Os Estados Unidos utilizam o fator terrorismo para conquistar metas geopolíticas no Oriente Médio

imagemA análise internacional de James Petras em CX36, 30 de novembro de 2015

Efrain Chury Iribarne: Os Estados Unidos utilizam o fator terrorismo para conquistar metas geopolíticas no Oriente Médio, que incluem a expulsão de Bashar Al Assad do governo sírio, o que até o momento fracassou, provocando um aumento do terrorismo. São preocupações da audiência que passamos para você.

James Petras: Existe algo de verdade nisso. Não há dúvidas de que os EUA como poder imperial buscam estender sua influência, sua dominação, suas posições militares, inclusive alguns mencionam o fator petróleo.

Para além disso, no entanto, devemos incluir outros dois fatores.

Primeiro, a influência de Israel, que tem enorme penetração no governo norte-americano, muita influência a partir da quinta coluna sionista. Isso muitos estrangeiros não entendem porque comentaristas burgueses e até de esquerda, não querem discutir por medo ou covardia o fator sionista na influência sobre as razões das guerras no Oriente Médio. Pior, é um fator importante para entender que impacto têm, que influência, nas guerras norte-americanas e na ideologia da ‘luta contra o terrorismo’. Até o autor deste slogan, de ‘guerra contra o terrorismo’, é um israelita, um sionista que estava escrevendo os discursos do presidente (George W.) Bush em 2003.

Devemos entender este fator.

Agora, sobre o impacto das guerras, é preciso entender que a política israelense era contra a política das petrolíferas. As petrolíferas pensavam derrubar o governo, cercar o país, instalar um governo iraquiano manipulado que pudesse funcionar. Já Israel, queria destruir tudo o que existia anteriormente. Então, existe um choque entre os diferentes fatores que também influenciam.
E como consequência da influência israelita, destruíram todo o exército, a burocracia civil iraquiana, deixando o país ingovernável e era isso o de que necessitava Washington para dividir e conquistar os países sob seu domínio. Por isso começaram a fomentar as divisões entre xiitas e sunitas. Entretanto, começaram a armar um e outro grupo, inclusive os que formaram o grupo terrorista ISIS. Depois, receberam muito apoio dos EUA, muito apoio financeiro e voluntários da Arábia Saudita. Além disso, implantaram um enorme comércio com a Turquia, uma vez que começaram os assaltos no Iraque, na Síria e começaram a canalizar o petróleo na Turquia, como uma enorme fonte de renda para financiar a guerra. Receberam muitas armas direta e indiretamente, e muitos voluntários a partir da Turquia.

Então, Washington tinha o apoio da Arábia Saudita, Israel e Turquia, um triângulo que apoiava de uma forma ou de outra, os terroristas. E apesar de Washington utilizar muitas armas e gastar muito dinheiro, não pode dominar os países em guerra como Afeganistão, Iraque, Iêmen e agora Síria, porque as forças que apoiava Washington não tinham nenhuma legitimidade, não tinham bases sociais concretas que pudessem realizar as tarefas de Washington.

Por essa razão existem conflitos em algum nível.

E quando os russos intervieram para apoiar o governo de Bashar Al Assad e terminar com o terrorismo, a Turquia derrubou um avião da Rússia, porque os russos atacavam os caminhões que transportavam o petróleo da Síria para a Turquia, um negócio com estimativas em 2015 de bilhões de dólares a partir do mercado turco.

O pior é que podemos dizer, finalmente, que Washington teve meio êxito, meio no sentido do curto prazo porque destruíram o governo nacionalista do Iraque e destroem parte da Síria com sua intervenção. Porém, por outro lado, é um fracasso, porque não conseguem dominar o país e colocar um fantoche no governo de forma estável e não existe nenhum interesse norte-americano na economia além de beneficiar a indústria militar, que está vendendo mais armas pela guerra.

Porém, politicamente, agora Washington fica sem possibilidade de ganhar frente aos vários opositores que surgiram nos últimos tempos e também pela disputa entre seus aliados – Turquia, Arábia Saudita e Israel – porque cada um quer impor seus interesses geopolíticos.

Isto faz com que tenhamos uma situação com muita volatilidade. E Washington está constantemente revisando sua política, apoiando um grupo terrorista contra outro, terminando sem nenhuma influência entre todos.

Neste sentido, a médio e longo prazo, a política norte-americana é um fracasso porque não conseguem impor seus interesses, porém destruíram alguns governos independentes.

EChI: Como você analisa a França? Porque (François) Hollande disse combater o terrorismo quando está em uma situação interna bastante deteriorada.

JP: Não existe nenhuma dúvida de que Hollande, com suas políticas pró-negócios, antitrabalhistas e tentando impor uma política neoliberal, prejudicando os trabalhadores e impondo a austeridade antipopular favorável aos grandes capitais, mostra nas pesquisas uma queda vertical. A partir do que chamaram atos de terroristas, ataques de islâmicos contra a população, podemos dizer várias coisas.
Primeiro, que a Inteligência francesa tinha conhecimento, porém não tomaram medidas preventivas. A pergunta é por quê?

Em segundo lugar, a forma com que declararam um estado de guerra, uma emergência, e armaram toda uma serie de reuniões supostamente mobilizando a população, foi uma forma de fomentar o terror, o medo e a necessidade de “unidade” atrás de Hollande como uma tática.

Podemos ver as consequências negativas utilizando o Estado de sítio. Agora estão reprimindo os manifestantes nos protestos pelo problema do clima, contra a conferência que está ocorrendo agora em Paris, que deixou 200 encarcerados e centenas de feridos pelos ataques policiais, onde utilizaram gases, cassetetes, etc. Isso me parece simbólico do que representa o Estado de sítio: reprimir os opositores, reprimir manifestações de rua e facilitar a realização das políticas, não só contra os chamados terroristas, mas também contra qualquer protesto contra a política neoliberal. Hoje estão pegando os manifestantes contra a conferência climática, os pseudo-opositores da conferência, e amanhã podem usar as mesmas medidas contra outras manifestações que sejam contra as guerras francesas no Oriente Médio, invasões na África ou a austeridade na França.

Fonte: http://radio36.com.uy/entrevistas/2015/11/30/petras.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

http://www.ivoox.com/analisis-internacional-james-petras-cx36-audios-mp3_rf_9555853_1.html