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imagem70º Aniversário do movimento dos festivais

A Juventude Comunista da Venezuela rende tributo aos 70 anos do movimento dos festivais, em sua luta pela paz e contra a guerra

Representando a Juventude do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Luís Fernandes, Secretário Político Nacional da UJC (União da Juventude Comunista), participa do Forum Internacional reunido, a partir deste sábado (16/09) na Venezuela, para comemorar os 70 anos dos Festivais organizados pela Federação Mundial das Juventudes Democráticas, pela paz e contra a guerra, e para debater a conjuntura internacional contemporânea, de luta em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da juventude e de combate ao imperialismo e ao fascismo. Segue abaixo a saudação do camarada Luís Fernandes ao evento:

Estimados camaradas,

Recebam a mais calorosa saudação da União da Juventude Comunista- Brasil e de toda juventude revolucionária brasileira. Sem dúvida, hoje nós latino americanos e revolucionários, temos o processo bolivariano e toda a resistência do povo venezuelano frente ao imperialismo como uma grande referência de luta pela libertação dos povos, pela paz e pelo socialismo.

Saudamos, em especial, a Juventude Comunista Venezuelana (JCV) e o Partido Comunista Venezuelano (PCV), polo aglutinador das forças mais avançadas e revolucionárias das classes populares e operárias venezuelanas. A independência de classe, dignidade e firmeza ideológica dos comunistas venezuelanos são características fundamentais a serem incorporadas como exemplo para o fortalecimento de um vigoroso movimento anticapitalista e anti-imperialista mundial.

O tema proposto pelos camaradas é um dos mais importantes e centrais da época em que vivemos. O crescimento do fascismo e a radicalização das agressões imperialistas estão profundamente concatenadas. Foi Lênin e, posteriormente, o movimento comunista internacional, que entenderam com maior profundidade econômica e política as raízes do imperialismo e do fascismo.

O Imperialismo é a fase mais madura ou superior do capitalismo. Pela sua essência é o capitalismo monopolista, a concentração da produção. Trata-se do desenvolvimento pleno do capitalismo, que, função da concorrência, vive um processo de oligopolização, com a fusão e associação de empresas, o surgimento do capital financeiro, a disputa ferrenha entre corporações e nações, exportação de capitais e conquista de mercados e territórios, formando assim uma nova realidade social, econômica e política, em âmbito planetário.

O fascismo, no século XX, foi a alternativa contrarrevolucionária dos monopólios e dos setores mais reacionários do capital financeiro. Esta definição é muito importante: precisamos pensar o fascismo no século XX para além de Alemanha e da Itália. Por exemplo, é sabida a simpatia desenvolvida pelas grandes corporações norte-americanas pelo nazismo e pelas ideias racistas. No início da década de 1930, setores do capital financeiro norte-americano tentaram, sem sucesso, dar um golpe contra Roosevelt. Em plena segunda guerra mundial, empresas norte-americanas tinham mais de 456 milhões de dólares investidos na Alemanha nazista. Fazemos essa recapitulação para afirmar que o fascismo, assim como o colonialismo, o racismo e a agressão aos povos sempre são uma opção política da dominação imperialista.

Obviamente, em pleno século XXI, temos novas formas de dominação imperialista e de fascismos. No entanto, a ameaça fascista e imperialista permanece enquanto o modo de produção capitalista for predominante no mundo. A dominação financeira e toda superestrutura internacional que se moldou para isso é a principal faceta do imperialismo contemporâneo. O endividamento externo e interno dos Estados Nacionais, a hegemonia do dólar e do capital financeiro, a total liberalização para os capitais e o contínuo aumento da exploração do trabalho são características centrais para compreendermos a atual dinâmica da acumulação capitalista. Hoje, o capital se valoriza numa intensidade jamais vista na história, processo que não é autônomo das relações sociais de produção, pelo contrário.

