, que contaram com o respaldo de efetivos militares e de espionagem norte-americanos e israelenses. Membros dos serviços de inteligência do exército e polícia equatorianos também contribuíram para infiltrar e, posteriormente, estabelecer a localização precisa do acampamento do Comandante das FARC-EP. O major da polícia Manuel Silva e o coronel do exército Mario Pazmiño foram figuras-chaves nesta tarefa de trabalhar diretamente com os serviços de investigações policiais colombianos, recebendo auxílio de setores do Estado equatoriano.
A brutalidade caracterizou esta ação, sendo ressaltada positivamente pela indústria midiática colombiana que, ao mesmo tempo, se deleitava com a exposição mórbida das fotografias de Raúl Reyes abatido. Juan Manuel Santos, ex-ministro de Defesa colombiana, exibia um sorriso macabro ao dar a notícia, apresentando o cadáver de Raúl como um troféu de guerra.
Todavia, sem se restabelecer dessa dor, a insurgência colombiana se inteirava do assassinato do Comandante Iván Ríos, também membro do Secretariado das FARC-EP, em 3 de março de 2008. Iván foi vitimado por Pedro Pablo Montoya, conhecido como “Rojas”, um homem covarde que, cego pelo dinheiro e pelos “benefícios” que a política de segurança democrática do uribismo oferece aos assassinos e traidores do povo colombiano, disparou um tiro em sua cabeça, assim como na de sua companheira, quando estavam dormindo em seu acampamento. Após atirar, cortou uma das mãos de Ríos para levar como prova ao exército colombiano, com o propósito de cobrar a recompensa de 5 bilhões de pesos que havia sido oferecido. Uma vez mais, Uribe, Santos e Padilla não podiam esconder sua cara de satisfação frente a este novo golpe contra as FARC-EP. As declarações destes mafiosos através da imprensa eram dadas umas após outras, mostrando uma euforia desmedida, afirmando que a derrota das FARC era uma questão de pouco tempo.
O êxtase do regime narco-paramilitar de Álvaro Uribe Vélez chegou ao seu clímax quando, no mês de maio, as FARC-EP confirmaram a morte de seu Comandante-em-Chefe, Manuel Marulanda Vélez, de 78 anos, em 26 de março de 2008, resultado de uma parada cardíaca. Animado com a informação, o criminoso Juan Manuel Santos dava ordem ao exército colombiano de buscar o cadáver de Marulanda, oferecendo uma milionária soma de dinheiro a quem entregasse informações sobre a sua localização.
Esses dias foram muito difíceis e muito tristes para os guerrilheiros das FARC-EP. Porém, pese a campanha da mídia desatada pela propaganda do uribismo, que enfatizava que a insurgência estava desorganizada e desmoralizada, os combatentes colombianos não perderam o rumo traçado desde sua origem para combater em prol da construção da Nova Colômbia. Existia a necessidade de tomarem as medidas necessárias para recomporem-se frente aos revezes e dificuldades sofridas e surgidas como resultado lógico da guerra em que está imerso o povo colombiano, consequência da política criminosa da oligarquia deste país e do imperialismo ianque. O Comandante Alfonso Cano foi designado como o novo líder das FARC-EP.
O ocorrido nesse fatídico mês de março do ano de 2008 para a insurgência colombiana, assim com para todos os revolucionários, não pode ser recordado com melancolia e com base em sentimentalismos que não conduzem à ação transformadora do sistema imperante e da ordem vigente. Porque isso é, precisamente, o que pretendem atingir aqueles que detém o poder através de um sem número de mecanismos de alienação e encenação, entre os quais está a subjugação, por meio do medo da morte e do que aconteceu nas situações passadas, que tiveram resultado negativo para as organizações revolucionárias e seus integrantes.
O revolucionário basco Iñaki Gil de San Vicente disse que “um povo só vive quando mantém vivas as pessoas que morreram para que esse povo vivesse”. Não basta, então, recordar as nossas heroínas e nossos heróis a cada aniversário de sua morte ou tão somente fazer atos em sua homenagem nas datas nas quais morreram. Isso somente provocaria a mumificação ou petrificação de suas ações, de seus pensamentos. As recordações estéreis são também auspiciadas por aqueles que detém o poder para aproveitarem-se desses momentos com o objetivo de esvaziar a vitalidade dos combatentes revolucionários mortos ou para continuar denegrindo-lhes ou manchando sua imagem rebelde. Assim, fizeram com Che durante 43 anos.
“Um povo vive na medida que essa memória seja presente, seja ação, seja prática e não uma mera recordação podre entre os livros”, expressa Iñaki. E acrescenta que um povo só pode viver “se for capaz de manter nas ruas, nas ações e nas mobilizações as contribuições das pessoas que lutaram e morreram, mas não titubearam em enfrentar os maiores riscos para manter suas reivindicações para si e para as gerações futuras. Porque a memória não é uma coisa somente do passado e sim uma arma carregada de futuro, um instrumento de libertação, de ação”.
Marx assinalou, nas teses sobre Feurbach, a necessidade não só de contemplar a realidade, mas de transformá-la.
