Fora Bolsonaro e Mourão: manter a ofensiva!
Por todo o Brasil, em mais de 300 cidades, as manifestações de 3 de julho demonstraram a insatisfação da maioria da população brasileira com a política genocida do governo Bolsonaro/Mourão. Em todo o Estado de São Paulo, tivemos manifestações em cerca de 59 cidades, com a participação do PCB em mais de 20 delas, com muita organização, disciplina e compromisso com as bandeiras da classe trabalhadora.
No momento em que, tragicamente, ultrapassamos a marca dos 528 mil mortos por Covid-19, sendo mais de 130 mil no Estado de São Paulo (com mais de 86 mil casos a cada milhão de pessoas) e apenas 13,7% da população totalmente vacinada em nosso país, enfrentamos índices elevadíssimos de desemprego (sobretudo entre a juventude negra), aumento de pessoas passando fome, alta letalidade policial e várias denúncias de corrupção em diversos níveis do governo.
O aumento do custo de vida, do preço da gasolina, gás natural, diesel, gás de cozinha, na cesta básica (cuja média na cidade de São Paulo é de R$ 626,76, ou seja, mais da metade do salário mínimo), nas tarifas de água e energia, assim como o completo abandono dos pequenos e médios empresários, têm desgastado de maneira crescente o governo Bolsonaro, que nas últimas pesquisas conta com mais de 60% de desaprovação.
Com todo esse cenário, partidos políticos de esquerda, os movimentos populares, o campo sindical classista e a esquerda socialista foram às ruas no último dia 3 para demonstrar toda insatisfação e a necessidade de derrubar o governo Bolsonaro/Mourão, com atos massivos e representativos em todo país e em todo estado de São Paulo. O PCB e seus coletivos de luta participaram ativamente, com organização e ousadia, formando o maior bloco militante organizado em cidades importantes como Santos, Piracicaba, Sorocaba, São Carlos, Atibaia, Campinas, e um dos maiores blocos organizados na cidade de São Paulo, entre outras localidades.
A linha política correta das forças do campo classista, concentrando todas as energias na mobilização popular, foi um acerto político fundamental nessa conjuntura, mostrando sintonia com a insatisfação da classe trabalhadora e contribuindo decisivamente para agregar cada vez mais a nossa classe junto aos seus setores populares e organizados nas ruas.
E diante do crescimento massivo das manifestações organizadas pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro, passamos a observar um movimento de setores da direita que, assim como em 2013, começam a fazer investidas no sentido de disputar o conteúdo político e os rumos das futuras manifestações. Isso se evidencia através da forma como os monopólios privados dos meios de comunicação – a chamada grande mídia – vem cobrindo os atos. De um primeiro movimento tático que simplesmente ignorava as manifestações, passam à tentativa de imprimir um conteúdo “antipartidário” às mesmas, propondo o mesmo discurso ideologicamente orientado do conservadorismo patriótico, das “bandeiras verde-amarelas e do Brasil”.
No entanto, o movimento da luta de classes no país já demonstra claramente que tal investida não teve sucesso, pelo contrário, reanimou ainda mais as forças do campo classista na defesa das manifestações com conteúdo claramente vinculado aos interesses do proletariado brasileiro, em suas mais diversas frações e manifestações, identificando que a o projeto de destruição do país e de ataque aos direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora, vem sendo liderado pela burguesia instalada internamente, e patrocinado pelos grandes meios de comunicação.
Essa mesma burguesia que, em algumas de suas frações, começa a desembarcar do governo bolsonarista – mas sem abrir mão do aprofundamento liberal de Paulo Guedes – e no mesmo movimento de disputa do rumo político das manifestações passam a divulgar a participação nos atos pelo Fora Bolsonaro/Mourão. Esse movimento pode ser observado no último 3 de Julho em São Paulo, por exemplo, com a participação do PSDB e do Movimento Eu Acredito, de Tábata Amaral. Para nós Comunistas é fundamental que todos aqueles que se manifestam pelo Fora Bolsonaro/Mourão possam ir às ruas. Contudo, não nos iludimos e sabemos exatamente em qual lado da luta de classes estamos, aquele do proletariado, diametralmente oposto ao da burguesia representada pelo PSDB. E assim, temos clareza daquilo que nos diferencia da direita política que procura disputar os atos, bem como por onde procuramos avançar nas lutas e do projeto de sociedade que defendemos, de superação do capitalismo e construção da transição socialista.
Numa outra dimensão dos desdobramentos dos atos, apontamos nossa discordância com a tática de alguns setores da esquerda e centro-esquerda que a todo momento tentam subordinar o calendário de lutas ao calendário eleitoral do ano que vem, repetindo os mesmos erros de 2016 e 2018. Infelizmente, até alguns setores da esquerda socialista caem nesse conto de fadas, de tentar criar uma realidade que não existe, para satisfazer seus desejos e entendimentos de frente única, frente de esquerda etc.
