40 anos do Golpe:
Juan San Cristóbal
28 de agosto de 2013
RADIO UNIVERSIDAD DE CHILE
Duas universidades, em Santiago, realizarão atos comemorativos pelos 40 anos do Golpe de Estado, outorgando títulos póstumos a estudantes desaparecidos pela ditadura. Na Universidade de Santiago, se recorda um período em que acadêmicos e estudantes estiveram em perigo de morte, enquanto na Universidade Católica, alguns esperam uma maior autocrítica ante a participação de alguns de seus membros no regime.
Na Universidade de Santiago, antiga Universidade Técnica do Estado, em 1973, optou-se por chamar “títulos de graça”, ao reconhecimento que receberão, em 6 de setembro, sexta-feira, os 40 estudantes homenageados, que são parte dos 88 membros desta comunidade, desaparecidos após o Golpe de Estado.
Enquanto isso, na quinta-feira, dia 5, a Pontifícia Universidade Católica fará o mesmo no campus San Joaquín, entregando títulos póstumos a 10 alunos que integram a lista de 28 casos de acadêmicos e jovens perseguidos por militares no interior da casa de estudos.
Em ambos os casos, a ideia aponta “realizar o sonho” destes jovens, muitos são primeira geração universitária de suas famílias, com uma ativa participação social e política.
Não obstante, além do ato de memória se mantém uma postura reflexiva ante os horrores da ditadura. Luis Aguilar, diretor do coletivo Memória UC, indicou que falta uma postura crítica no interior da Universidade Católica, pela colaboração de alguns de seus membros no regime e posterior instauração de um modelo político e econômico.
“Existe uma participação especial da universidade no Golpe de Estado, e a instauração de um modelo econômico e político que nasce na Universidade Católica. O modelo econômico que é elaborado na Escola de Economia, e se implanta com um modelo político vigente até hoje. A universidade não fez um reconhecimento de sua participação nesse plano da ditadura e da geração deste modelo”, afirmou Aguilar.
Em contrapartida, o vice-reitor Relações Públicas (Vinculación con el Medio, em espanhol) da Usach, Dr. Sergio González, destacou o papel das universidades no diálogo social, sob um conceito formador não só de profissionais, mas também de cidadãos com memória cívica.
González disse que “as universidades estão fazendo estes exercícios de memória ativa na busca por recuperar nossa identidade mais profunda. Entendemos que continua viva a missão de universidade completa, que não apenas esteja na lógica da aula, mas que também é parte de sua missão pensar o país e o desenvolvimento. Nesse sentido, o lema é ‘fazer e construir memória’, porque nunca é tarde para dizer Nunca Mais”.
Erica Osorio foi estudante de Construção Civil e presidente do centro acadêmico em 1973, hoje integrante da Corporação Solidária UTE-Usach, que indicou que mais que um ato de reparação, este é um gesto que permita um real debate por reconciliação: “O sentido é jamais esquecer, que jamais volte a acontecer. Porque existe uma condição de negação ao que ocorreu, e o que é pior, de justificação. Nós que vivemos isso temos o dever de mostrar de todas as formas todos os antecedentes, toda a história à sociedade. Não importa estar de acordo, mas sim fazer ver, porque não é possível dizer ‘mereciam’. Ninguém merece tortura, ninguém merece morte por pensar diferente. Ninguém”.
Um caminho inconcluso
Na Universidade Católica destacam casos como o professor Juan Ávalos, cujo desaparecimento é vinculado por Luis Aguilar, ao ex-senador UDI Carlos Bombal, que entregou a informação solicitada pela DINA, para que o docente fosse detido ‘sem testemunhas’ em 20 de novembro de 1975. Bombal era o chefe de Gabinete do Reitor Jorge Swett Madge, que o ordenou a colaborar com os militares que perseguiam o acadêmico.
Em 19 de outubro de 1973, Eugenio Ruiz-Tagle foi executado em Antofagasta, junto a outras treze pessoas pela Caravana da Morte. O estudante da U. Católica e militante do MAPU se apresentou voluntariamente à Intendência de Antofagasta em 12 de setembro, ante um requerimento público.
Omar Venturelli
Omar Venturelli era professor do Departamento de Educação da Universidade Católica, sede Temuco, e membro do grupo Cristãos pelo Socialismo. Acompanhado por seu pai, se apresentou nos dias 24 e 25 de setembro de 1973 ante os militares no regimento Tucapel. Apesar de ter sido informada sua prisão e posterior liberação, em 4 de outubro começou uma peregrinação de sua família para encontrar seu paradeiro, ainda desconhecido.
No Assentamento Nuevo Sendero, comuna de Paine, os militares irromperam de madrugada na casa dos Lazo Maldonado. Levaram detidos os irmãos Carlos e Samuel, além dos filhos deste, Samuel e Luis Rodolfo. Samuel Lazo Maldonado era estudante do DUOC, e seu caso é parte dos desaparecidos presos na chamada repressão de Paine 1973.
Jilberto Urbina Chamorro era militante do MIR e estudante de Medicina na Universidade Católica. Detido em 6 de janeiro de 1975, foi vítima de torturas em Villa Grimaldi, para onde também foi levada sua esposa, Ángeles Álvarez Cárdenas, que foi obrigada a presenciar a tortura de seu marido numa sala próxima, em diferentes momentos. Em 25 de janeiro desse ano, perdeu-se o rastro dele e é parte dos 119 casos da Operação Colombo.
Jilberto Urbina
Na Usach, o próprio Reitor Enrique Kirberg passou por diferentes centros de tortura, assim como o cantor Víctor Jara, que se encontrava no campus no momento de sua prisão. Além disso, destacam-se casos de alunas grávidas, executadas na ditadura.
Um caso conhecido na Usach é o de Gregorio Mimica, presidente do centro acadêmico de Engenharia Mecânica na Universidade Técnica do Estado, que foi detido em 11 de setembro durante a remoção do campus da Estación Central, levado mais tarde ao Estádio Chile. Foi liberado e, três dias depois, novamente preso, passando a ser um preso desaparecido.
Cabe destacar que em setembro de 1973, na então UTE, preparou-se uma coleção de cartazes que seria inaugurada pelo presidente Salvador Allende, momento em que anunciaria a disposição de seu governo a um plebiscito.
Michelle Peña é outra das estudantes desaparecidas desta instituição. Grávida de oito meses, a aluna de Engenharia Elétrica foi detida em 1975 e vista, pela última vez com vida, em Villa Grimaldi. Até hoje, se desconhece seu paradeiro, tampouco se sabe a respeito do eventual nascimento de seu filho.
Ricardo Rioseco também foi detido pelos militares, em Angol, enquanto visitava seu pai, militante comunista.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)