Tropas estadunidenses em Honduras intervirão na Venezuela, segundo o Comando Sul
Por Dick e Mirian Emanuelsson, Resumen Latinoamericano / Resumen Latinoamericano/ 07 de maio de 2016 – Foto: Honduras: Base Soto Cano, tropas militares estrangeiras
As tropas norte-americanas na base militar Soto Cano (Palmerola) têm a maior pista de aterrissagem da América Central. Aqui aterrissou o avião com militares hondurenhos que tinham sequestrado o derrubado presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho de 2009. O avião ficou 15 minutos e dali partiu para a Costa Rica, onde foi entregue. Por que Palmerola?
“Têm que ir! Não queremos bases militares aqui!”
Forças Especiais estadunidenses, concentradas em sua base militar Soto Cano (Palmerola), em Honduras, serão transferidas para intervir na Venezuela, segundo o chefe do Comando Sul, Kurt Tidd.
A origem desta ação se baseia em um papel de trabalho do Comando Sul, sob o título “Operação Venezuela Freedom-2”, assinado pelo almirante Kurt Tidd, seu atual chefe, datado de 25 de fevereiro de 2016.
O extenso documento destaca 12 tarefas táticas e estratégicas que terminarão de criar as condições políticas, econômicas e militares para executar a Carta Democrática da OEA e, assim, legitimar a intervenção estadunidense na Venezuela.
É mais ou menos a mesma posição que expressou o chefe anterior do Comando Sul, John Kelly, em outubro de 2015, em uma entrevista concedida a CNN. Nela, declarou que sim, os Estados Unidos estão dispostos a intervir na Venezuela se a OEA ou a ONU assim pedir, declaração insólita, já que Kelly é militar e não político.
A base estrangeira em Honduras e o cerco militar à Venezuela
No documento “Operação Venezuela Freedom-2” o chefe do Comando Sul escreve o seguinte:
“Enquanto na situação militar atual não podemos atuar abertamente, com as forças especiais aqui presentes é possível concretizar o já anteriormente planejado para a Fase 2 (Pinça) da operação. Os treinamentos e preparativos operacionais dos últimos meses, com a Força-Tarefa Conjunta Bravo na base de Palmerola, em Comayagua, Honduras, e a Força-Tarefa Conjunta Inteligência Sul, permite colocar tais componentes em condições de atuar rapidamente em um arco geoestratégico apoiado nas bases militares de ‘controle e monitoramento’ nas ilhas antilhanas de Aruba (Reina Beatriz) e Curaçao (Hato Rey); em Arauca (Colômbia), Larandia (Colômbia), Tres Esquinas (Colômbia), Puerto Leguízamo (Colômbia), Florencia e Leticia na Colômbia; tudo isso como Lugar de Operações Avançadas (FOL), com projeções sobre a região central da Venezuela, onde se concentra o poderio político-militar”, para depois enumerar os ativos militares dispostos para a operação.
Recorda o que dizia o senador Paúl Cover Dale, quando o congresso estadunidense começou o debate sobre o Plano Colômbia, em 1999:
“Para controlar a Venezuela é indispensável ocupar militarmente a Colômbia”.
O escrito acima descreve uma manobra militar, um cerco à Venezuela pelos países vizinhos.
Não é um segredo que os EUA controlam a Colômbia desde a década de 1950 e desde 2010 têm sete bases militares, cujas tarefas se baseiam principalmente em combater as guerrilhas das FARC e ELN, porém também podem mobilizar tropas e aviões rapidamente para a Venezuela.
Reage o deputado Rafael Alegría
Os planos de guerra desde o solo hondurenho irritam Rafael Alegría, deputado no congresso nacional pelo Partido Liberdade e Refundação (Libre) e coordenador da Via Campesina em Honduras. Repudia categoricamente as novas intenções estadunidenses de intervir na Venezuela com tropas norte-americanas transferidas de sua base militar em Soto Cano (Palmerola), em Honduras, para a terra de Simón Bolívar.
– É claríssima a intervenção dos EUA nos assuntos internos dos latino-americanos. Nós hondurenhos temos um punhal cravado em nosso coração, que é a base de Palmerola.
