Argentina: prioridade para o capital e evasão de impostos
“Quando a prioridade é o capital estrangeiro e a evasão de impostos, é muito provável que você vá matar, expropriar e condenar os de baixo”
A análise de James Petras, 27 de novembro de 2017.
O sociólogo norte-americano James petras, em sua coluna de análise internacional na CX36 se referiu à situação vivida na Argentina pelo submarino perdido. “É incrível que um presidente possa encobrir a falta de reparos, condenando à morte os marinheiros por um acidente que poderia ter sido evitado se os oficiais tomassem conta. Porém, quando você está preocupado com os banqueiros de Washington e com os políticos que visam capitais estrangeiros e lugares para esconder o dinheiro, quem pode se preocupar com o que acontece com os marinheiros no mar?”.
James Petras também fez referência ao que chama de OTAN árabe: “É uma reunião de ditaduras corruptas que se intitulam árabes, porém servem aos interesses dos Estados Unidos e Israel”.
A seguir, transcrevemos a análise que você pode voltar a escutar aqui: http://www.ivoox.com/james-petras-27-11-2017-audios-mp3_rf_22305772_1.html
Hernán Salina: Estamos estabelecendo contato com o sociólogo e professor estadunidense James Petras, como em cada segunda-feira, para sua coluna de análise internacional. Diego…
Diego Martínez: Sim, o contato, como você dizia, é com o sociólogo James Petras a quem agredecemos como sempre estes minutos.
Petras, que tal? Bem-vindo. Bom dia…
James Petras: Bom dia. Como estão? Tudo bem?
DM: Muito bem, obrigada.
Petras, existem vários temas que interessam e gostaríamos de conhecer sua análise. Um deles tem relação com a Argentina, já que existem duas informações importantes. Uma, vinculada ao submarino perdido e, a outra, vinculada à situação mapuche que, nas últimas horas, também gerou informação destacada.
JP: Poderíamos discutir as duas coisas porque se interligam com a política presidencial de Mauricio Macri. Não existe nenhuma consideração sobre os marinheiros perdidos e os oficiais do governo negam a realidade, como se fosse possível viver sem oxigênio por 11 dias. Algum milagre que Macri tenha sob o chapéu.
É incrível que um presidente possa encobrir a falta de reparos, condenando à morte os marinheiros por um acidente que poderia ter sido evitado se os oficiais tomassem conta. Porém, quando você está preocupado com os banqueiros de Washington e com os políticos que visam capitais estrangeiros e lugares para esconder o dinheiro, quem pode se preocupar com o que acontece com os marinheiros no mar?
Poderíamos dizer outra coisa. Com relação aos mapuches, é parte do projeto do governo deslocar os mapuches para exportar os produtos e vender os territórios, para que os grandes capitais estrangeiros – como Benetton – possam continuar tomando as terras e exportando as riquezas para fora do país.
As coisas estão ligadas, como disse, quando a prioridade é o capital estrangeiro, a evasão de impostos e a busca por formas de enganar o povo, é muito provável que você vá matar, expropriar e condenar os de baixo.
DM: Bem.
Petras, fala-se da possibilidade de muitas forças internacionais participarem em conjunto das buscas, algo que é chamativo, de se unirem. Dada a situação mundial, pensa-se na união de forças da Rússia com as dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
JP: Sim, porém todos estão em busca de algo que não existe. Eu creio que todos vão com boa intenção. Talvez em alguns casos, como o dos Estados Unidos, obviamente, como têm a subordinação da Argentina e têm tropas lá, bases militares, têm a obrigação. E é preciso se perguntar sobre a presença norte-americana, se tem relação com o desparecimento do submarino. Descuido é o problema ou existe algo mais por trás do que está acontecendo?
A Rússia e outros países prestam algum apoio, porém é tarde e perderam. O melhor é que digam a verdade, que os chefes da Marinha estão escondendo a realidade. Estão mortos, não se pode viver 11 dias sem oxigênio. Porém, tentam esconder a verdade porque os culpados estão na alta cúpula e o presidente deve assumir a responsabilidade.
DM: Bem.
Mudando de cenário… Petras, há muito tempo, creio que desde a campanha, existe um enfrentamento entre Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, e a CNN. Nas últimas horas, tive a sensação de que essa situação recrudesceu, pode ser?
JP: Sim. Eu acredito que não parou. A imprensa está a favor dos golpistas capitalistas por um lado e Trump apoia o outro. É uma guerra de publicidade, de propaganda que não possui muita importância para o povo. Creio que as duas coisas, na imprensa, os meios de comunicação e Trump, ambos estão lavando as roupas sujas e é o único ponto positivo nisto. Cada qual acusa o outro. Alguns em colaboração com a Rússia, os outros metidos em escândalos para favorecer a guerra fria.