A atual crise sistêmica do capitalismo e sua necessidade de intensificar a exploração do trabalho, expropriar violentamente camponeses e os povos e retirar direitos sociais, trabalhistas e democráticos dos trabalhadores nos leva a enfrentar uma fase mais aberta da luta de classes em todo o mundo. Acirram-se as contradições interimperialistas. Especialmente o imperialismo norte-americano, em decadência e com maior poder militar, cada vez tende mais a optar por saídas unilaterais, belicistas e de agressões aos povos. O Império norte-americano necessita de guerras para gerar lucros para o seu complexo industrial militar e fortalecer seu setor de energia petrolífera. O gabinete de Donald Trump é basicamente formado por esses setores políticos e econômicos.

Para além da fomentação de guerras diretas, os EUA e seus aliados também fomentam guerras midiáticas e civis contra os povos e governos que contrariam seus interesses. Fomentam o caos, a barbárie e patrocinam grupos fundamentalistas e de extrema direita. Essa foi a principal tática política e militar adotada durante os governos Obama. Felizmente, a heroica resistência da Síria, contando com a solidariedade de outros povos, demonstra a capacidade de resistência dos povos, apesar de toda catástrofe e sofrimento.

A América Latina vive, nesse momento, um quadro de grandes complicações políticas e econômicas. Presenciamos, nos últimos anos, o fortalecimento de movimentos e governos claramente alinhados aos interesses dos grandes monopólios e do imperialismo, em especial o norte-americano. Após anos de lideranças dos assim chamados “governos progressistas” que, em distintos modos e grau de profundidade, conseguiram avançar em algumas pautas de reivindicações populares, no qual o caso venezuelano foi o mais expressivo, o continente vive agora um profundo momento de retrocesso, com governos cada vez mais alinhados ao imperialismo e aos monopólios, assim como o crescimento do conservadorismo. Esse fato nos obriga a analisar duas questões: a atual forma de atuação do imperialismo e o significado político de ditos governos progressistas.

Não por coincidência, a ofensiva da burguesia na América Latina está claramente vinculada ao momento de profunda crise econômica que o mundo atravessa nesse momento. A partir de 2012, os efeitos da crise chegaram com grande força no continente, colocando em xeque o modelo de desenvolvimento econômico, que garantia, como no caso brasileiro, um suposto pacto entre capital e trabalho, promovendo algumas políticas sociais compensatórias de estímulo ao crédito e ao consumo dos trabalhadores e garantindo altos lucros para as empresas capitalistas.

Contudo, a crise revelou uma grande debilidade econômica dos países da América Latina, inclusive aqueles que contaram com governos que chegaram ao poder via apoio popular, que foi a crescente reprimarização da economia e a sustentação econômica quase que exclusivamente com base na venda de produtos agrícolas, petróleo e mineração. Assim, a desvalorização desses produtos no mercado internacional significou a perda de um dos principais pontos de sustentação de políticas sociais compensatórias, o que gradativamente desgastou o apoio popular aos governos.

Não bastasse isso, em momento de crise registra-se um maior assédio do imperialismo aos povos de todo o mundo. No caso latino-americano, isso pode ser visto na reativação da IV Frota, no progressivo aumento das bases militares no continente, no estímulo e financiamento de golpes de estado, como no caso de Honduras e Paraguai, na prolongava ofensiva midiática, política e econômica contra o povo venezuelano, no apoio a candidaturas claramente alinhadas ao plano imperialista, como o caso de Maurício Macri na Argentina e, no caso brasileiro, apoiando o golpe jurídico-parlamentar de derrubada da Presidente Dilma.

A resistência dos trabalhadores a esses processos foi proporcional ao grau de mobilização popular e fortalecimento dos movimentos sociais e operários em cada país nos últimos anos. Assim, utilizando os casos talvez mais extremados, podemos perceber como a resistência do povo venezuelano nesses últimos anos reflete a participação popular no processo e como a relativa facilidade com que a presidente Dilma Rousseff foi derrubada da presidência da república reflete o profundo processo de despolitização e desarme dos trabalhadores ao longo dos 13 anos de governo do PT.

No caso específico do Brasil, vivemos um momento de profundas mudanças no cenário político, com o impeachment da presidenta, formalizado e instrumentalizado a partir de manobras judiciais espúrias, ilegais e sem fundamentos jurídicos, que para ser concretizado, contou com um pacto formado pelo imperialismo, pelos monopólios da mídia, pelo parlamento mais conservador desde 1964, pelo judiciário e pela burguesia brasileira.