– Agora com a Força-Tarefa Conjunta Bravo na base estrangeira de Palmerola, desempenha um papel condenável. Porque essa base foi posta aqui para apoiar a contrarrevolução que estava sendo operada na América Central nos anos de 1990 e para atacar os movimentos sociais e populares e os governos democráticos da região. Não estão dispostos a cedê-la, salvo quando tivermos um governo do povo. Têm que ir! Não queremos bases militares aqui. Porém, igualmente, a América Latina está cheia de bases militares estadunidenses. Não é mais que um reflexo do medo que possuem dos povos serem livres. E o exemplo da Venezuela gera um medo terrível, destaca Alegría.
As invasões à Guatemala a partir de Honduras
Recorda que de Honduras saiu, em 18 de junho de 1954, a expedição organizada pela CIA para derrubar o presidente progressista da Guatemala, Jacobo Arbenz. A expedição foi preparada e encabeçada pelo coronel guatemalteco Carlos Castillo Armas entre os anos de 1953-1954. Tinha a sua disposição unidades militares das Forças Especiais que foram treinadas nos Estados Unidos. Em sua invasão a sua própria pátria, exploraram os pontos chaves e cortaram linhas de telégrafo.
O secretário de estado dos EUA, John Foster Dulles respaldava Castillo Armas. O chefe da CIA, Allen Dulles, e o embaixador estadunidense na Guatemala, John Peurifoy, financiavam a intervenção à Guatemala para preservar o poder e os interesses da United Fruit Company no país centro-americano, que tinha iniciado uma moderada reforma agrária. O presidente Dwight Eisenhower deu seu apoio à invasão.
A invasão de Playa Girón
Sete anos depois, no território guatemalteco, a CIA organizou acampamentos para instruir militarmente os cubanos exilados que seriam os mercenários na invasão da Playa Girón, em Cuba.
Honduras não ficou de fora desta invasão de terras guatemaltecas.
O ator e jornalista norte-americano David A. Phillips foi enviado pela CIA a Honduras, onde se instalou na pequena ilha de Cisne (Swan, em inglês) no Caribe, o mais próximo de Cuba, e armou uma das mais potentes emissoras de radio. Operava como ferramenta na guerra psicológica e na preparação ideológica para a invasão de Cuba revolucionária. Phillips teve a mesma missão na preparação ante a invasão da Guatemala e com sucesso.
A Radio Swan declarava, por exemplo o seguinte:
“Mãe cubana, escute isto! A próxima lei do governo será tirar seus filhos dos cinco aos dezoito anos. Miliciano, tenha cuidado quando saíres! Faça como na Rússia, em grupos de três. Caso não queira morrer, passe para as fileiras da verdadeira revolução. Fidel está buscando uma forma de destruir a Igreja, porém isso não poderá acontecer. Cubano, venha à Igreja e siga as orientações do clero!”.
A guerra USA contra os vizinhos de Honduras
Honduras foi o Porta-aviões fixo durante a guerra dos Contras nicaraguenses na década de 1990 e contra a guerra de libertação salvadorenha liderada pelo FMLN. “Era uma Playa Girón diariamente”, me dizia um miliciano nicaraguense em 1983, quando vinha da fronteira com Honduras. Ali incursionava a contrarrevolução armada, que custou à Nicarágua mais de 50.000 de seus melhores filhos e filhas. Em Honduras, onde o homem forte era John Negroponte, os Contras tinham suas próprias bases militares.
Além disso, em Honduras foram preparadas as forças especiais salvadorenhas, treinadas pelos militares estadunidenses e argentinos, que também os instruíram em tortura sofisticada.
“Proximidade Honduras-Caracas”
E agora, de sua base militar em Palmerola, em Honduras, está pronta a Força-Tarefa Conjunta Bravo para ser enviada à Venezuela, dizendo que salvará o povo venezuelano da “caótica situação”, como dizia John Kelly.
Recorda que a base de Palmerola, ou Soto Cano, tem a maior pista de aterrissagem da América Central e foi reforçada em 2013, com outras 700 camas para albergar a mesma quantidade de unidades militares. Para quê?, se perguntam hoje os hondurenhos.
As casas dos militares estadunidenses com famílias em Palerola, Honduras.
Vídeo 1: https://youtu.be/0gEBwDqQuYE
Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=5O34fsZG2Tw
Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2016/05/07/tropas-estadounidenses-en-honduras-intervendran-en-venezuela-segun-el-comando-sur/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)