Gaza – Trincas no Muro: As consequências não planejadas do genocídio
“Cracks in the Wall: The Unintended Consequences of Genocide”
Traduzido por mberublue
Campo de concentração de Israel
Ao mesmo tempo que Israel declara um cessar fogo de 72 horas, também afirma: “missão cumprida” em Gaza. Talvez se torne interessante ver o que aquele regime de apartheid realmente cumpriu.
Destruiu túneis, os quais na maioria das vezes são usados para o contrabando de artigos para o lar, que Israel, em descumprimento e violação das leis internacionais, impede que sejam importados pelos palestinos.
Massacrou cerca de 2.000 (duas mil) pessoas, entre as quais se incluem crianças, mesmo as recém nascidas, ferindo ainda milhares delas.
Destruiu centenas de casas, deixando na rua, ao léu, milhares de homens, mulheres e crianças.
Arrasou usinas de energia, fazendo com que centenas de milhares de pessoas ficassem sem eletricidade ou água corrente.
Provocou a destruição de fábricas que produzem coisas extremamente perigosas para Israel, como pretzels, queijo e biscoitos.
Alvejou e assassinou jornalistas.
Israel, genocida e covarde, bombardeia Gaza
Os oficiais israelenses afirmaram que, em Gaza, precisam regularmente “Aparar a Grama”, o que significa destruir a infraestrutura e bombardear a área sitiada até empurrá-la o mais próximo possível da idade das trevas. Podemos acrescentar isso às realizações da “missão cumprida” de Israel.
Porém, talvez a maior falha de Israel, meta desesperadamente procurada, e que não conseguiu cumprir, foi o seu objetivo mais ambicioso: o desmantelamento do governo de coalizão entre Fatah e Hamás. Este governo, trêmulo talvez, definitivamente corrupto, permanece intacto.
Ocorre que na realidade, existem alguns resultados não esperados e que efetivamente se dão em consequência desse bombardeio genocida contra os palestinos.
Palestina – Governo de coalizão Hamás-Fatah
Crítica internacional inesperada contra Israel. Mesmo que não seja de forma universal, desta vez Israel viu embaixadores sendo convocados de volta a seus países, e até mesmo os Estados Unidos que normalmente dão um cheque em branco a Israel para que faça o que quiser no cenário internacional, desta vez arriscou algumas críticas tímidas contra seu fantoche mor. Mas é lamentável que para que os EUA arriscassem algumas críticas anêmicas, foi necessário que Israel bombardeasse repetidas vezes as escolas das Nações Unidas, nas ocasiões usadas como abrigo para milhares de palestinos expulsos de suas casas, mas pelo menos alguma crítica foi expressa. A inesperada renúncia de Sayeeda Warsi, Ministra Sênior no Gabinete de Relações Exteriores da Grã Bretanha, que saiu acusando o governo do Primeiro Ministro David Cameron de tomar uma abordagem “moralmente indefensável” em relação ao conflito entre Israel e Gaza, foi por sua vez uma consequência surpreendente contra Israel.
Demonstrações internacionais de apoio aos palestinos. Israel mesmo teve centenas de pessoas de seu povo protestando contra o bombardeio maciço na faixa de Gaza. Em Londres, dezenas de milhares de pessoas protestaram contra o bombardeio, exigindo que o governo britânico pare de apoiar Israel.
Israel enfrentou uma tempestade na mídia social, que bateu sem dó no país. Na última vez que Israel resolveu “cortar a grama” em Gaza foi há dois anos. Naquele tempo, o Twitter tinha aproximadamente 20 milhões de usuários. Hoje, este número já se encontra na casa dos 120 milhões de usuários que espalharam através do globo fotografias e filmes e informações que a imprensa empresa não se atreveu ou não quis mostrar. Pelo menos em parte, isso resultou em enormes manifestações de protesto em frente à sede da BBC em Londres, tendo como consequência o anúncio, por parte da organização de mídia que deverá rever suas políticas no intento de ver se, de fato, suas reportagens eram tendenciosas, favorecendo sempre Israel.
Maior motivação para a implementação do movimento BDS (Boycott, Divest and Sanction – Boicote, Desinvestimento e Sanções –NT). Levando em consideração que as pessoas ao redor do mundo percebem que crianças brincando em uma praia são alvos do terrorista IDF (Israeli Defense Forces – Forças Defensivas de Israel – NT), que atiram em crianças espalhando seus pedaços sangrentos pela praia, mesmo os politicamente apáticos tornam-se motivados.
