Nota Política da Fração Indígena do PCB

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No último dia 23/06/2021, Ricardo Salles, após ser o principal alvo de inquérito que apura sua participação em um esquema de extração e venda ilegal de madeira, solicitou sua exoneração e não é mais o Ministro responsável pela pasta do Meio Ambiente. Sua gestão foi marcada por inúmeros ataques e crimes cometidos contra o meio ambiente, privilegiando claramente os interesses do capital, representado pela ignóbil bancada ruralista e outros setores da direita. Contudo, sua saída não nos dá motivos para comemoração. Isso porque em seu lugar foi nomeado o Sr. Joaquim Pereira Leite, personalidade intimamente ligada aos ruralistas e à burguesia agropecuária nacional e transnacional. Antes de ingressar no Ministério do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite dedicou quase metade de sua vida sendo conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das mais importantes e conservadoras entidades representativas dos interesses do agronegócio e que respalda a bancada ruralista no Congresso.

É sabido ainda que a família de Pereira Leite, por conta dos seus interesses no mercado imobiliário, está em litígio desde a década de 1980 com indígenas pleiteando a Terra Indígena do Jaraguá, situada entre o município de São Paulo e Osasco, que tradicionalmente abriga indígenas da etnia Guarani Mbya e Guarani Nhandeva, sendo o menor território indígena do país com cerca de 1,75 hectares. A família Pereira Leite tem um histórico de agressividade em relação aos indígenas presentes nesse território, atuou para que a FUNAI – Fundação Nacional do Índio removesse os marcos físicos da demarcação da área indígena, alegando ser o proprietário da área, acusando a Fundação de estar praticando crime. No livro “A grilagem de terras na formação territorial brasileira”, a doutora em Geografia Humana pela USP Camila Salles de Faria colheu relatos de lideranças, dentre eles líder espiritual Guarani José Fernandes, sobre uma visita de um membro da família Pereira Leite à comunidade:

“Chegou esse finado velho… Pereira Leite, (que disse): ‘não, isso aqui é meu; agora temos que fazer tudo, vamos lá pra delegacia’. Aí eu falei ‘não, não vou’. Aí ele falou assim: ‘tem papel da terra que comprou aqui?’ Eu falei: ‘não, não tenho, mas também sou grande, viu?’ Aí mostrei o meu documento de cacique. Aí ele foi embora.” Sobre esse episódio, Joaquim Pereira Leite tem uma postura evasiva, remetendo a situação ao espólio de sua família paterna.

Por tudo isso, a nomeação de Joaquim Pereira Leite, que já ocupava o cargo de Secretário da Amazônia e Serviços Ambientais na gestão de Ricardo Salles, para o cargo de Ministro do Meio Ambiente, não é mais que a troca de seis por meia-dúzia, sem qualquer alteração de conteúdo na política implementada por seu antecessor, pois o pano de fundo permanece o mesmo, ou seja, a contundência agressiva e devastadora do agronegócio em relação ao meio ambiente, aos povos originários e às populações tradicionais, que se articula com a agenda econômica ultraliberal do atual governo.

Fração Indígena do PCB