Para ele, é imprescindível que se repitam os ensinamentos, se usem bonés ou camisetas com as imagens de revolucionários ou se coloquem cartazes dos combatentes insurgentes nas portas ou paredes das casas e escritórios. Mas não apenas isso.
A práxis revolucionária implica nutrir-se de um corpo teórico adequado para compreender a realidade, não somente para explicá-la ou aprofundar seu conhecimento. O objetivo é, também, buscar transformá-la, modificá-la constantemente, muito mais se essa realidade é de miséria e exploração da maioria da população.
Porém, não se trata da ação individual, de uma pessoa sozinha, isolada dos coletivos sociais. Pelo contrário. São os povos e suas diversas organizações que devem levar adiante a tarefa política revolucionária de lutar contra os inimigos do gênero humano: o imperialismo, o sionismo, a burguesia mundial e as oligarquias, para assim alcançar a construção de uma sociedade diferente da capitalista.
Nesse processo, os povos não devem esquecer e nem perdoar aqueles que os infringiram dor e sofrimento. As ações criminosas cometidas por pessoas como Uribe, Santos, Padilla, Bush e seus aparatos militares e paramilitares, não podem ser relegadas ao passado, sem estar presentes na memória dos coletivos sociais. O propósito é dar impulso à luta revolucionária para acabar, efetivamente, com a política criminal e bélica da oligarquia e do imperialismo. De igual maneira, temos que manter vivos cada um dos feitos cometidos por criminosos a serviço daqueles que detém o poder na sociedade capitalista, para que, mais cedo ou mais tarde, prestem conta aos tribunais revolucionários.
Ao longo destes últimos cinquenta anos, as FARC-EP vêm demonstrando com sua práxis e seus combatentes, como Raúl, Iván e, especialmente, como o “velho querido”, o Comandante Manuel, ser coerente com os princípios que eles estabeleceram para defender o povo, mostrando na prática a firmeza, a decisão, o antiimperialismo e o internacionalismo revolucionário, agora mais vigorosamente, por ter recuperado a espada de combate do Libertador Simón Bolívar.
No segundo ano do assassinato de Raúl Reyes e de Iván Ríos e da morte natural do Comandante-em-Chefe, Manuel Marulanda Vélez, os revolucionários devem praticar a solidariedade militante, ativa e frontal com as FARC-EP. O temor, a claudicação, não podem ocupar a mente daqueles que lutam pela construção de um mundo distinto ao imposto pelo sistema capitalista.
A oligarquia colombiana e o imperialismo pretendem que os povos do mundo internalizem suas mentiras, repetidas constantemente sobre a insurgência colombiana.
É triste escutar muitas personalidades, supostamente progressistas, assim como organizações políticas aparentemente de esquerda, repetir os argumentos defendidos pela propaganda da oligarquia colombiana e do imperialismo ianque sobre as FARC-EP. Essa gente e esses movimentos que jamais estiveram “ao lado do povo que sofre”, no dizer de Che, não merecem nenhuma consideração por parte dos povos que lutam contra seus inimigos, seus exploradores.
Não cabem dúvidas de que a propaganda fascista possui um efeito poderoso também em grande parte da população, que é diariamente intoxicada com mentiras a respeito do movimento guerrilheiro colombiano.
Por isso, é vital o desmonte desse discurso e fazer as pessoas conhecerem, nos mais diversos espaços, o que realmente é a insurgência colombiana. Ganhar a hegemonia dos mentirosos oligarcas e imperialistas é tarefa fundamental dos revolucionários. A direita tem isso muito claro. Por isso, Uribe e o fantoche Gabriel Silva, atual ministro de Defesa da Colômbia, deram ordem às suas embaixadas para lançar uma campanha agressiva com o objetivo de denegrir as FARC-EP. Isso ocorreu logo após ser exibido na Argentina o documentário “FARC-EP: a insurgência do século XXI”, onde se apresenta a guerrilha colombiana em sua verdadeira dimensão, como força popular, político-militar, a serviço dos pobres.
Guardar silêncio, permanecer escondidos ou sentados comodamente em frente de um computador num escritório de trabalho, não é digno de quem luta por um mundo melhor. A solidariedade, o respaldo à insurgência colombiana, não obstante o conhecimento dos riscos que ela implica, produto da perseguição desatada pelo regime narco-paramilitar dirigido por Uribe, tem que ser a viva voz, como se fez com os revolucionários vietnamitas e argelinos e como se faz com o povo palestino, vítima dos mais bestiais crimes por parte do Estado sionista de Israel.
Essa solidariedade também deve expressar-se com aqueles que são criminalizados por denunciar as violações dos direitos humanos cometidos pelo regime fascistóide colombiano e por defender a insurgência revolucionária, como é o caso dos jornalistas Jorge Enrique Botero e Dick Emanuelsson, entre outras e outros coerentes comunicadores e intelectuais sociais.
Esse é o melhor tributo à Manuel, Raúl, Iván, Martín Caballero, Efraín Guzmán, como também aos revolucionários que vem sendo capturados e confinados nos cárceres colombianos ou norte-amerianos pelo delito de lutarem pela construção da Nova Colômbia, como Sonia, Simón Trindad ou Iván Vargas.
Bolívar Vive! A Luta Continua!
Juramos vencer, venceremos!
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza