Ucrânia: Nasce a “Oposição da Esquerda Unida”
As forças democráticas ucranianas acabam de anunciar a criação da “Oposição da Esquerda Unida”. A nova organização resulta da fusão do Partido Comunista (Petro Symonenko), do Partido Socialista Progressista (Natalia Vitrenko), do Partido do Trabalhador (Svyatoslav Bondarchuk), do Leninsky Komsomol da Ucrânia e da União de Oficiais Soviéticos. A Assembleia Constituinte da “Oposição da Esquerda” foi a 12 de Junho em Kiev.
A nova organização é liderada por Petro Symonenko e Natalia Vitrenko, pelo campeão olímpico Rudolf Povarnitsyn e pelo filósofo Georgy Kryuchkov. Ela anuncia combater pelos princípios da democracia e justiça social, contra o genocídio social e nacional de ucranianos, contra o fascismo e pela restauração de relações com a Rússia. Foi aprovado o seguinte manifesto de constituição:
MANIFESTO
O movimento de todos os ucranianos da esquerda, partidos políticos e organizações públicas de centro esquerda é a “oposição da esquerda”.
O rumo da política interna e externa mantido na Ucrânia, especialmente após o golpe de Fevereiro (2014) leva o nosso país à perda de soberania do estado, divisão e guerra civil fratricida, colapso económico, social e genocídio étnico que ameaça a Ucrânia de colapso e está a ser utilizado por forças externas para provocar uma III Guerra Mundial.
Com a assinatura do acordo de associação com a União Europeia e a obediente execução das exigências draconianas do Fundo Monetário Internacional, a Ucrânia perdeu a sua independência económica e política. Ela realmente está sob controle externo. Suas políticas internas e externas são definidas pelos Estados Unidos e a oligarquia financeira internacional.
Ao implementar as chamadas reformas sob o modelo em bancarrota do capitalismo periférico neoliberal, abandonando a integração com os países da União Aduaneira, a Ucrânia condenou-se à desindustrialização, à captura da propriedade pública por clãs oligárquicas, a qual foi construída por várias gerações do povo soviético, e à perda de milhões de empregos, pobreza e extinção da população. Agora o produto interno bruto da Ucrânia nem mesmo alcança 60% do nível de 1990.
Está destruída a indústria interna, está destruída sua principal indústria orientada para a exportação. O sistema financeiro do país foi levado ao incumprimento (default). A super-exploração da força de trabalho, equipes das mais qualificadas do mundo são pagas ao nível dos mais pobres países africanos. Serviços de saúde e educação são virtualmente inacessíveis à maioria da população.
A rota de construir um estado mono-nacional, a imposição nacional-chauvinista daquela ideologia, levou à total violação da Constituição da Ucrânia, das regras e princípios do direito internacional, à discriminação da massa da população com bases linguística, nacional, regional e confessional. O estado ucraniano foi incapaz de proteger de modo confiável os direitos legais, as vidas e a segurança dos seus cidadãos.
Aprovada pelo Verkhovna Rada, com brutais violações do procedimento constitucional, as leis “Sobre a condenação dos regimes totalitários comunista e nacional-socialista (nazi) na Ucrânia e proibição de propaganda dos seus símbolos”; “Sobre o status legal e a memória de combatentes pela independência ucraniana no século XX”; “Sobre a perpetuação da vitória sobre os nazis na II Guerra Mundial, 1939-1945”; “Sobre o acesso aos arquivos dos órgãos repressivos do regime totalitário comunista, 1917-1991” não são apenas um reflexo da natureza totalitária do regime agora vigente na Ucrânia como também uma cínica falsificação da História e revisionismo das decisões do Tribunal Militar de Nuremberg.
Trata-se de um desafio à comunidade mundial. A começar pela violação da Constituição através da censura, manipulação da consciência pública, intimidação e perseguição de dissidentes, perseguição da Igreja Ortodoxa canónica, proibição anti-constitucional de partidos políticos, perseguição e violência física para com oponentes ideológicos e políticos e, naturalmente, as extremamente perigosas violações de padrões e normas geralmente aceites no mundo da democracia civilizada, privação do povo da Ucrânia da livre expressão.
Nestas circunstâncias, nós, os representantes de partidos políticos e organizações públicas de oposição pretendemos unir nossos esforços dentro do movimento “Oposição da Esquerda” a fim de salvar a Ucrânia e proteger humanamente nossos compatriotas para a paz, prosperidade e segurança, liberdade de expressão e de crença, julgamento justo, eleições verdadeiramente democráticas, construção de justiça social, democracia e a regra da lei.
Procuraremos acima de tudo um fim imediato para o banho de sangue no Leste do país, a resolução pacífica do conflito com base na firme execução do Acordo de Minsk e a descentralização do poder.
Acreditamos que assegurar uma paz duradoura na Ucrânia, retirá-la de uma profunda crise abrangente e trazê-la de volta ao círculo dos países avançados do continente é impossível sem a restauração de boa vizinhança, relações iguais e mutuamente benéficas com a Federação Russa e a Bielorússia.
É com eles, ao contrário dos EUA e dos países da UE, com quem partilhamos uma história, cultura, espiritualidade e valores civilizacionais comuns. A história tem demonstrado que a integridade territorial e a independência da Ucrânia era preservada apenas na unidade dos nossos países e fraternidade dos nossos povos.
Acreditamos que travar o genocídio social, travar a destruição da economia nacional, é impossível sem abandonar a rota neoliberal agora mantida sob os ditames do Ocidente.
Advogamos a implementação de nova industrialização da Ucrânia na base da inovação tecnológica moderna, aproveitando a inteligência humana e os recursos naturais e tecnológicos internos. Nossa alternativa ao neoliberalismo é um modelo sócio-económico baseado em princípios de justiça social e democracia.
Defendemos firmemente uma política interna e externa de acordo com os princípios da Declaração de Soberania Estatal da Ucrânia para garantir seu status não-alinhado (neutral), relações inter-étnicas baseadas nos princípios do direito internacional e nas disposições da Declaração de Direitos de Nacionalidades da Ucrânia; com o status da língua russa como segunda língua oficial.
Recusamos a humilhação e traição aos feitos militares e no trabalho dos nossos pais e avós que bateram os invasores fascistas na II Guerra Mundial e que empreenderam um trabalho vitorioso para ressuscitar nossa pátria das ruínas e para mantê-la, como foi na era Soviética, nas alturas do progresso económico, científico e espiritual. Somos categoricamente contra a inserção do neo-nazismo no país, a reabilitação e glorificação de cúmplices e invasores nazis.
Apelamos a todos os partidos políticos, organizações públicas e todos aqueles que partilham nossa avaliação da situação política e sócio-económica a que, para o bem da Pátria, se juntem ao movimento patriótico “Oposição da Esquerda”.
Aprovado na assembleia fundadora do “Oposição da Esquerda”.
12/Junho/2015, Kiev
O texto em inglês encontra-se em fortruss.blogspot.pt/2015/
Esta notícia encontra-se em http://resistir.info/ .