Comoção em Israel diante da deriva racista de sua juventude
O linchamento de um jovem palestino por cerca de 20 adolescentes judeus a oeste de Jerusalém Oeste há alguns dias alarmou sociólogos e intelectuais em Israel. O controvertido oximoro “judeu-nazista”, cunhado há décadas pelo polêmico filósofo Yeshayahu Leibowitz (1903-1994), foi recuperado por estes dias em alguns editoriais da imprensa liberal israelense. A mídia conservadora, ao contrário, abordou o incidente como um fato isolado perturbador, mas sem maiores consequências.
A reportagem é de Ana Garralda e está publicada no jornal El País, 01-09-2012. A tradução é do Cepat.
Leibowitz começou a denunciar uma tendência de “nazificação” em consequência da ocupação da Cisjordânia e Gaza após a Guerra dos Seis Dias. Posteriormente, escreveu sobre a mentalidade “judeu-nazista” desenvolvida por alguns soldados após a invasão do Líbano, em 1982. Então suas palavras provocaram feridas em um contexto social em que abundavam os sobreviventes do Holocausto, que se horrorizaram com o termo empregado pelo polêmico professor.
Suas citações reaparecem por ocasião dos incidentes de caráter racista não apenas na Cisjordânia, com os habituais ataques dos colonos aos civis e propriedades palestinas, mas também no interior de Israel. A celebração de certas efemérides simbólicas, como o Dia de Jerusalém – em que Israel permite a entrada na cidade Velha de milhares de jovens, a maioria vinda de assentamentos, que trazem bandeiras israelenses e gritam palavras de ordem como “morte aos árabes” –, contribui para fomentar a xenofobia e a violência contra os palestinos.
Ações impunes
Ao linchamento se seguiram novos ataques, desta vez na Cisjordânia. O mais grave aconteceu junto ao assentamento de Gush Etzion, com o lançamento de um coquetel molotov contra um táxi em que viajavam seis ocupantes, que tiveram que ser hospitalizados com queimaduras de diversos graus. Embora o primeiro ministro israelense, Benajamin Netanyahu, tenha garantido ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, que levaria os culpados aos tribunais de justiça, a maioria destas ações fica impune.
Para alguns especialistas os dois incidentes, eclipsados pela rotina em que se converteu a destruição semanal de oliveiras em terras palestinas, a queima de pastos, ou as pintadas xenófobas contra os árabes, constituem a ponta do iceberg de uma violência soterrada, alimentada pelas mensagens incendiárias de alguns rabinos ou inclusive pelas leis discriminatórias em relação aos palestinos, muitas vezes patrocinadas pelos colonos.
Segundo um estudo da ONG Jerusalem Fund, com sede em Washington, a média de ataques de colonos em 2011 foi de 2,6 por dia, o que representa um aumento de 39% em relação ao ano anterior. Alguns intelectuais consideram que estes surtos xenófobos simbolizam o fracasso de um sistema educacional dual que exacerba as diferenças entre judeus e árabes e são frutos das mensagens das instituições sobre a “supremacia dos judeus em relação aos palestinos”.