Uma história de resistência

Vida do palestino Ahmad Sa’adat é marcada por perseguições políticas e luta pela libertação do povo palestino

17/12/2012

Patrícia Benvenuti

enviada a Porto Alegre (RS)

A história de militância de Ahmad Sa’adat é longa e está ligada aos principais fatos da trajetória de luta dos palestinos. Filho de camponeses expulsos de sua terra em 1948, ano da criação do Estado de Israel, Sa’adat nasceu em 1953, em Al-Bira. Engajou-se em uma entidade estudantil palestina em 1967, quando Israel anexou a Faixa de Gaza, as Colinas de Golã, a Península do Sinai e a porção oriental da cidade de Jerusalém durante a chamada Guerra dos Seis Dias.

Em 1969, uniu-se à Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP), organização considerada terrorista por Estados Unidos e União Europeia. A partir de então, foi preso 12 vezes por Israel devido à sua participação na Frente.

Em meio às perseguições políticas e prisões constantes, em 1975 formou-se na Escola de Formação de Professores da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA) em Ramallah, com especialização em Matemática.

Em, 1994, tornou-se líder da PFLP na Cisjordânia. Em 2001, foi eleito secretário- geral da organização, depois do assassinato de seu antecessor, Mustafa al-Zibri (conhecido por Abu Ali Mustafa), por forças de Israel. No ano seguinte, Sa’adat seria então encarcerado pelo período mais longo de sua vida, prisão que dura até hoje. Ele foi acusado de planejar a execução do ministro do Turismo israelense de extrema-dreita, Rehavam Ze’evi, conhecido por manifestar-se contra o retorno dos palestinos refugiados. Ze’evi foi morto por quatro membros da PFLP, desagradando a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que alegava que o assassinato serviria de pretexto para novos ataques israelenses. A ANP decidiu, então, prender Sa’adat. Em 14 de março de 2006, as Forças de Ocupação de Israel (IOF) atacaram a cadeia onde Sa’adat estava, em Jericó, e o levaram para Israel, junto com os quatro prisioneiros que haviam assassinado Ze’evi. Dois anos depois, Sa’adat foi condenado a uma pena de 30 anos.

Sua luta em favor dos direitos do povo palestino continuou na prisão, onde desafiou, seguidamente, o Estado de Israel. Recusa-se a reconhecer o tribunal onde foi julgado. Realizou diversas greves de fome para denunciar as más condições das cadeias israelenses e a ilegalidade de suas prisões. A última greve de fome ocorreu em abril de 2012. Junto com 2,5 mil presos políticos palestinos, eles protestaram contra o fim das prisões individuais e administrativas (que permitem a detenção a qualquer momento sem a necessidade de apresentar justificativa). Segundo declaração de Sa’adat em 5 de dezembro, por meio de seu advogado, ele afirmou que as condições das prisões não melhoraram. Segundo ele, os israelenses não acabaram completamente com o isolamento e nem reduziram as detenções administrativas, que faziam parte de um acordo para acabar com greve dos presos.

A libertação de Sa’adat é alvo de intensa campanha, que conta com a participação de ativistas de diversas partes do mundo. Na página oficial da campanha na internet (http://freeahmadsaadat.org/), as organizações afirmam que o militante é “um prisioneiro da consciência, sujeito aos tribunais militares ilegítimos de uma ocupação militar ilegal”.

http://www.brasildefato.com.br/node/11366