Morre Zilda Xavier Pereira, revolucionária brasileira

imagemFaleceu em Brasília no dia de ontem (22/11/2015), Zilda Xavier Pereira, justamente quando completaria 90 anos de idade. Zilda foi uma das mais destacadas militantes da luta contra a ditadura, a mais importante dirigente mulher da ALN, Ação Libertadora Nacional. Segundo o jornalista Mário Magalhães, biógrafo de Marighella, Zilda foi um dos três dirigentes mais poderosos da ALN, ao lado de Marighella e Joaquim Câmara Ferreira.

Zilda nasceu, em 22 de novembro de 1925, em Recife. Seu pai era ferroviário e sua mãe, dona de casa. Foi para o Rio de Janeiro, aos 16 anos, em companhia de suas duas irmãs mais novas, para morar com a irmã mais velha, que ali já residia. A exemplo de muitos jovens de sua geração, filiou-se ao Partido Comunista (PCB), em maio de 1945, momento em que os comunistas lideravam as lutas dos trabalhadores e das camadas populares contra o Estado Novo, a ditadura de Vargas que vivia seus instantes finais.

Quando o PCB foi declarado ilegal em função dos efeitos da Guerra Fria e do acirramento da luta de classes no Brasil, Zilda passou a adotar o nome de guerra “Zélia”, em homenagem à camarada Zélia Magalhães, assassinada pela polícia em maio de 1946, durante manifestação política convocada para o Largo da Carioca, Centro do Rio. Ativa militante na célula do Partido em Bento Ribeiro, Zilda foi fichada, pela primeira vez, em 1948, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

Ela foi uma das fundadoras da Liga Feminina do antigo Estado da Guanabara, organização feminista ligada ao PCB, onde assumiu a secretaria executiva. Foi também dirigente do Comitê Estadual do PCB, quando então conheceu Carlos Marighella. A Liga foi invadida e fechada pelos agentes da ditadura imposta pelo Golpe de 1964. Temendo pela segurança de sua família, Zilda encaminhou cada um de seus três filhos (Iuri, Alex e Iara) para casas diferentes e passou a viver na clandestinidade.

Por ocasião da ruptura de Carlos Marighella com o PCB, Zilda e outros militantes acompanham o revolucionário baiano na fundação da Ação Libertadora Nacional em 1966, organização na qual assumiu papel protagonista, sendo responsável pela estrutura dos grupos guerrilheiros enviados para treinamento em Cuba e pela estadia dos militantes que retornavam ao Brasil. Também fizeram parte da organização o ex-marido de Zilda, João Batista, e os filhos.

Ela foi presa no Rio, em 20 de janeiro de 1970, sendo levada inicialmente ao 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, Tijuca, onde funcionava o DOI-CODI e, depois, transferida para o Batalhão dos Caçadores. Foi muito torturada, mas nenhuma informação lhe foi arrancada pelos torturadores, como comprova a leitura de seu depoimento no Exército. Segundo entrevista concedida por ela mais tarde, nada disse para não trair a memória de Marighella, assassinado pela repressão no anterior à prisão de Zilda.

Simulou um surto de loucura e conseguiu ser transferida para o Hospital do Exército e, em seguida, para o Pinel, em Botafogo. Os médicos e os enfermeiros a ajudaram, mantendo-a ali, mesmo depois de descobrirem que ela não era louca. Quando as autoridades anunciaram sua transferência para o Hospital Psiquiátrico Pedro II, arquitetou e concretizou, em 1º de maio de 1970, sua fuga do Pinel, contando mais uma vez com a ajuda de funcionários.

Exilada, soube das mortes de seus filhos Alex, com 22 anos, e de Iuri, 23. Logo em seguida, foi assassinado o também guerrilheiro Arnaldo Cardoso Rocha (23 anos), companheiro da filha Iara, que estava grávida. Zilda orgulhava-se de não ter entregado nenhum militante durante o período em que ficou presa. Disse certa vez: “Como é que eu ia mostrar a cara para os meus filhos e para os meus companheiros que também estavam lutando contra a ditadura? Se aparecer alguém dizendo que entreguei alguém, vou até hoje lá para desmentir. Sofri, mas com dignidade revolucionária”.

Em reverência à dignidade de Zilda Xavier Pereira, o PCB se une a todos os militantes revolucionários brasileiros, prestando justa homenagem à memória desta lutadora, exemplo de coragem no enfrentamento à sanguinária ditadura brasileira.

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