Que pena! Eles pensam que os jornalistas escrevem com as mãos
Durante muitos anos essa frase emoldurou a entrada do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Era uma placa simples, de madeira, em alusão ao título de uma matéria escrita por um colega – um jornalista barbaramente agredido pela polícia no início do século XX por ter denunciado violência contra a população. Quebraram suas mãos em sua ignorância, para ele nunca mais escrever contra os algozes do povo. No dia seguinte essa matéria era publicada.
Passado tanto tempo, voltamos (?) à barbárie. A polícia agride, prende, intimida, espiona aqueles que se manifestam contra o status quo, contra as benesses da burguesia. Não satisfeitos, investem contra as organizações sociais que lutam pela democracia. Ágora, entre os alvos estão os jornalistas e seu sindicato, uma categoria influente com uma entidade emblemática devido a sua capacidade de divulgação, sua influência na sociedade, um sindicato cuja história é em defesa dos jornalistas e, mais do que isso, em luta permanente pela democracia.
O nosso sindicato foi fundado em 1935, ano do Levante Comunista contra a ditadura de Getúlio Vargas, intitulado pela mídia empresarial de intentona com o objetivo de estigmatizar o movimento, de depreciar a luta que ceifou a vida de tantos honrados trabalhadores.
Essa mídia apoiou o golpe de 64, as torturas, os assassinatos, a entrega do país às multinacionais. É a mesma mídia que esconde o fato do Brasil gastar mais de 40% do orçamento da União para pagamentos anuais aos agiotas internacionais, ao imperialismo. A mídia que criou o termo calote – hoje utilizado repetidamente contra a Argentina – investe contra quem luta para romper com tal dependência, ainda que de forma parcial. É a mídia que se esconde atrás de mentiras para satisfazer seus interesses de classe.
O mesmo fizeram durante a ditadura, na manipulação do debate Collor x Lula em 89, no governo FHC de entrega das estatais para as multinacionais, nos últimos 20 anos de predomínio de governos neoliberais, em consonância com os interesses do capital internacional, do agronegócio.
A universalização da informação tornou essa mídia uma poderosa arma do imperialismo para atacar os trabalhadores, os povos, seus direitos, sua riqueza. Por isso, agora vemos o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro ser agredido pela principal rede de desinformação do país, copiada e seguida por outras integrantes da mídia empresarial, abraçadas pelos derrotados nas democráticas eleições do ano passado, que levaram a atual diretoria do sindicato à sua presente gestão. Utilizam a velha tática nazista – de Hitler e Goebbels – de repetir inúmeras vezes uma mentira para tentar conferir-lhe ares de verdade.
Fazem uma opção política e ideológica de aliar-se ao capital, de contrapor-se aos interesses do povo e da categoria de jornalistas apenas para voltar à direção do sindicato, para tentar trazer de volta o peleguismo que perdurou na entidade por cerca de 20 anos. É o mesmo processo que ora ocorre na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde um contumaz preposto da mídia empresarial tenta se apossar, por interesses e meios escusos, da lendária e histórica organização nacional dos jornalistas.
Lamentável que parte da direção da Fenaj esteja em conluio com o que há de mais atrasado na política nacional.
O que está por trás dessa sórdida campanha de difamação do Sindicato dos Jornalistas é mais uma tentativa de legitimar o estado de exceção, de criminalizar os movimentos sociais, de prender e tentar calar aqueles que se levantam contra os governos que sistematicamente atuam para manter e aumentar os lucros privados. Outra tática nazista para calar e intimidar os trabalhadores.
O nome do auditório do Sindicato dos Jornalistas é João Saldanha. Em seu interior seu nome está identificado como João Sem Medo. O mesmo ‘sem medo’ que nós, jornalistas do Rio de Janeiro, sentimos aos nos defrontar com mais uma iniciativa anacrônica dos peões da ditadura burguesa.
Mantemos a convicção de que nosso papel é divulgar a verdade, os fatos, apoiar a verdadeira democracia, lutar pela justiça social. É o que temos certeza a sociedade e os trabalhadores esperam da nossa categoria, mais uma página da nossa história de lutas.
A democracia no e do Sindicato dos Jornalistas há de prevalecer frente a interesses inconfessáveis. A ética há de se mostrar mais forte.
Afonso Costa
Jornalista