O significado político do “referendo grego”
Jones Manoel*
A conjuntura na Grécia é frenética. Acompanhar os acontecimentos é difícil. No Brasil o moribundo campo democrático-popular depois da falência do projeto petista procura reascender suas ilusões vendo o Syriza como o paraíso de mil anos. Vamos aos fatos. O Syriza nos últimos anos propagou a falácia ideológica de que era possível combater a austeridade dentro da União Europeia (UE), que o bloco é bom, só precisa ser “democratizado”. Foi eleito. Ficou claro que seu programa eleitoral não poderia ser cumprindo. No manejo com a Troika o Syriza passou a adotar um discurso de conciliação. A Troika passou a ser chamada de “Instituições” e a austeridade de “memorando”. Nenhum ponto do programa eleitoral do Syriza foi aplicado ainda. Nessa última rodada de “negociações”, o Syriza aceitou cortar aposentadorias, reduzir pensões, aumentar impostos (para os trabalhadores) e não recompor o estado de bem-estar social. A UE pretende esmagar de vez a Grécia e não aceitou apenas essas capitulações. Quer mais. O Syriza resolve convocar um referendo para o “povo grego decidir seu futuro”. Ou seja, se aceita ou não submeter-se ainda mais à UE e destruir sua economia.
Enquanto milhares de militantes do Partido Comunista Grego saiam às ruas exigindo a ruptura com a política de austeridade(1), Tsipras discursava sobre sua proposta de referendo. Os apoiadores do Syriza no Brasil ao que parece não leram seu discurso. Nele, o líder do Syriza deixa claro que quer APENAS reduzir a ferocidade da austeridade, enche de elogios a Europa e o Bloco Europeu (chamando-os de “parceiros”), reclamando APENAS por mais democracia e no final do texto afirma isso:
“E eu, pessoalmente, comprometo-me a respeitar o resultado de escolha democrática, seja ela qual for”(2)
A direção do Syriza até poucos dias não cogitava sair da UE, até agora não apresentou qualquer plano alternativo e ainda afirma em letras garrafais de que se o “SIM” ganhar, o partido será o gerente da política de austeridade. E que fique claro: se o “SIM” ganhar o partido vai trair “democraticamente” o programa que apresentou nas eleições.
A falta de criticidade com o Syriza é proporcional a vontade de difamar o KKE. O Esquerda Net publicou uma matéria afirmando que o KKE prega o boicote ao referendo. A citação é essa:
“A posição do KKE é clara. O não do povo grego deve ser direcionado tanto à proposta dos credores como à proposta do governo grego”. [O povo] deve rejeitar o plano dos credores como o plano do governo “(3).
No trecho não é dito a palavra boicote, diz rejeitar os planos do governo, mas não como. Além do mais, segundo pesquisas recentes, cerca de 55% da população da Grécia ainda é contrária a sair da UE (embora mais de 70% seja contra os rumos político-econômicos atuais), então imagina um referendo onde estará em jogo sair ou não da UE sem a apresentação de um plano alternativo pelo Syrica? Agora é aguardar.
*É militante do PCB em Pernambuco.
1 – http://www.librered.net/?p=
2 – http://www.esquerda.net/artigo/responderemos-ao-ultimato-apoiando-nos-na-vontade-do-povo-grego/37544
3 – http://www.esquerda.net/breves/partido-comunista-grego-apela-abstencao-no-
Fonte: http://makaveliteorizando.blogspot.com.br