Isolamento cada vez maior de Israel frente à comunidade internacional. Não se pode ver isso como consequência isolada, pois o isolamento decorre de todos os motivos acima listados. As manifestações de protesto, o cancelamento de eventos patrocinados por Israel, o crescimento exponencial do movimento BDS e o aumento nas pessoas da consciência do que acontece deve ser creditado em grande parte à mídia social pela divulgação dos horríveis crimes cometidos por Israel não podem ser ignorados para sempre pelos governos, quando as pessoas que elegeram estes governos demonstram claramente sua oposição.
A única nação que demonstra ser extremamente lenta em mudar sua retórica em relação a Israel, para condenar as terríveis violações dos direitos humanos cometidos por aquele país é, sem surpresa nenhuma, os Estados Unidos.
Como este escritor já mencionou anteriormente, os Estados Unidos gostam dos direitos humanos, desde que não interfiram em suas estratégias ou interesses financeiros. É necessário recordar que apenas entre o início de 2012 e o final de 2013, lobbies pró Israel doaram US$ 8,000,000 aos candidatos ao Congresso e à presidência. Tais candidatos receberam dezenas de milhões de dólares no transcorrer das duas últimas décadas.
Há outras instâncias do poder em redor do mundo além da Casa Branca, da Câmara de Deputados e o Senado dos EUA… Assim, o que acontece se alguns bebês dormindo em seus berços são selvagemente destroçados por armas proibidas, em clara violação à lei internacional? Criticar isso fará com que diminuam os cheques oferecidos pelos lobbies pró Israel? Não, não acho que haja algum risco de que essa crítica seja feita.
Dessa forma, embora murmurando uma crítica quase inaudível, um sussurro medroso em oposição ao genocídio praticado por Israel, ainda assim, os EUA o financia. Enquanto mostra algum “desconforto” com a decisão de Israel de bombardear as escolas das Nações Unidas que abrigavam centenas de palestinos refugiados, os Estados Unidos ainda assim continuam enviando mais e mais armas para Israel, para que o Estado Terrorista continue “aparando a grama” em Gaza.
Sempre foi muito difícil para o eleitor americano escolher entre Tweedle-Dee e Tweedle-Dum (personagens do livro de Lewis Carroll “Alice no País dos Espelhos”. São gêmeos que se complementam a tal ponto que um completa as frases do outro.No fundo, parecem ser o mesmo personagem, tendo como diferença apenas seus nomes bordados nos casacos – NT), candidatos normalmente oferecidos pelos partidos Democrata e Republicano.
Nas próximas eleições de meio de mandato, os eleitores americanos certamente deverão escolher entre candidatos dos dois partidos, que se atropelam uns aos outros na tentativa sôfrega de mostrar quem apoia mais a Israel. Não é por outro motivo que este escritor, que viveu durante anos no Canadá, escreverá alguns nomes em sua cédula de ausente. Serão os nomes dos jornalistas palestinos e homens e mulheres conhecidos deste escritor, que vivem em Gaza e foram vítimas dos ataques genocidas do exército de Israel.
Mesmo com a oposição ferrenha dos Estados Unidos a cada passo a ser dado, a ONU parece estar pronta para investigar possíveis crimes de guerra cometidos por Israel. Não é de se estranhar as suas conclusões, pois a ONU tem emitido mais resoluções críticas contra Israel que todas as outras nações combinadas. Mas até que os cidadãos acordem de seu sono induzido pelos serviços de relações públicas e fiquem conscientes de que os EUA estão financiando um genocídio, nada mudará. Nas últimas semanas, temos visto evidências cada vez mais fortes de rachaduras no muro dos Estados Unidos e das relações públicas de Israel. Todos aqueles que estão chocados com os crimes cometidos por Israel devem alargar ainda mais esta rachadura.
*Robert Fantina–Ativista e jornalista que trabalha em prol da paz e da justiça social, enquanto viveu nos EUA apoiou decisivamente o controle de armas e se opôs à guerra contra o Iraque antes da invasão norte americana e depois que ela aconteceu. Depois das eleições de 2004, mudou-se para o Canadá. Escreveu livros, entre os quais “A deserção e o soldado americano – 1776-2006” além de novelas e mais recentemente o livro “Império: racismo e genocídio – uma história das relações exteriores dos Estados Unidos”, seu último livro.
Postado porCastor Filho