Chile: Wallmapuwen, o único instrumento político de todos os habitantes do País Mapuche, originários e chilenos
Resumen Latinoamericano/ Por Andrés Figueroa Cornejo/ 12/03/2015.-Entrevista con o Presidente da ferramenta política de autonomia do território Mapuche, Ignacio Astete Nahuelcoy.
Com 30 anos, Ignacio Astete Nahuelcoy preside o partido político chamado junto a outras forças, a conquistar o estatuto autônomo de todos os habitantes do território mapuche no país chileno. Nasceu na comunidade de Saavedra, da região de Araucanía, território Lafquenche e é licenciado em Contabilidade e Finanças pela Universidade de La Habana, Cuba. Relata sua liderança estudantil na Universidade de La Frontera de Chile e explica que “Wallmapuwen (‘cidadão do país mapuche’, de todos os que habitam nele) é um movimento autonomista que está localizado no território do Wallmapu (‘país mapuche’), que se encontra sob a dominação do Estado do Chile, aproximadamente desde 1885, durante a chamada ‘Pacificação da Araucanía’. Ela não foi mais que a ocupação e usurpação de um território que, até esse momento, pertencia à soberania do povo Mapuche”, e acrescenta que “Wallmapuwen nasceu há uma década (2005) e tem como missão fazer valer o direito à autodeterminação e o direito à autonomia que nos assistem como povo. O objetivo é a administração mapuche obter seu lugar no mundo, com todas as características que o território tem hoje. Seu funcionamento interno é simples, efetivo e democrático. Conta com uma mesa dirigente horizontal eleita na Assembleia Geral de seus membros, que também resolve dessa maneira suas políticas principais e públicas. A assembleia manda. Existem comitês comunais descentralizados com plena capacidade de decisória”.
– Vocês partiram de uma análise concreta da situação real do território?
“Com efeito. Por isso, nosso movimento também dá conta de que o território está ocupado não apenas por mapuche, mas por outros povos, como o chileno. De tal maneira, consideramos que os direitos coletivos de ambos os povos devem estar em igualdade de condições”.
“Somos uma força anticapitalista”
– Qual é a diferença do instrumento Wallmapuwen e respeito de outras iniciativas políticas existentes no território mapuche em resistência?
“Não existe outro movimento que participe das eleições e que se funde no território mapuche. Somos a única organização política que reclama a partir do campo eleitoral um território autônomo de administração própria. Outra diferença é que nós reivindicamos um território para todos aqueles que o habitam, tanto para mapuche como para chilenos. Para o restante dos partidos do sistema político, os mapuches são apenas o fator indígena. O Wallmapuwen é um instrumento que se distancia dos guetos políticos e busca que ambos os povos, mapuche e chileno, que vivem separados pelo confronto, possam ver-se como habitantes de um mesmo lugar e capazes de conviver respeitosamente”.
– O que ocorre com as versões políticas provenientes apenas do nacionalismo que, por razões históricas resultantes da opressão de um Estado em qualquer parte do planeta, se apresentam como fundamento exclusivo para a libertação?
“A identidade de nação existe, é certo. No entanto, nosso olhar da nação é democrático. Nosso horizonte de sentido é o aprofundamento e a radicalização da democracia. Não podemos e nem queremos negar o outro. Pelo contrário. Não falamos do não-mapuche, falamos do chileno. Não partimos da exclusão. Em nosso território existem mapuches e chilenos em todos os âmbitos da vida, e compartilhamos a vida. A partir dessa realidade inevitável, nós expressamos o princípio da autonomia. Evidentemente existem conflitos com determinadas pessoas e sujeitos chilenos, porém a imensa maioria da população não tem esse conflito. Constatamos em nossa atuação real que existe um Wallmapu que mudou”.
– Porém, a ênfase está colocada no povo mapuche obviamente…
“Temos sido objeto de racismo, criminalização e empobrecimento pelo Estado chileno. Somos os mais castigados entre os castigados em nosso próprio território. Estamos submetidos econômica, cultural, política e militarmente. É nesse marco básico que reconhecemos a coabitação e inclusão de dois povos, porém sob os mesmos direitos. E somos respeitosos quanto aos direitos humanos e aos direitos cidadãos de todos. Por isso, não podemos levantar uma proposta que esmague o chileno que vive conosco. Seria um contrassenso. Sobretudo, porque a maioria dos chilenos que habita o território, sofre nosso próprios problemas: pobreza insalubridade e discriminação”.