Antes vivíamos um pacto de classes promovido pelo governo PT. A insustentabilidade deste pacto e a necessidade dos grandes monopólios em acelerar o ajuste fiscal no momento em que o cenário econômico se encontrava em estagnação, com os índices de crescimento econômico decaindo nas previsões dos economistas, fizeram com que a burguesia e o imperialismo optassem pela aventura golpista.

Temos plena certeza de que a subida de Michel Temer ao posto de Presidente da República representa um retrocesso real para a classe trabalhadora e para todas as classes populares, pois tal governo é a expressão institucional de uma reorganização no bloco burguês, em especial da fração rentista, a partir de uma radicalização do neoliberalismo e de uma associação consideravelmente mais submissa aos interesses do imperialismo norte-americano.

Se no período anterior o modelo de dominação burguesa estava pautado por uma perspectiva de consenso ampliado, que visava integrar de modo apassivador os setores populares por meio do consumo, o atual se pauta pela perspectiva de um consenso restrito entre os diferentes setores da burguesia e os setores abastados e reacionários da chamada “classe média”. Ao proletariado, campesinato e demais setores populares destina-se agora não mais uma política de conciliação apassivadora, mas uma política de coerção aberta voltada a garantir a ordem sob um regime que, para se manter, terá que aumentar a exploração de todos

A economia e a política brasileira hoje passam por um momento de reenquadramento subalterno à ordem imperialista. O país se desindustrializa, setores do agronegócio e mineração e rentismo se fortalecem ainda mais. Em termos geopolíticos, o governo ilegítimo brasileiro tem se comportado como um criminoso serviçal norte-americano na América latina. Nesta segunda, Temer e Trump juntamente com outros presidentes do continente, se reuniram para debater a crise venezuelana.

No espectro político, a extrema direita profundamente antidemocrática, racista e antipopular cresce como uma alternativa para administração da crise capitalista, em especial em países extremamente desiguais como o Brasil. Se, durante as últimas décadas, acompanhamos a tentativa de se forjar alternativas capitalistas “humanas” e reformistas, agora, no atual estágio da crise e das disputas interimperialistas, crescem as alternativas de extrema direta ou fascistas como perspectiva para o campo capitalista-imperialista.

No entanto, tal complexo diagnóstico nos remete a refletir sobre possíveis alternativas frente a esta ofensiva do capital-imperialismo no Brasil e em todo mundo. Será que a ampla resistência aos ataques do capital devem ter como norte apenas a defesa ou o retorno de governos populares e progressistas? Será que apenas frentes amplas contra o imperialismo e o fascismo dão conta de acumular forças para o atual enfrentamento? A partir dessas importantes e legítimas perguntas, trazemos duas reflexões para este encontro.

1) A atual crise sistêmica capitalista evidencia todos os limites e impossibilidades civilizatórias dentro dos marcos deste modo de produção. Os governos populares, em especial latino americanos, apesar de avançarem em grandes conquistas para os povos possuem grandes limites, justamente por não romperem com a estrutura social e econômica da acumulação capitalista. Como nos ensinam os comunistas venezuelanos, só combateremos o fascismo e a conciliação se avançarmos com medidas efetivamente operárias, patrióticas e anticapitalistas.

2) É lógico que a luta anti-imperialista e antifascista deve ser ampla, massiva e reunir diversas expressões políticas, sociais e culturais dos povos. Contudo, não há frente socialmente ampla se não houver polo revolucionário forte. O reformismo e as ilusões institucionalistas tendem sempre a desacreditar o poder de resistência e organização dos trabalhadores e apostar em saídas conciliatórias rebaixadas. Nesse sentido é fundamental a hegemonia operária, popular e revolucionária na resistência.

Queridos camaradas,

Espero ter contribuído e trazido um pouco das discussões e reflexões da minha organização para este importante evento.

Muito obrigado! Vocês não estão sozinhos!

Viva a FMJD! Viva a JCV! Viva o PCV!