Outro elemento que tem aumentado, dos atos de junho para cá, é a presença maior de blocos autônomos que executam ações diretas nas manifestações. E aqui colocamos nossa posição de maneira bem firme e tranquila. Nós comunistas somos contra qualquer forma de criminalização das lutas sociais. Porém, entendemos que as ações diretas devem estar submetidas a um planejamento e a uma avalição constante de qual melhor momento de usá-las e como essas ações podem beneficiar nossa estratégia e nossas táticas (ou seja, quais os melhores momentos de fazer as ações diretas e como elas podem beneficiar naquele momento e a médio/longo prazo os interesses da classe trabalhadora).
Nós do PCB entendemos que as ações diretas na manifestação de 3 de Julho em São Paulo, fora de um contexto de autodefesa, foram de um erro primário e irresponsável, uma vez que estamos agregando cada vez mais pessoas que nunca foram a manifestações, pessoas independentes, idosos, cadeirantes e vários trabalhadores e trabalhadoras que não estão preparadas para esse tipo de ofensiva. Ações diretas que não sejam para autodefesa (na atual conjuntura) só prejudicam nossa luta, contribuindo para fortalecer os setores bolsonaristas e as forças de segurança contra nós, inclusive com a participação de policiais infiltrados entre os manifestantes.
Outros fatos importantes que precisamos criticar, é que esses grupos autônomos começaram a fazer as ações diretas à revelia de qualquer organização conjunta, seja com as forças que organizaram os atos, seja conosco – nem mesmo com outros setores anarquistas e autônomos que estavam na manifestação! E pior, tentaram usar o bloco organizado e disciplinado do PCB como escudo contra a repressão (faziam as ações diretas e corriam para nosso bloco para se protegerem). Obviamente que, na segunda tentativa de infiltrar no nosso bloco, nossa organização e disciplina repeliu esses manifestantes, porque antes de tudo precisamos garantir a integridade física e a segurança das pessoas independentes que vão nos atos conosco.
Demos um recado no dia 3 de Julho, e aqui o reforçamos: nenhuma força política, de esquerda e de direita, nem a polícia ou quem quer que seja usará o bloco do Partido Comunista Brasileiro como escudo ou trampolim para suas ações! Nem dia 3, nem dia 13/07, muito menos no dia 24/07! Se tomam ações irresponsáveis, que arquem com elas! Até porque, para nós, não tem sentido nenhuma ação direta no metrô e em pontos de ônibus, cujos principais usuários são a classe trabalhadora! (não é a burguesia que usa a linha amarela do metrô ou pega ônibus na Consolação).
Também temos fortes indícios de que elementos bolsonaristas se infiltraram nesse bloco de autônomos e/ou instigaram essas ações diretas, para que o governo Bolsonaro (que está acuado e por isso parte para o ataque) instrumentalize estes fatos a favor de um endurecimento da lei anti-terrorismo e da criminalização das manifestações. Além do que, apesar de a PM do governo Dória não ter reprimido com toda sua força, sabemos que as forças de segurança paulistas estão repletas de elementos bolsonaristas, o que acarretou no que aconteceu no ato de Recife, cuja repressão foi à revelia do governador. Sabemos que boa parte dos autonomistas não são infiltrados, mas não podemos descartar essa possibilidade: o caso Balta Nunes não nos deixa mentir. Dito isso, reafirmamos nossa última nota de solidariedade aos militantes presos no ato do dia 03 de julho e repudiamos qualquer escalada punitivista contra as lutas populares.
Para nós comunistas, os próximos passos, depois das manifestações, são fundamentais! É preciso continuar construindo ativamente o calendário de lutas estabelecido para Julho, continuar visitando os locais de trabalho, os bairros periféricos, as áreas rurais, dialogando com a angústia, frustração e cansaço de trabalhadores e trabalhadoras, transformando em combustível para a ação e para as ruas! É preciso usar toda essa revolta para a construção de uma urgente e necessária greve geral, o combustível fundamental para acelerar o impeachment de Bolsonaro e também de Mourão!
Daremos peso total no calendário de lutas estabelecido pelas frentes unitárias que compomos:
13 de Julho – Dia Nacional de Luta dos Trabalhadores dos Correios, contra as privatizações das estatais, em favor da educação pública e dos serviços públicos e em defesa dos povos indígenas;
16 de julho – Dia de Mobilização pela moradia e pelo Fora Bolsonaro (Articulação de Movimentos Populares Urbanos);
24 de Julho – Dia Nacional de Luta pelo FORA BOLSONARO E MOURÃO;
25 de julho – Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha;
1ª semana de agosto – Dia Nacional de Luta em Defesa dos Serviços Públicos, contra a fome, a carestia e o desemprego (Fórum das Centrais Sindicais).
Ocupar as ruas! Fora Bolsonaro e Mourão! Impeachment Já!
Por emprego, vacina no braço e comida no prato!
Pelo poder popular e o socialismo!
Comissão Política Regional – PCB – São Paulo