– Ou seja, vocês defendem uma perspectiva analítica que revela as formas de dominação global e não só do povo Mapuche…
“Não estamos alheios ao movimento do capitalismo mundial e a seus efeitos nefastos no Chile. Não estamos alheios aos golpes sistemáticos recebidos pelo povo trabalhador em geral. O Wallmapu é vítima do capitalismo promotor da miséria, a dispersão de nosso povo e a morte. Somos contra o avanço da indústria florestal e o conjunto de projetos hidroelétricos e termoelétricos que deterioram ainda mais as péssimas condições de vida de mapuches e chilenos. Somos parte das relações sociais impostas pela totalidade do capitalismo. Por isso, também somos uma força anticapitalista”.
O combate cultural
– Qual é o programa do Wallmapuwen?
“Transformar o panorama do Wallmapu a partir das bases. Atualmente, estamos empenhados em disputar as eleições municipais de fins de 2016 já como partido político legalizado, sem a necessidade de fazer alianças que nos obriguem a abrir mão de aspectos fundamentais de nosso projeto. A ideia de ganhar comunas está relacionada com a promoção de direitos em todos os espaços possíveis. Tivemos experiências, por exemplo, na comuna de Galvarino da Província de Cautín, 9ª região, que consagramos como o primeiro município bilíngue do Wallmapu e do Chile (ensino formativo da língua mapudungun, ‘o falar da terra’). Realizamos campanhas com a finalidade de fazer o prefeito declarar toda a região da Araucanía como bilíngue. O que dissemos anteriormente tem como contexto geral as nossas lutas para que o Estado chileno entenda de uma vez que não somos mais um elemento econômico de sua estratégia e hegemonia. É risível que o núcleo central do Wallmapu seja um dos territórios mais empobrecidos do Chile e, ao mesmo tempo, nele esteja localizada a indústria florestal, uma das formas de saqueio que mais dividendos reporta ao Produto Interno Bruto do país depois do extrativismo mineral. Isso deve acabar”.
– E politicamente?
“O Wallmapu deve se converter em um território de decisão. Através de um processo constituinte, lutamos para que a Constituição dê conta de um país que na realidade é plurinacional e plurilinguístico. Em nosso instrumento político não temos receitas e nem modelos, porém sabemos que o conjunto da população do Wallmapu tem que definir qual será sua Carta Fundamental que reja democrática e participativamente o território. Assim, estimamos que no Wallmapu deve se realizar uma reforma agrária geral que nos retorne todos os territórios usurpados, tantos os arrebatados durante a invasão espanhola, como a terra das comunidades campesinas que atualmente sofrem uma situação de marginalidade. Apontamos para a soberania alimentar para que também os pequenos produtores chilenos sejam beneficiados”.
– Por que institucionalizar a luta política autônoma mediante a constituição de um partido legal?
“Porque através de uma ferramenta política pretendemos potencializar as demandas sociais e autônomas. O partido nunca pode ser um fim em si mesmo. Seu objetivo está ligado à colaboração com a libertação das forças sociais para a solução das reivindicações feitas, não para cooptá-las. O Wallmapuwen se apresenta como mais um dinamizador do movimento popular territorial. De fato, o Wallmapuwen se coloca a serviço do movimento popular. Dessa matriz saem as possíveis alianças com todos (as) aqueles (as) que acreditam em um Wallmapu livre, autônomo e soberano. Assim ocorreu até agora e assim será no futuro”.
– Em quais conquistas concretas para o território o Wallmapuwen colaborou?
“Colaboramos com as conquistas associadas à determinação da comissão de descentralização presidencial do Chile onde o Wallmapu se transforme, como possibilidade, em um território autônomo, diferente do restante do território chileno. Nós somos parte dessa discussão e dessa conquista, inclusive para além de se converter em uma realidade ou não amanhã. Ainda assim, somos parte de um movimento amplo que busca a oficialização da língua mapuche, a oficialização do mapudungun. Devemos destruir o apartheid e a exclusão da cultura e identidade próprias mediante o ensino e difusão da nossa língua. Isso está ocorrendo precisamente na comuna de Galvarino. Por outro lado, em 20 de fevereiro de 2015, no marco do Dia Internacional da Língua Materna, realizamos uma marcha de duas mil pessoas para reivindicar que o intendente regional oficialize o mapudungun. Nossa mensagem é dirigida ao Executivo para que apresente seu entendimento”.
A solidariedade internacionalista
– E o internacionalismo do Wallmapuwen?
“Sempre olhamos e bebemos nas lutas de outros povos do mundo que são referências obrigatórias das resistências autonomistas, como o País Basco, Catalunha, Palestina, Curdistão, o povo do Saara Ocidental. Seus caminhos nos inspiram porque sabemos que não estamos inventando a roda. Desses povos fazemos nosso o melhor de suas resistências. Em particular, no que se refere à luta pela oficialização de nossa língua, sempre tivemos uma proximidade fraterna e solidária com o País Basco”.
Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/03/12/chile-wallmapuwen-el-unico-instrumento-politico-de-todos-los-habitantes-del-pais-mapuche-originarios-y-chilenos/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)