Então, é difícil dizer quem é o pior dos dois, a imprensa e os meios de comunicação ou o presidente Trump. As duas coisas são prejudiciais para o povo. Visam cortar impostos, alguns mais e outros menos, porém os beneficiários são os bilionários. Não vamos receber nenhum benefício com o corte de impostos nem com os escândalos sexuais. Ambas partes têm as mãos sujas.
E outra coisa é que a corrupção do sistema político norte-americano e o sistema dos meios de comunicação aproveitam seu poder para tentar violar as mulheres que buscam trabalho, buscam postos, buscam melhorar a vida. É uma decadência total da corrupção do sistema político e dos meios de comunicação dos Estados Unidos.
Toca a todos, todos são afetados. Até agora ninguém foi acusado pela violação que poderiam utilizar neste momento.
DM: Bem. Por último, quanto aos temas que nós queríamos apresentar, James, é sobre uma reunião de 41 Estados – 40 na realidade, porque o Qatar não participou – integrantes de uma aliança árabe chamada de OTAN árabe para coordenar supostamente a luta contra o terrorismo.
Como se analisa esta situação em um encontro onde não estão, tampouco, participando Irã, Iraque ou Síria?
JP: É uma reunião de ditaduras corruptas que se intitulam árabes, porém servem aos interesses dos Estados Unidos e Israel. É o que poderíamos chamar de Troika, os Três Patetas, Arábia Saudita – Estado Unidos – Israel, que são os apoiantes do terrorismo, são ditaduras e buscam guerras. Os 3 encabeçando esta reunião, com a presença da Arábia Saudita, porém atrás estão os Estados Unidos e Israel.
Buscam alguma forma de unir forças contra o Irã, porém a Arábia Saudita não tem nenhuma força própria, não tem nenhuma capacidade militar e economicamente existem limitações. Como o Irã tem relações com o Japão, Coreia do Sul, China e outros países, como a Rússia, não tem nenhum medo das ameaças dos sauditas. Igualmente, o Iraque, a Síria, o Hezbollah e os outros inimigos da ditadura e dos governos corruptos.
Agora existe um escândalo na Arábia Saudita entre os príncipes. Um está roubando o outro, acusando-o de corrupção, enquanto enchem seus bolsos com as indenizações que estão pedindo.
Não devemos levar a sério o que chamam de OTAN árabe, nem é árabe nem é OTAN. É simplesmente um caudilho ditador, como o é o Sr. Mohamed bin Salman. É uma situação um pouco de circo ridículo. Creio que não os veremos mais na história.
DM: Bem, Petras. Como sempre, deixamos um espaço para os temas que você esteja analisando, que esteja trabalhando atualmente…
JP: Bom, quero expressar meu grande apreço e respeito a Armando Hart, recentemente falecido. Era meu amigo desde os anos 60, há mais de 50 anos, e era ministro de Cultura em Cuba. Um grande teórico, um grande historiador, um grande intelectual e um grande revolucionário.
Segundo, quero citar o fato de que nos Estados Unidos, por dia, morrem 100 pessoas proveniente do uso de opiáceos. Recebem receitas dos médicos, os farmacêuticos os produzem e os curas dão a bênção no funeral. É um terrivel exemplo da decadência do capitalismo. As principais farmacêuticas estão manufaturando ópios, os médicos, as clínicas e hospitais estão prescrevendo a receita e os trabalhadores estão sofrendo as consequências. Mais de um milhão de operários não recebem tratamento médico. 1 em cada 5 não tem dinheiro para entrar no hospital e sofrem com as pílulas para melhorar as dores.
E, finalmente, temos o caso dos candidatos violadores de mulheres. O Sr. Roy Moore, candidato ao Senado por Alabama, acusado por meia dúzia de mulheres, que na época eram adolescentes, algumas menores de 14 anos, está tentando vencer com o respaldo do presidente Trump. E isso é simplesmente mais um exemplo da decadência dos Estados Unidos: um candidato violador de meninas é o principal apoio dos governantes do país.
Com isso, quero terminar dizendo que devemos buscar opções para além dos candidatos oficiais de qualquer maneira.
DM: Muito bem, Petras. Como sempre, agradecemos o contato, a informação e a análise. Mandamos um forte abraço para você. Na próxima segunda-feira, voltamos a estabelecer contato.
JP: Um abraço para vocês. Aproveitem o verão, pois aqui estamos congelados.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)